O vestuário de Rogue One | O diretor Orson Krennic
O mais memorável figurino de Rogue One é a vistosa capa branca de Orson Krennic, uma figura destinada a ser tão lembrado e celebrado como tantas outras personagens desta saga.
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[EXISTEM ALGUNS SPOILERS NESTA PÁGINA!]
A primeira vez que as audiências têm oportunidade de admirar o principal antagonista de Rogue One, ocorre logo nos primeiros minutos do filme. Durante o trágico prólogo, vemos como a nave de Orson Krennic rasga a paisagem natural como uma ave de rapina metálica. Assemelhando-se ao seu veículo espacial, este odioso imperialista caminha em direção a Galen Erso flanqueado por um pelotão de ameaçadores death troopers. Aí, a brancura das suas vestes, contrastada com o negro das armaduras militares da sua guarda, corta a harmonia visual do ambiente envolvente, como uma faca a atacar uma pintura a óleo sem piedade.
Este esquema cromático, de uma figura em branco clínico ladeada por figuras de preto, é um curioso reverso de uma das mais icónicas imagens da saga Star Wars. Falamos, evidentemente, de Darth Vader a entrar à força na nave de Leia Organa no princípio de Uma Nova Esperança, acompanhado de uma equipa de stormtroopers. Quando, num dos melhores momentos de Rogue One, as duas personagens se encontram, essa dicotomia entre dois homens de capa e em cores sólidas torna-se ainda mais evidente.
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O que esse momento também evidencia é quão patético Krennic é quando colocado em comparação direta com a majestosa presença de Darth Vader. Estando de preto, e iluminado com um esquema de luz intensamente teatral, o Jedi convertido em Lorde Sith parece uma manifestação humanoide das próprias trevas enquanto Krennic pouco mais parece que um peixe fora d’água. Por momentos, a sua capa de algodão branco, longe de o fazer parecer nobre e importante, parece frágil e marca a sua inferioridade, esvoaçando descontroladamente, enquanto o manto negro de Vader se mantém imóvel e o faz parecer uma estátua.
Originalmente, foi a intenção dos figurinistas trazer dramatismo e força à personagem de Krennic e o facto é que conseguiram isso mesmo, só que, pelo mesmo modo que o tornaram na figura mais memorável de Rogue One, também lhe conceberam a aparência de um burocrata pretensiosos a querer parecer mais importante que é. Neste caso, uma realidade não exclui a outra e, na mesma medida em que Krennic parece patético junto a Vader, a sua figura pode também parecer a de um anjo da morte quando confronta Galen Erso no meio de uma tempestade.
Há algo de enervante na perfeição branca da sua indumentária que, por muitos percalços que ele encontra, nunca apresenta qualquer mancha ou nódoa (foram precisas 12 cópias do figurino em contínua rotação e lavagem para que isto resultasse). Para além disso, quando colocado ao lado dos heróis de Rogue One, este vilão imperial é claramente o oposto diametral dos rebeldes. Jyn, Cassian e restante companhia usam andrajos em várias tonalidades de cinzentos e castanhos lamacentos, cheios de marcas de desgaste, detalhes idiossincráticos e um certo ar revolucionário inspirado em guerrilhas históricas e nos uniformes de soldados americanos tanto da 2ª Guerra Mundial como da Guerra do Vietname. Por seu lado, Kerric parece um Drácula Nazi que passou por uma lavagem de lixívia antes de entrar em cena.
Relativamente a aspetos de técnica e evolução, esta indumentária teve a sua origem num figurante do filme de 1977 que aparece na Estrela da Morte vestido num uniforme branco ou cinzento claro. A partir daí, os figurinistas copiaram as linhas bases do uniforme, incluindo as insígnias vermelhas e azuis, e acrescentaram as já mencionadas referências históricas, e o dramatismo vistosos de uma capa que causou muita inveja ao resto do elenco.
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Para o fato principal, que inclui a capa até ao chão, os materiais de eleição foram lá branca para o corpo principal do casaco e calças, e algodão leve para a capa, que assim ganha esvoaçante movimento ao mesmo tempo que se torna muito menos pesada que outras capas do franchise (Edna Mode choraria a ver a saga Star Wars). Para a segunda versão deste figurino, usada no exterior em conjunto com um chapéu militar, foi usado um tecido de gabardina e a capa diminui até às dimensões de um bizarro poncho.
Apesar da sua malvadez, o grande pecado de Orson Krennic na narrativa de Rogue One é a sua ambição desmesurada, reminiscente das grandes tragédias dos palcos. Indo buscar uma referência ao grande Bardo, Krennic, tal como Macbeth, é um homem que veste roupas demasiado grandiosas para a sua pessoa (um subtil apontamento caracterizante no texto Shakespereano), e, tal como o malfadado guerreiro escocês, essa peculiaridade estilística ilustra o caminho da sua perdição. No final, Krennic nunca é o poderoso e imparável monstro sugerido pelas suas roupas e o seu castigo é desferido precisamente pelo objeto da sua hubris.
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Nesta página falámos um pouco de Darth Vader, mas, para descobrires a discretas alterações sofridas pelo seu figurino clássico neste novo filme, terás de seguir para a próxima página. Não percas!