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A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas, a Crítica | Um regresso à Netflix que sabe a muito pouco

Os estúdios Aardman, míticos criadores no universo stop motion, estão de regresso com a sequela do seu maior êxito: “Chicken Run” (2000). Mais de 20 anos depois, podemos revisitar na Netflix Ginger, Rocky, Babs, Bunty e companhia em “A Fuga Das Galinhas: Estamos Fritas”. 

Estreado em Portugal a 15 de dezembro de 2023, “A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas” ou “Chicken Run: Dawn of the Nugget” surge como a continuação de um novo capítulo. Com a parceria de produção entre a Netflix e a Aardman, a casa mais conceituada de animação em stop motion continuará a produzir obras para o streaming e a próxima etapa é já uma nova aventura “Wallace&Gromit” (com co-realização de Nick Park) a ser lançada em 2024.

UMA SEQUELA PARA LÁ DE ANTECIPADA

Chicken Run 2023
©Aardman / Netflix

Contudo, aqui torna-se desde logo imperativo perguntar: será que o clássico original “A Fuga das Galinhas”, co-escrito e realizado por Nick Park e Peter Lord, precisava mesmo de uma sequela? Há muito que eram ouvidos murmúrios de indústria acerca da potencial continuação do fenómeno de stop motion. Mesmo mais de duas décadas depois, o Box Office Mojo do IMDB diz-nos que “Chicken Run” é o filme mais lucrativo a alguma vez ser realizado utilizando esta tecnologia.

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A arte criada pelos Aardman, estúdio de Bristol que persiste na elaboração de uma animação capaz de aliar o digital ao analógico, é minuciosa e implica a criação de grandes cenários reais detalhados, marionetas em plasticina e detalhados estudos de movimento, como aliás o behind the scenes de “Dawn of the Nugget” disponível na Netflix ilustra na perfeição. Por isso, seria sempre normal precisarmos de muito tempo para ver o produto final cá fora.

Em 2019, na Comic Con Portugal e a propósito da promoção do delicioso “A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca”, tivemos a oportunidade de conversar com Paul Kewley, um dos produtores desse filme e também desta sequela de “A Fuga das Galinhas”. Na altura, há mais de quatro anos, já as novas aventuras de “A Fuga das Galinhas” eram uma realidade bem palpável ainda envolta em muito secretismo.


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Com anúncio em 2018 e produção entre 2019 e abril de 2023, fruto de uma colaboração com a também conceituada produtora francesa Pathé, “Chicken Run: Dawn of the Nugget” é uma longa-metragem que passou por um longo processo de produção que necessariamente transportou consigo um sub-produto impossível de esconder: muita expectativa.

A FUGA DAS GALINHAS E A CONTINUAÇÃO COM NOVO TALENTO NOS BASTIDORES

Fuga das Galinhas regressa na Netflix
“A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas” |©Netflix

Para esta nova versão, os criadores Nick Park e Peter Lord mantiveram-se apenas com produtores executivos mas não como realizadores ou argumentistas. Sendo o seu envolvimento reconhecível, “A Fuga das Galinhas:Estamos Fritas” marca uma inegável sucessão no controlo criativo deste franchise. Apenas um dos três argumentistas do filme original (a primeira longa-metragem dos Aardam), Karey Kirkpatrick.

Também a realização ficou a cargo de Sam Fell (“ParaNorman” e “Por Água Abaixo“), que embora seja uma figura de relevo dentro do estúdio, não havia tido envolvimento com o “Chicken Run” original. Para bem e para o mal, o testemunho foi passado.

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No que à acção diz respeito, o novo capítulo arranca imediatamente quase após o final do primeiro “A Fuga das Galinhas”. As galinhas fugiram da temível Tweedy e são agora felizes numa pequena ilha utópica onde conseguiram construir a sua própria sociedade. O pequeno santuário remove-as do mundo humano e, à primeira vista, parece que aqui poderão ficar para sempre. Ginger (na continuação com voz de Thandiwe Newton) e Rocky (agora com voz de Zachary Levi) tiveram uma pequena pintainha, Molly (Bella Ramsey, “The Last of Us”) e vivem na sua alegre domesticidade.

