6º TalkFest | À conversa com Ricardo Bramão

Nos próximos dias 9 e 10 de Março, vai decorrer o 6º Talkfest – International Music Festivals Forum em Lisboa. A 16 de março, a 2º edição dos Iberian Festival Awards, vai realizar-se em Barcelona, para premiar a indústria dos festivais de música. Para saber tudo sobre os dois eventos, fomos falar com o Ricardo Bramão, director do Talkfest.

Talkfest-Ricardo Bramão

O 6º Talkfest – International Music Festivals Forum vai receber em Lisboa a indústria nacional e internacional dos grandes concertos e festivais de música. No Museu das Comunicações, vai haver conferências, apresentações, seminários, uma feira de emprego, documentários, concertos (estes no Musicbox e no Starway Club), com o objetivo de se criar mais ferramentas técnicas e capacidade de comunicação entre os profissionais da área e sobretudo potenciar o networking ibérico.

Para além de oradores internacionais, como Thomas Jensen (diretor do Wacken Open Air) e o reconhecido crítico musical espanhol Enrique Helguera de la Villa, o evento contará ainda com  diversos conferencistas nacionais de referência. Este evento terá continuidade a 16 de Março, com a cerimónia dos 2º Iberian Festival Awards no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, prémios que pretendem reconhecer todos os players, da indústria dos festivais de música de Portugal e Espanha. 

Ricardo Bramão, fundador e presidente executivo da APORFEST – Associação Portuguesa Festivais de Música, diretor do Talkfest – International Music Festival Forum, e autor do estudo ‘Perfil do Festivaleiro Português e Ambiente Social em Festivais em Portugal’, (2016, 4ª Edição), fala-nos desta iniciativa e do setor da indústria da música em Portugal.

Talkfest

‘…se a imprensa toda nos trata assim ‘o festival dos festivais’, então é porque somos.’

Vendo bem o Talkfest é uma espécie de festival dos festivais?

No início não gostávamos dessa determinação, mas de facto se a imprensa toda nos trata assim ‘o festival dos festivais’, então é porque somos. Quando não podes vencê-los junta-te a eles. Mas acabam por ter razão.

Nos dias 9 e 10 de Março o Talkfest centra-se em dois dias de conferências, troca de impressões entre profissionais. Este evento é dedicado exclusivamente a profissionais ou igualmente ao público em geral?

O Talkfest é essencialmente para profissionais. Temos dois tipos de público: os profissionais activos, e depois os não-activos, isto é que têm um emprego principal e que querem entrar nesta área a curto prazo, ou seja estudantes, empreendedores, pessoas em geral que se interessam por esta área. Portanto o evento não pode estar fechado a estas pessoas, porque podem ser determinantes nesta indústria. Já tivemos vários casos em anteriores edições do Talkfest de pessoas que foram ali absorver competência, gerar networking (contactos) e depois lançaram-se neste trabalho.

O que é discutido e abordado no Talkfest? Por exemplo fala-se de áreas como a limpeza dos recintos?

São todas as áreas de conhecimento no que diz respeito à organização de festivais. Este ano não vamos falar da limpeza dos recintos de um modo puro e duro, porque é difícil colocar as mesmas temáticas todos os anos.

Mas a temática ecológica e ambiental é importante não acha?

Sim. Já falamos várias vezes da temática ecológica em outras edições do Talkfest, como no ano passado. Este ano volta a ter uma apresentação profissional e mesmo nas conferências principais. Este ano vamos por exemplo falar de terrorismo e violência sexual. Este é um dos temas mais importantes e que nos preocupa.

É curioso aparecer no programa este tema do terrorismo e violência sexual no contexto dos festivais. Em que contexto este tema é igualmente importante para os festivais?

É de todo importante. Têm acontecido vários problemas associados a esta temática pelo mundo inteiro. De facto em Portugal, aliás como as drogas, não somos felizmente um País com problemas sérios nesta área. Mas convém fazer prevenção.

Talkfest-Ricardo Bramão

‘Já aconteceram atentados terroristas em festivais de música no centro da Europa…’

Relativamente às drogas estou a lembrar-me do último Boom Festival, ter havido alguns problemas com as drogas…

Pois porque só o Boom Festival e o Rock in Rio têm uma verdadeira dimensão internacional.

E os grandes festivais portugueses como o Super Bock, Super Rock ou Meo Alive, não são grandes produções?

