Bruna Cusi é uma das protagonistas de "À Chegada". ©Cinema Bold/Divulgação

À Chegada, a Crítica | Saiba como viajar para os EUA sem ter problemas na alfândega?

“À Chegada”, (“Upon Entry” [“La llegada”]) uma primeira obra da dupla de realizadores espanhóis Alejandro Rojas e Juan Sebastián Vasquez é um filme baseado em testemunhos reais, que explora as dinâmicas de poder, intimidação e autoridade no processo de entrada nos EUA. Trata-se de um thriller político, kafkiano, cativante e atual, com uma inesperada reviravolta, que vai deixar os espectadores de boca aberta. Um filme aparentemente pequeno, mas que é um verdadeiro canhão de profundidade e entretenimento. Estreia a 10 de Abril nos cinemas.

Este “À Chegada”, um thriller realizado por Alejandro Rojas e Juan Sebastián Vasquez é mais uma prova de que o cinema espanhol está em alta (basta olhar para a colheita do ano passado), em todos os géneros cinematográficos. Apesar de várias produções do país vizinho, passarem quase despercebidas nos cinemas ou nem sequer aqui chegarem. Felizmente, temos o streaming ou os canais de cinema para lhes dar uma segunda vida ou outra oportunidade de serem vistas.

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Desta vez  é “À Chegada”, um dos thrillers espanhóis mais tensos de 2022, — mas apesar de tudo muito oportuno — que vai finalmente estrear esta semana nas salas de cinema, seguindo a 18 de Maio para o TVCine Edition e depois ficará disponível, certamente no streaming da Filmin, já que é distribuído pela Cinema Bold/Alambique Filmes.

À Chegada
Diego (Alberto Ammann, vimo-lo em “Narcos”), é um urbanista venezuelano. ©Cinema Bold/Divulgação

Um Filme Minimalista

“À Chegada” é à partida uma proposta que parece bastante minimalista: não tem um grande elenco, apenas alguns atores mais ou menos conhecidos, passa-se praticamente entre quatro paredes e tem uma hora e um quarto de duração. Porém, o suficiente para atingir todo o seu potencial dramático e de entretenimento. A ideia é muito simples, mas bastante eficaz. Parte de uma situação que todos nós já vivemos em algum momento de uma forma ou de outra: um certo nervosismo que sentimos, quando passamos na segurança aeroportuária, além de jogar com a empatia que este lugar-comum evoca para nos incutir uma certa tensão e fazê-la crescer à medida que a ação avança.


Ao Passar a Fronteira

Diego (Alberto Ammann, vimo-lo em “Narcos”), um urbanista venezuelano, e Elena (Bruna Cusi, Prémio Goya de Melhor Atriz revelação pelo seu papel no filme “Verão 1993”), uma bailarina de Barcelona, mudam-se para os EUA, com os vistos aprovados para começar uma nova vida. A sua intenção é progredir na carreira profissional e constituir família na ‘terra das oportunidades’. Ao entrarem na imigração no aeroporto de Nova Iorque, são levados para a sala de triagem secundária, onde são submetidos a um desagradável processo de inspeção por parte dos agentes alfandegários e a um interrogatório psicologicamente extenuante na tentativa de descobrir se o casal tem algo a esconder.

À Chegada
A dupla de interrogadores interpretados por Ben Temple e Laura Gómez. ©Cinema Bold/Divulgação

Um Argumento Kafkiano

Com este argumento tão simples, parece difícil de explicar como “À Chegada” se torna em 74 minutos de constante intensidade, suspense crescente, passados em espaços cinzentos irrespiráveis e numa história assente numa situação tensa ao estilo bem kafkiano. Por um lado, temos duas personagens vulneráveis, os dois jovens imigrantes legais (Ammann e Cusi); e por outro os dois duros interrogadores, quase cruéis, da alfândega do aeroporto de Nova Iorque (Ben Temple e Laura Gómez). Imediatamente as nossas simpatias vão cair obviamente sobre o jovem casal, à procura de uma vida melhor. Porém, aos poucos tudo assume novas nuances e a meio do filme, a situação vai inverter-se com uma inesperada reviravolta.

À Chegada
O casal de protagonistas um urbanista e uma bailarina são duramente interrogado. ©Cinema Bold/Divulgação

Uma Realização Concisa

Em “À Chegada”, a dupla Rojas e Vásquez, efetivamente encetam um trabalho de realização que é sem dúvida altamente calculado e planeado: um controle comedido do tempo, flutuações emocionais, ação não violenta e mais psicológica, mas tudo na medida certa. Contudo, o filme, é sustentado em grande parte pela extraordinária interpretação dos dois protagonistas (Ammann e Cusí) e dos dois interrogadores (Temple e Goméz); mas também por um escasso elenco de personagens secundárias, que vão circulando discretamente nas salas de controlo aeroportuários, cujo o tipo físico, étnico e comportamental, conferem ao enredo um toque de verosimilhança e autenticidade. O filme critica os padrões duplos das políticas de imigração e da burocracia americanas, mas também traça um retrato psicológico altamente interessante do casal principal, ao mesmo tempo que levanta questões como o quanto pensamos que nos conhecemos e ao outro.

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Um ensaio sobre o suspense

“À Chegada”, é um brilhante exercício de tensão, com um extraordinário argumento em que a  verosimilhança e o engenho fundem-se para dar origem a um filme e a um final absolutamente inesperado. Um filme pequeno, minimalista, despojado, mas que leva o espectador a partilhar as gotas de suor e a angústia que os protagonistas vivem naquela situação de quase limite. Notável!

JVM

A Chegada, a Crítica
  • José Vieira Mendes - 90

Conclusão:

“À Chegada”, uma primeira obra realizada pelos espanhóis Alejandro Rojas e Juan Sebastián Vasquez, é uma história que nos prende desde o primeiro ao último minuto. Trata-se de um surpreendente thriller aeroportuário, com cerca de 74 minutos, marcados por intensidade constante, suspense crescente, passado em espaços irrespiráveis e com situações tensas e kafkianas. Todos os méritos acima referidos ficariam diminuídos se não fossem apoiados por dois atores fabulosos: Alberto Ammann e Bruna Cusí estão à altura nos papéis principais, com interpretações contidas que captam o nervosismo crescente da situação, sem nunca cair no exagero. O filme em geral funciona quase como um relógio de precisão: consegue manter a tensão durante esses menos de uma hora e meia, sem também nunca sucumbir à tentação de quebrar a verosimilhança e autenticidade dos seus diálogos e das situações ou melhor de tudo o que gira à volta dos protagonistas. É sem dúvida uma das pérolas da produção espanhola de 2023, que além de uma lição de cinema de suspense sem violência física, é uma primeira obra absolutamente a não perder, nas salas ou no streaming.

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Pros

O melhor: As interpretações de Bruna Cusí e Alberto Ammann, provavelmente as melhores das suas carreiras, embora estas não sejam assim tão longas. Não esquecer também a precisão e autenticidade incrível do argumento. O final é absolutamente inesperado….

Cons

O pior: Não sendo, propriamente uma obra-prima, é daqueles filmes muito bem feitos que tem um bocadinho de todos os melhores ensaios sobre o suspense que já vimos no cinema. Não sei mesmo se isto pode ser considerado um defeito….



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