Top 10 cinema italiano | 9. Eu Sou o Amor
Eu Sou o Amor de Luca Guadagnino é uma obra de espetacular magnetismo, que seduz a sua audiência com a sua montanha russa de hedonismo e descomprometida paixão.
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Título Original: Io sono l’amore
Realizador: Luca Guadagnino
Elenco: Tilda Swinton, Edoardo Gabbriellini, Marisa Berenson
2009 | 120 min
Eu Sou o Amor foi um projeto desenvolvido pelos frequentes colaboradores Luca Guadagnino e Tilda Swinton durante vários anos até que finalmente viu a luz do dia em 2009, aquando da sua estreia no Festival de Veneza. Nesta obra, Swinton, num registo rígido de constante severidade performativa, interpreta Emma, uma mulher russa que se encontra casada com um dos filhos da poderosa e abastada dinastia Recchi, magnatas da indústria têxtil italiana. Durante o final do milénio, a empresa da família passa para as mãos do marido e filho de Emma, e a introdução de um jovem chef, amigo próximo do progénito da protagonista, leva a uma inesperada tempestade emocional na vida desta expatriada russa.
Emma é assim uma mulher subserviente ao poder paternalista da sua família que, ao longo do filme, vai desabrochando como uma flor abençoada com o sol, sendo que aqui, ao invés do astro, a nossa protagonista é iluminada pelo êxtase do prazer, em todos os sentidos que Guadagnino consegue sugerir e capturar com a sua câmara. Consequentemente, esta não é uma obra que privilegia enredo e o convencional desenvolvimento psicológico das suas personagens, preferindo hipnotizar a sua audiência com um espetáculo estilístico que é paradoxalmente melodramático e friamente distante. Eu Sou o Amor deixa-se levar pela simples observação de como um ser humano se integra visualmente na arquitetura à sua volta, no luxuoso requinte de um vestido, ou na luxuriante delícia de um prato de marisco, utilizando a sua hiperbólica formalidade para tornar tal glória gastronómica numa experiência tão ousadamente estilizada, que parece um ato de êxtase religioso.
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Guadagnino e o diretor de fotografia Yoric Le Saux constroem uma orgia visual, onde a câmara se move com uma ensandecida liberdade, voando pelo espaço num frenesim que, mais do que visualizar os epítetos emocionais das personagens, parece ativamente influenciar a história com a sua descarada exuberância, como que desafiando os humanos a rivalizarem a sua majestade. Isto nunca é mais explícito que nos últimos dez minutos de Eu Sou o Amor, em que, de um melodrama operático, Guadagnino com o apoio da música de John Adams, transmuta o filme numa verdadeira ópera cinematográfica, como que explodindo o edifício narrativo numa final apologia por desmesurada e não modulada grandiosidade, dando a impressão que, no seu frenesim, a sua obra está a ter um orgasmo estilístico.
Na próxima página, não é uma apaixonante ópera o que te espera, mas sim uma austera representação do vazio da existência contemporânea.
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