Claro que são grandes produções, mas mais dirigidas ao público nacional. Mas uma estrutura verdadeiramente de grandes dimensões e de público internacional só mesmo esses dois festivais o Boom Festival e o Rock in Rio. Arrastam público de todo o mundo. Por isso correm mais o risco de trazerem esses problemas.

E em relação ao terrorismo, porque vos preocupa este tema?

Já aconteceram atentados terroristas em festivais no centro da Europa, na Alemanha (no Festival de Música em Ansbach, perto de Nuremberga em 2016), e também na Suécia, Finlândia, Noruega. Mas não só de terrorismo, há também casos de violência e assédio sexual sobre mulheres, em alguns festivais. E depois culpabiliza-se os refugiados. Portanto queremos saber o que está a ser feito, e como nos prevenir perante esta nova dinâmica mundial. Como os festivais de música são um alvo-potencial, reunimos para falar desta área especialistas e não especialistas de forma a gerarem novas ideias para combatermos estas questões.

Até agora falámos, basicamente das conferências. Mas vão acontecer mais coisas no Talkfest nos dias 9 e 10 de Março. Que eventos destacava para os profissionais e para o grande público?

Para o público em geral temos as Night Sessions (primeiro no Starway Club e depois no Musicbox), no final do dia e já fora do horário laboral (21h-23h). No primeiro dia, com um tributo, o documentário Enterrado na Loucura — Punk em Portugal 78-88, que percorre a história do punk português e depois um concerto. No segundo dia como já é norma do Talkfest, o encerramento acontecer no Musicbox, com três banda: Throes + The Shine, que estão a ter um grande reconhecimento internacional. São uma espécie de Buraka Som Sistema, mas numa outra forma de ouvir o kuduro, talvez até mais ‘dançável’, e mais europeia, mas não fugindo às raízes africanas. Depois há o Maze, que foi um dos elementos fundamentais dos Dealema, e por último os Ditch Days. Vai ser uma mescla de novo rock, hip hop, e electrónica que tem resultado muito bem nas edições anteriores.

Afinal as conferências, as apresentações profissionais são abertas ao público?

Interessam obviamente mais aos profissionais, mas são abertas ao grande público.

Nestas apresentações profissionais há aqui uma sobre a sustentabilidade nos festivais de música…

Há um projecto da SGS Portugal, uma empresa que certifica várias áreas e que quer certificar também a área de eventos. Fizeram estudos-piloto em quatro festivais portugueses, em parceria com a Aporfest e vão ser apresentados os resultados, sobre as boas-práticas desses festivais, o que é preciso fazer, ou seja os pontos fortes e os pontos a melhorar. A sustentabilidade é um ponto muito forte para nós e começam a haver algumas acções como por exemplo os copos recicláveis como este aqui. Esta ideia começou no Talkfest 2012, onde ainda ninguém utilizava este copos e nós mal os conhecíamos. Com a chegada das grandes marcas a apoiarem esta área, tornaram-se comuns.

Talkfest-Ricardo Bramão

‘Ninguém precisa de ser associado da Aporfest, para ir ao Talkfest ou às nossas acções formativas.’

Falamos da Aporfest, que reune os festivais de música em Portugal. Porque nas apresentações profissionais não estão representantes das duas grandes empresas portuguesas: Música no Coração e Everything is New?

Não queremos repetir convidados ou sempre as mesmas pessoas. Tivemos a Roberta Medina (Rock in Rio), pela primeira vez, o Álvaro Covões já participou duas vezes, e o Luis Montez, uma vez.

Eles são membros da Aporfest?

Os últimos dois não são. Já vieram às nossas acções formativas, mas não são associados. E não têm de ser para participarem, apesar de ter-mos, cerca de 276 associados. Não falamos em termos individuais, mas de entidades: municipios, promotores de festivais, investigadores, universitários. Temos os festivais de Sines, Loulé, Faro, Águeda, Almada, municipios que são muito importantes na área dos festivais de música. Ninguém precisa de ser associado da Aporfest, para participarem no Talkfest ou nas nossas acções formativas.

No programa do Talkfest há também uma componente académica e cientifica importante?