Netflix A Fuga das Galinhas
Molly é a nova protagonista em Chicken Run 2 © Netflix

Como em qualquer outra narrativa desta natureza, o expectável acontece e a pequena Molly depressa se vê amordaçada pela existência numa comunidade pequena e isolada do resto do mundo e eis que a sua busca por liberdade a leva até uma nova quinta onde as galinhas estão tudo menos seguras. Agora os galináceos terão de fazer o movimento inverso de “Chicken Run” e entrar nesta quinta (em vez de escapar) para salvar Molly e as suas novas amigas.


UMA COMÉDIA DE ACÇÃO MAIS LEVE E COM MENOS RAMIFICAÇÕES POLÍTICAS

Chicken Run 2
©Netflix

Penetrar uma fortaleza é a grande força que move “A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas”. Onde o filme de 2000 apresentava uma comédia britânica muito própria pejada de significação política e social – a quinta de Tweedy era escura, evocativa de campos de concentração, e do livro “A Quinta dos Animais” de Orwell – esta sequela move-se essencialmente por códigos de acção.

“Dawn of the Nugget” é , em primeiro plano, uma comédia de acção assumida. Tal como o primeiro filme adequa-se na perfeição a um público infantil sem ser ameaçador de forma alguma. Todavia, na obra original de 2000 era muito fácil identificar elementos e piadas que apenas seriam capazes de satisfazer um público mais adulto. A nuance era muito forte, quer em termos de referências fílmicas, literárias ou mesmo a correntes históricas, como o Marxismo. Ginger, a nossa galinha protagonista, fora uma verdadeira heroína.

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Agora na sua fase maternal, Ginger é mais suave e tímida. Já os cenários, esses são bem mais megalómanos. A escuridão inerente ao galinheiro do primeiro “A Fuga das Galinhas” está completamente ausente e aqui temos um reino de cor abundante e onde o perigo nunca parece verdadeiramente real.

Estamos Fritas Chicken Run 2
©Netflix

“Estamos Fritas” é um filme de assalto, onde “James Bond” e “Missão Impossível” são algumas das referências mais proeminentes. Aqui temos uma proposta que perde parte da irreverência da obra original. Naturalmente, e também devido à própria evolução tecnológica, é um filme que casa muito mais o stop motion com CGI.

Muita da magia de “Chicken Run” dissipa-se e embora parte do humor do estúdio permaneça bem intacto, sendo um bom exemplo todas as maravilhosas falas toscas de Babs (com Jane Horrocks de volta à personagem, conferindo uma importante continuidade) ou algumas das interações de Mrs. Tweedy (também com Miranda Richardson de volta), a existência da sequela nunca se legitima.

Precisávamos desta continuação 23 anos depois? Não, mas aqui está ela a acrescentar entre pouco a muito pouco a uma criação original valorosa por parte dos Aardman. 

TRAILER | A FUGA DAS GALINHAS: ESTAMOS FRITAS DISPONÍVEL (SÓ NA NETFLIX)

A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas, a Crítica
Poster a Fuga das Galinhas 2

Movie title: A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas

Movie description: Tudo está em jogo para Ginger e o resto da galinhada quando os perigos do mundo humano lhes batem à porta. Mas as nossas aves valentes não se deixam intimidar e estão dispostas a tudo, até a abdicar da sua liberdade, para salvar a comunidade galinácea. Desta vez, o objetivo não é fugir do perigo... é enfrentá-lo com penas e bicadas!

Date published: 21 de December de 2023

Country: Reino Unido, França, Estados Unidos

Duration: 101'

Director(s): Sam Fell

Actor(s): Thandiwe Newton, Zachary Levi, Bella Ramsey

Genre: Animação, Comédia, Acção

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  • Maggie Silva - 62
62

Conclusão

“A Fuga das Galinhas: Estamos Fritas” é suficientemente divertido para entreter a família durante a época da festas, mas não criativo ao ponto de justificar a sua existência. O legado do “Chicken Run” original pende sobre si. Para novos espectadores, e em particular para o público mais jovem, poderá encantar. Para quem acompanha o trabalho dos Aardman e esperava um regresso em altas ao universo absurdo e delicioso de galinhas a lutarem por liberdade apenas verá breves laivos do filme que conheceu no ano de 2000.

Pros

O regresso de grande parte do elenco de voz e a beleza dos cenários construídos pelo estúdio de Bristol.

Cons

O contexto alegórico do primeiro “A Fuga das Galinhas” está aqui ausente. O segundo filme é mais superficial e menos ambicioso no que diz respeito ao seu subtexto.

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