8 1⁄2 Festa do Cinema Italiano: A Selecção de Itália
A 9ª edição, do 8 1⁄2 Festa do Cinema Italiano regressa a Lisboa, de 30 de março a 7 de abril ao Cinema São Jorge, ao Cinema UCI – El Corte Inglês e à Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, mas depois vai continuar por todo o País e algumas capitais lusófonas.
São 40 filmes muitos acompanhados pelos seus respectivos actores, realizadores ou produtores, que incluem nove antestreias nacionais, seis filmes em competição, curtas-metragens, documentários, programação infantil, e ainda um programa dedicado à música, literatura, cultura e gastronomia italianas.
Mais uma vez a Festa apresenta uma panorâmica do melhor do cinema italiano contemporâneo, comercial e de autor, e um olhar retrospetivo aos grandes mestres do passado, com destaque para a retrospectiva dedicada ao realizador Ettore Scola, falecido há pouco mais de umas semanas, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.
O filme de abertura da Festa será Conto dos Contos (Tales of Tales) de Mateo Garrone, que conta com um cast de luxo: Salma Hayek, Vincent Cassel, Toby Jones, John C. Reilly e Alba Rohrwacher, que esteve em competição no último Festival de Cannes. Neste filme o realizador reinventa alguns dos contos da obra de Giambatista Basile, escrita em língua napolitana na primeira metade do século XVII, dando vida às atmosferas mágicas e às suas inquietantes personagens.
A secção Panorama apresentará ainda Mergulho Profundo, a última obra do realizador Luca Guadagnino (Eu sou o Amor) com Tilda Swinton, Ralph Fiennes e Dakota Johnson, um thriller melodramático ambientado numa ilha vulcânica do mediterrâneo, e um remake de A Piscina (1968), de Jacques Deray, com Alain Delon e Romy Schneider. Além destes títulos, seguem-se outros que descrevem a dura complexidade da Itália contemporânea: Non essere cativo, filme póstumo de Claudio Caligari, realizador de culto que, a partir do início da década de 80, continuou o percurso de pesquisa marginal da Cidade Eterna, explorado por Pier Paolo Pasolini. Ainda Roma e os seus jogos de poder, política, mafia e corrupção são mostrados com tons negros em Suburra de Stefano Sollima, co-realizador da aplaudida série televisiva, Gomorra, A Série.
A secção Competitiva mostra igualmente a vitalidade de um novo cinema italiano que aborda o real de diferentes pontos de vista: A Espera de Piero Messina, um diálogo íntimo entre duas mulheres que aprendem a conhecer-se partilhando a mesma ausência e dor, tendo como protagonista Juliette Binoche; Witz, Pecore in erba, um filme de Alberto Caviglia sobre o anti-semitismo, mas com uma comicidade inteligente e no estilo mockumentary; Lo Chiamavano Jeeg Robot de Gabriele Mainet, um filme de culto em Itália que mistura o cinema de género italiano com a banda desenhada japonesa, e que conta a história de um super-herói radioativo da periferia; ou Banana de Andrea Jublin, um filme agridoce de uma sincera adolescência.
Na secção Amarcord, o destaque é para a homenagem ao mestre Ettore Scola, com uma seleção das suas obras como Feios, Porcos e Maus, e menos conhecidas como O Terraço e em filmes onde trabalhou como argumentista, como por exemplo Il Sorpasso de Dino Risi. Esta mesma secção apresentará ainda a nova cópia digital de um dos filmes italianos mais amados de sempre, vencedor de três Óscares, A Vida é Bela de Roberto Benigni. Mantém-se a habitual secção dedicada às curtas-metragens (Il Corto) – género que continua a ser um observatório privilegiado sobre os novos rumos do cinema em Itália.
Haverá também uma série de sessões especiais, com filmes como Bagnoli Jungle de Antonio Capuano, um filme de extrema liberdade que nos mostra uma Nápoles com uma humanidade tenra e niilista, contada com enorme vitalidade entre comédia e tragédia. E uma oportunidade ainda para descobrir os tesouros de Florença e as obras-primas do Renascimento através das famosas galerias Ufzi em Firenze e gli Ufzi, un viaggio nel cuore del Rinascimento, de Luca Vioto, mais do que um documentário, uma experiência multimedia. E ainda a antestreia de Estrada 47, do realizador brasileiro Vicente Ferraz, sobre uma história verídica do Corpo Expedicionário Brasileiro, nas montanhas italianas durante a 2a Guerra Mundial. Espaço igualmente para alguns documentários dedicados à presença italiana em Portugal, como Rua da Saudade 22, que traça um itinerário a posteriori do escritor Antonio Tabucchi, através das palavras de amigos, colegas e familiares.
O festival, encerra com um grande sucesso de público e crítica em Itália, o ano passado: a comédia Quo vado? de Gennaro Nunziante, interpretada por Checco Zalone, um dos mais populares atores cómicos italianos da actualidade.
Além da programação cinematográfica, espaço ainda para encontros literários, musicais e eno-gastronómicos dedicados a aspetos menos conhecidos da cultura italiana e às suas relações com o mundo português: é o caso do espetáculo de palavras e música José e Davide de Mauro Carrero, realizado a partir de um guião inédito do escritor Beppe Fenoglio. O público mais jovem tem igualmente relevo nas sessões de I Piccolini, com destaque para a estreia do filme Pinóquio, de Enzo d’Alò.
A Festa, estreia ainda nos cinemas UCI uma nova cópia restaurada do filme ao qual o festival deve o nome: 8 1⁄2, de Federico Fellini, a 31 de março que será acompanhada pela exposição ‘8 1/2: A Viagem de Fellini’, que reúne fotos de cena do filme da autoria de Gideon Bachmann. E para homenagear o grande Fellini nestes dois momentos, vai estar na Festa, Gianfranco Angelucci, amigo e colaborador do mestre durante mais de vinte anos.
JVM