Sim. Por exemplo as marcas sabem que nos festivais estamos mais descontraídos e mais receptivos. Por isso as marcas acham que gastam menos em apoiar um festival do que fazerem publicidade. É uma métrica simples. Nas apresentações cientificas, uma das secções que foram inseridas há menos tempo no Talkfest, dão-nos pontos de análise actualizados, sobre esta área: por exemplo perfil de público, comportamento das marcas, comunicação. Vamos anunciar por exemplo o nosso estudo de 2016 sobre o perfil do festivaleiro, isto é quanto gasta em média num festival, qual a sua remuneração média, que faz no festival, quantas horas lá permanece, o que consome, como é que acede, quais os festivais que prefere….? Mas em todas as outras apresentações há casos específicos, como por exemplo o turismo cultural, voluntariado, promoção, media. Não havia dados sobres estas questões e nós demos voz a isso.

E sobre o programa de documentários, que destaca?

Queremos mostrar tudo aquilo que está associado à área dos festivais de música como um todo. Nas primeiras edições apostámos muito nos documentários internacionais. Agora queremos mostrar o que é feito a partir de cá. Vamos ter vários documentários nacionais, um deles é The Isle of Freedom, (realizado pelo António Almeida) sobre Sziget Festival, (Hungria), um dos maiores festivais da Europa. É uma estreia absoluta no Talkfest e depois vai andar por aí em outros festivais. O filme acompanha a jornada dos portugueses no festival, o público, as bandas e foi feito com o nossos apoio, e por isso vai ser naturalmente estreado no Talkfest. Queríamos que este tipo de documentário se estendesse igualmente aos festivais portugueses.

A 16 de Março em Barcelona e com ligação ao Talkfest, vai realizar-se o Iberian Festival Awards. Do que se tratam estes prémios?

É já a segunda edição, o ano passado realizou-se em Lisboa.  O vencedor foi o Primavera Sound de Barcelona. O de média dimensão foi o Bons Sons (de Cem Soldos, Tomar) de Portugal.

Estes prémios são só para os festivais ibéricos (Portugal e Espanha)?

Exactamente. Premiamos festivais, artistas, marcas, prestadores de serviços…

E porque só estão os festivais dos dois e não de outros países europeus?

Porque já existem prémios europeus para os festivais sobretudo no Reino Unido e já estamos nessa rede. Havia uns prémios portugueses e outros espanhóis, mas o nosso objectivo foi agregar a indústria à volta do Talkfest, e criar estes prémios ibéricos, até porque tanto para os festivais portugueses com espanhóis as possibilidades de ganharem internacionalmente prémios são muito reduzidas dado as dimensões de alguns festivais europeus. A competitividade é muita, e assim  criamos mais um ponto de reconhecimento e de ligação entre os festivais dos dois países.  Queremos que os festivais ibéricos se juntem, conversem para diminuírem custos, partilharem experiências, e torná-los mais competitivos com os do resto da Europa. Com os prémios temos sempre mais pessoas, e logo mais media.

Talkfest-Ricardo Bramão

‘Queremos que os festivais ibéricos se juntem, (…)  e torná-los mais competitivos com os do resto da Europa.’

Quais são os grandes convidados internacionais do Talkfest 2017?

Temos sempre grandes convidados internacionais, sobretudo directores de importantes festivais. Este ano vamos ter connosco o Thomas Jensen, director do Wacken Open Air (Gribbohm, Alemanha), um dos maiores festivais de heavy metal do mundo, que esgota sempre mesmo antes de sair o seu cartaz. Vamos ter igualmente o Enrique Helguera de la Villa (Rádio 3), um dos maiores críticos de música de Espanha, e diversos participantes internacionais a falarem e a lançarem as temáticas mais abrangentes, ligadas aos festivais de música. O Thomas vem falar do sucesso do seu festival que acontece numa aldeia, onde até as ourivesarias fazem uma chapa em ouro com ossos do crânio da vaca com os cornos, que é o símbolo do festival e onde tudo gira naquele lugar à volta desse grande evento. O Enrique é sem dúvida um dos mais reconhecidos críticos de música e terá muito para contar a propósito de redes e parcerias entre os promotores ibéricos de festivais.

O Talkfest vai realizar-se nos dias 9 e 10 de Março no Museu das Comunicações em Lisboa, com entradas gratuitas ou pagas?

Com entradas pagas, mas a um preço muito reduzido. Começou com vendas antecipadas de 30€ e agora custa 40€. Isto para dois dias, com direito a certificado de competências, catering, coffee breaks, e com tudo o que é possível absorver de conhecimento nesta área ao longo de dois dias. Chamo a atenção é para que não vai ser possível ver toda a programação, as pessoas vão ter que fazer as escolhas que mais lhe interessam, porque vão acontecer apresentações em simultâneo nas quatro salas. É na verdade uma programação muito intensa.

JVM



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