Top 2016 | Os 10 melhores guarda-roupas do ano
O annus horribilis de 2016 teve, por entre a sua desgraça, vários filmes espetacularmente bem vestidos, cujos guarda-roupas e figurinistas merecem ser celebrados.
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2016 foi um ano atroz em muitos sentidos, um verdadeiro annus horribilis cheio de incomensuráveis perdas no mundo das artes e da cultura, desastres naturais recorrentes e catastróficos assim como calamidades da esfera politica capaz de colocar qualquer humanista em lágrimas. No entanto, nada disso implica que o cinema tenha por conseguinte apresentado qualquer tipo de carência qualitativa, afinal é precisamente nos tempos de maior dificuldade que normalmente vemos a arte florescer com mais urgência. Tais considerações poderão, é evidente, parecer fúteis, mas estamos aqui para celebrar o positivo e o que de melhor se fez na sétima arte durante o ano de 2016, com especial foco no desenho de figurinos.
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Nos últimos anos, esta faceta da produção cinematográfica tem vindo a ganhar uma certa presença mediática, com grandes produções a assegurarem logo entrevistas dos seus figurinistas para revistas de cinema e moda como parte do plano promocional. Para muitas pessoas, no entanto, o figurinismo continua a ser pouco mais que a escolha de uns trapitos insignificantes para cobrir os atores em cena e sem grande qualidade que vá para além da vácua superfície. Nada poderia estar mais longe da verdade e nesta lista do top 10 dos melhores guarda-roupas do cinema de 2016, tentaremos enfatizar como o vestuário presente num filme constitui, por si mesmo, um discurso visual capaz de ilustrar, complementar ou mesmo contradizer a corrente temática e concetual de um filme que, vale a pena relembrar, é um objeto artístico que se apoia na expressão audiovisual e não somente no texto e na narrativa atuada.
Como critérios de escolha tentámos, como já foi apontado, escolher filmes cujos guarda-roupas apresentem interessantes discursos visuais a nível concetual e estético, que ajudem ao sucesso dos seus filmes ou mesmo que os salvem das profundezas da mediocridade. Em termos mais práticos, a nossa seleção recai exclusivamente sobre títulos estreados comercialmente em salas de cinema portuguesas em 2016, sendo que exibições em festivais e estreias diretamente para DVD ou streaming não irão ser consideradas. Ou seja, é com muita pena que avisamos que filmes como Absolutely Fabulous: The Movie e Personal Shopper não marcarão presença nesta listagem apesar da sua excelência ao nível da indumentária.
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Com tudo isto dito, antes de prosseguirmos para o nosso top 10, convém fazer referência a algumas menções honrosas que, por diferentes razões, acabaram por ficar de fora da nossa lista final apesar de fabulosos guarda-roupas. Começamos pelo tipo de filme que mais facilmente é associado a honras como prémios para “Best Costume Design”. Falamos, pois claro, dos filmes de época, ou costume dramas mais tradicionais, como Brooklyn, onde a figurinista Odile Dicks-Mireaux se inspirou na história da sua própria família para criar uma visão docemente nostálgica dos anos 50 dos dois lados do Atlântico. O filme protagonizado por Saoirse Ronan não teve a sorte de ser nomeado a este particular Óscar, mas Florence – Uma Diva Fora de Tom, ainda pode vir a ser consagrado com essa honra pelo seu igualmente primoroso guarda-roupa de época que mistura artifícios e absurdos teatrais com as excentricidades pessoais de uma série de coloridas personagens verídicas.
Outras possibilidades a considerar para os Óscares deste ano são Aliados, uma homenagem ao inebriante glamour dos anos 40 que vai buscar muita inspiração aos clássicos cinematográficos da época, e Café Society, um filme igualmente obcecado com a Hollywood de outros tempos, desta vez os anos 30, cujos figurinos trazem, no entanto, um toque de elegância moderna a silhuetas históricas. Outro maravilhoso guarda-roupa com o olho posto no passado histórico e outro na história do cinema foi o de Os Oito Odiados. No oscarizado western de Quentin Tarantino, o detalhe obsessivo dos figurinos, sua qualidade iconoclasta e miríade de deliciosas referências a clássicos do spaghetti western elevaram o filme e ofereceram um discurso visual despido da seriedade niilista do seu texto.
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Para além dos filmes de época, obras dentro dos géneros de fantasia e ficção-científica também costumam ter sucesso no que diz respeito ao reconhecimento e valorização dos seus figurinos tanto pelas massas críticas como pelo público geral. Em 2016, há que salientar os designs militaristas e subtis de Rogue One, onde a homogenia coletiva se impôs a mais tradicionais arquétipos visuais do herói singular. Para além dessa ópera espacial, não podemos falar de figurinistas no cinema de 2016, sem mencionar o quarteto de fantasias de grande orçamento que Colleen Atwood vestiu: O Caçador e a Rainha do Gelo, Alice do Outro Lado do Espelho, A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares e Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los. Estes dois últimos títulos merecem particular mérito pela sua construção de mundos entre a fantasia e a realidade histórica cheios de pormenores idiossincráticos que já são a imagem de marca desta popular figurinista.
Por fim, queremos salientar o trabalho dos figurinistas que, devido a trabalharem em narrativas contemporâneas, veem os seus esforços ignorados pelas associações de prémios e pelo próprio público que tende a confundir quantidade (e exuberância) com qualidade. O Caso Spotlight, por exemplo, foi um tremendo sucesso crítico mas, apesar disso, raras foram as vozes a celebrar os seus figurinos que são uma parte intrínseca da cuidada reconstituição jornalística e histórica do filme passado em 2001 e 2002. Também num registo de verismo naturalista e dos figurinos como meio de criar autenticidade temporal e geográfica, temos as precisas caracterizações de Love is Strange e American Honey. Neste último, há que referir como os jogos e combinações de cores apontam para algo mais lírico e expressivo que a crua reprodução da realidade.
Dentro do jogo de cores, no entanto, ninguém bate a expressividade operática de Julieta, o mais recente filme de Pedro Almodóvar, onde os figurinos trazem á narrativa a intensidade cromática de um filme de Douglas Sirk visto sob o efeito de drogas. Noutro panorama de estilização, temos os excessos de The Neon Demon, onde Hollywood e o mundo das modelos e da passerelle é apresentado como uma monstruosidade saída diretamente dos filmes giallo do cinema italiano de terror, onde o estilo desumano asfixia qualquer suspiro de humanidade e a mais pura inocência virginal é transmutada no grotesco feminino, sem sombras de vergonha ou pudor.
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Já te dissemos os filmes que não fazem parte da lista, mas e então quais são os 10 melhores guarda-roupas do cinema de 2016? Segue para a próxima página de modo a começar essa descoberta.