The Tragedy of Macbeth © Apple TV

A Tragédia de Macbeth, em análise

William Shakespeare é, sem dúvida, um dos maiores escritores e dramaturgos ingleses de todos os tempos. A história de Macbeth é apenas um dos muitos contos que inspiraram inúmeras peças de teatro, séries de TV e, claro, obras de cinema. Desde os filmes mudos e a adaptação de Orson Welles (1948) até à mais recente tentativa de Justin Kurzel (2015) em recriar a famosa tragédia, esta história Shakespeariana já foi contada uma e outra vez. Num trabalho a solo incomum, Joel Coen assume o comando daquilo que o cineasta confessa ser um projeto pessoal.

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Acredito firmemente que deviam existir mais filmes em preto-e-branco. Não consegui obter a oportunidade de ver este filme numa sala de cinema, mas assisti-o em casa nas melhores condições possíveis. Desde o quarto escuro ao ambiente silencioso, a minha “tela” de 55” nunca pareceu tão lindamente nítida. Por algum motivo, apenas oferece este nível de qualidade visual com filmes B&W – “O Farol” é outro excelente exemplo. Assim, chegamos rapidamente ao maior elogio que possuo para esta adaptação: “A Tragédia de Macbeth” é uma das definições mais puras de uma “obra-prima técnica”.

Todos os elementos audiovisuais transformam completamente esta peça da A24 / Apple TV+ numa visualização verdadeiramente cinemática. A cinematografia de Bruno Delbonnel (“A Hora Mais Negra”) é tão deslumbrantemente fascinante que ouso escrever que faz deste filme um dos mais bonitos do século. Atravessa aquela barreira que frequentemente deixa o “espetador comum” de fora do espetro de desfrutação ao ponto de literalmente qualquer pessoa (poder) sentir-se cativada e até hipnotizada pela qualidade visual impressionante. Alguns planos específicos provocam um interno, mas alto: “como raio é que fizeram esta imagem parecer tão bonita?!”.

Denzel Washington
The Tragedy of Macbeth | © Apple TV

A banda sonora assombrosa de Carter Burwell (“Três Cartazes à Beira da Estrada”) eleva a tensão que emana de cada diálogo, contribuindo para uma atmosfera geral imersiva. No entanto, é realmente o departamento de som que merece o elogio final. Mesmo em casa com as colunas internas de uma simples TV, a produção sonora cria sensações palpáveis. Personagens a dar passos pesados, portas a ranger, árvores e folhas a bater nas janelas… escrever isto só me deixa invejoso de todos os que tiveram a sorte de poder assistir a esta obra num cinema de verdade. Produção artística, guarda-roupa e cenografia são todos dignos de prémios, tal como qualquer outro elemento técnico.

Adicionalmente, “A Tragédia de Macbeth” também guarda prestações fenomenais por parte de todos os envolvidos, mas expetavelmente Denzel Washington (“As Pequenas Coisas”) e Frances McDormand (“Crónicas de França”) destacam-se. Não ficaria surpreendido se a atriz recebesse mais uma nomeação para Óscar, mas sendo justo, Washington prova estar num nível totalmente diferente neste filme. Ambos interpretam o diálogo Shakespeariano como se tivessem nascido durante o respetivo tempo, lidando perfeitamente com monólogos alongados, repletos com vocabulário complexo e formação de frases complicadas. Se as belas imagens não chamarem a vossa atenção, estas duas performances certamente o farão.

The Tragedy of Macbeth
Denzel Washington, “The Tragedy of Macbeth” | © A24

No entanto, apesar da realização robusta e única de Joel Coen (“A Balada de Buster Scruggs”), diferente do que os espetadores estão acostumados a ver dos Coen Brothers, esta versão da história de Macbeth não traz nada de novo para a mesa. Confesso que não sou o maior fã de adaptações de Shakespeare, mas esperava algo mais do que apenas outra recitação direta da narrativa bem conhecida. Os temas que envolvem ambição política, mentalidades sedentas de poder e as suas consequências físico-psicológicas foram já intensamente estudadas durante décadas, logo não tenho muito mais a acrescentar às infinitas teses sobre a tal história.

A TRAGÉDIA DE MACBETH | ESTREIA NA APPLE TV+ DIA 14 DE JANEIRO

A Tragédia de Macbeth, em análise

Movie title: A Tragédia de Macbeth

Movie description: Macbeth (Denzel Washington), obcecado pelo poder, vira os seus olhos para o trono escocês depois de receber uma profecia de três bruxas.

Date published: 14 de January de 2022

Country: EUA

Duration: 105'

Director(s): Joel Coen

Actor(s): Denzel Washington, Frances McDormand, Bertie Carvel, Alex Hassell, Corey Hawkins, Harry Melling, Brendan Gleeson

Genre: Drama, Mistério, Thriller

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  • Manuel São Bento - 75
  • Cláudio Alves - 85
80

CONCLUSÃO

“A Tragédia de Macbeth” é uma obra-prima técnica fascinante que podia ter beneficiado de uma versão mais distinta do conhecido conto Shakespeariano. Denzel Washington demonstra o seu talento insano, tal como Frances McDormand, mas o primeiro destaca-se claramente com uma prestação mais energética e cativante, alimentando-se de monólogos intrincados e excruciantemente longos, que podem muito bem resultar em mais uma temporada de prémios de sucesso. Joel Coen oferece uma realização ousada para uma narrativa nada surpreendente e demasiado familiar, mas a restante equipa técnica transforma um filme de streaming numa autêntica experiência cinemática. Com uma cinematografia das mais requintadas do século, Bruno Delbonnel eleva incrivelmente todos os outros componentes de filmmaking (som, guarda-roupa, cenários, produção artística), tornando esta obra numa visualização obrigatória, seja em casa ou, melhor ainda, no cinema.

Pros

  • Cinematografia de Bruno Delbonnel transforma o filme num dos mais bonitos do século.
  • Restantes elementos técnicos contribuem para exemplos de obra-prima nos campos respetivos.
  • Prestações hipnotizantes de Denzel Washington e Frances McDormand, especialmente a do ator.
  • Joel Coen, enquanto realizador, mostra um estilo diferente do habitual.
  • O simples facto de ser a preto-e-branco.

Cons

  • Narrativa demasiado familiar sem desenvolvimentos únicos ou surpreendentes.
  • Para espetadores sem um interesse particular em contos Shakespearianos, esta nova versão do conto de Macbeth não traz propriamente nada de novo.
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