Pan: Viagem à Terra do Nunca, em análise
Mais um Peter Pan, desta vez dirigido por Joe Wright de Orgulho e Preconceito (2005), Expiação (2007) e Hanna (2011).
Peter Pan não é exclusivamente uma daquelas personagens que sempre encontra forma para regressar aos cinemas. No seu caráter infanto-juvenil é ilustre exemplar do principal objetivo da sétima arte, a juventude eterna. Central nas adaptações – a primeira da Disney de 1953, Hook (1991) ou ainda Peter Pan (2003) – são os atores que o encarnam, mas nenhum deles fê-lo de forma tão honesta como agora Levi Miller.
O ator de 12 anos estreia-se no cinema pelas mãos do realizador Joe Wright, tal como Saiorse Ronan se deu a conhecer em Expiação (2007) – de recordar que foi nomeada ao Óscar de melhor atriz secundária. Wright é um perito no trabalho com jovens, contudo Miller não é suficiente para manter este Pan: Viagem à Terra do Nunca nas nossas memórias. Ainda que a expressividade, em close-up, do Escolhido permita esquecer que este é um filme de indústria, não há tensão dramática prolongada, que consiga gerar um pequeno número de emoções. Só mesmo as crianças poderão ser deliciadas com tanta magia CGI. Chegando a queimar o olhar, o uso da tecnologia 3D explode, sem o mesmo tom de excelência de filmes do género como Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton.
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Além disso, a escolha de Rooney Mara para o papel de princesa tribal, como a própria já veio lamentavelmente confirmar, não foi bem sucedida. Mas contradiz-se, através da química romântica com Garrett Hedlund, o Capitão Gancho. Mesmo em tão burlesco guarda-roupa – prova que nem sempre o excêntrico é sinónimo de elegante -, Hugh Jackman, como Barba-Negra, dá azo à sua versatilidade. A participação especial de Cara Delevingne é dispensável, bem como a presença de Adeel Akhtar como o irritante Smiegel.
De forma impaciente, tudo parece transpirar no ecrã, em sonantes tic-toc’s de uma bomba-relógio. Porém, a chegada à Terra do Nunca proporciona uma das cenas que será, sem hesitação, passível de debate. Nela, o aglomerado de mineiros, canta Smells Like Teen Spirit, dos Nirvana. E o seu refrão ecoa enquanto estamos sentados em tão confortáveis cadeiras. De facto, “Here we are now, entertain us” reflete, quase em mise-en-abyme, o caminho que o cinema tem optado nesta era digital. O mesmo expõe-se na música da banda Ramones, Blitzkrieg Bop, com o seu repetitivo verso “Hey Ho, let´s go”.
Clichés atrás de clichés, é contada uma mentira, porque os adultos e, por coincidência os cineastas, são experts nesse ato. A certo ponto, uma das personagens relembra que a nossa casa é onde nos instalamos. A expressão revela-se fundamental para entendermos a relação do espetador com o encadeado de imagens. Acreditamos no espaço cinematográfico, que de quaisquer das formas transporta-nos, em conjunto, para aquele lugar onde domina o impossível. Quer queiramos quer não, compomos a audiência de crianças perdidas, voamos naquele ambiente até que no fim, nos dissolvemos na imagem.
VJ
Pan: Viagem à Terra do Nunca | 15 de outubro nos cinemas
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