Adolescence: 4 Lições importantes para os pais aprenderem com o novo sucesso da Netflix
“Adolescence” continua a dar que falar e muita tinta tem corrido sobre as consequências do bullying e do vício dos smartphones. A nova série da Netflix tem lições importantes para nos ensinar a todos mas, em especial, aos pais dos jovens portugueses.
A cultura incel (na qual os homens se vêm incapacitados de encontrar um par romântico devido à “mulher moderna e interesseira”), o bullying e a doença mental são elementos do nosso dia-a-dia que muitas vezes ignoramos. “Adolescence”, a nova série da Netflix, invadiu os nossos ecrãs para nos contar uma história fictícia mas inspirada em centenas e milhares de casos reais que se têm alastrado por todo o mundo.
Jamie Miller (Owen Cooper) é um jovem de 13 anos acusado de assassinar a sua colega de escola. A investigação da polícia e a análise de um psicólogo forense, colocam ao de cima problemas e preocupações que são muito importantes para os pais dos mais jovens. Não ignores as lições de “Adolescence”, nem as vejas como “mero entretenimento”. Assim, o que podes afinal aprender com a série da Netflix?
O Bullying está vivo e muito mais agressivo, e não apenas em “Adolescence”
Segundo o Programa Escola Segura, no ano letivo de 2023/2024 existiram 4.107 ocorrências em contexto escolar. 2.956 foram de natureza criminal e apenas 1.151 de natureza não criminal. Os dados demonstram ainda um aumento de 7.4% no total de ocorrências face ao ano letivo anterior.
A posse de armas brancas aumentou 11,4%. Já o bullying e cyberbullying apresentou uma diminuição quando comparado a 2022/2023, no entanto, registaram-se ainda 134 situações relacionadas a este problema.
Antigamente, no tempo dos Millennials agora pais, o bullying ficava limitado ao recinto escolar ou à sua volta imediata. Nos dias de hoje, as crianças e os jovens acabam atormentados mesmo quando chegam à “segurança” de casa. Isto acontece através das redes sociais onde vídeos humilhantes se espalham por colegas, criando uma sensação de impotência, depressão e muitas vezes, comportamentos de risco. São estas consequências que vemos refletidas de forma crua e pura na minissérie “Adolescence” da Netflix.
As opções para proteger os jovens também não são muitas. Primeiro, deverás gravar todas as situações, de forma a criar uma denúncia junto das autoridades. Segundo, pede ajuda. Por exemplo, o site Serviço Nacional de Saúde possui dicas valiosas e sublinha a importância de procurar auxílio psicológico para o menor. Mais do que tentar travar algo que por vezes é impossível, é fundamental que a criança ou jovem aprenda a lidar com esta situação, impedindo problemas graves que moldem a sua personalidade e comportamento no futuro.
A cultura incel está a crescer junto dos jovens rapazes
Este tema é muito profundo e difícil de explorar por completo num pequeno texto como este. Por isso, aconselhamos-te a pesquisar estudos e artigos sobre o tema. De uma forma muito superficial, a cultura incel consiste num grupo de homens que acredita não ser capaz de encontrar uma parceira romântica devido a “factos fora do seu controlo”.
Entre as ideias mais comuns estão o “facto” das mulheres serem todas interesseiras, desejando apenas homens ricos. Ou o “facto” do feminismo moderno incentivar todas as mulheres a odiarem todos os homens. A cultura incel compreende ainda que os homens têm o Direito de ter uma mulher.
Este tipo de pensamento culmina no ressentimento extremista e a atos de violência, por exemplo, rapto e assassinato. Os homens que se assumem como incels acreditam que as mulheres não têm direitos e deveriam ser simplesmente oferecidas pelos pais a quem as quiser, retirando-lhe qualquer liberdade. As que se recusarem deviam ser… eliminadas.
Infelizmente, a cultura incel está a chegar aos rapazes. A pré-adolescência e adolescência é um período muito difícil para todos os jovens. A necessidade de criar uma personalidade sua, o desconhecimento do mundo, e a facilidade em serem manipulados, leva esta faixa etária a ser a vítima perfeita de culturas extremistas, como a incel.
Este tema é talvez um dos principais de “Adolescence” e é fundamental que os pais conhecem esta tipo de comportamento, os seus sinais, e formas de lidar com ele sem fazer com que o jovem se afaste ainda mais.
Falar com os jovens é cada vez mais importante
Os smartphones são uma tecnologia fantástica mas está lentamente a destruir as relações interpessoais físicas. À refeição, é habitual que todos os membros da família estejam colados ao aparelho e não existe espaço para uma conversa.
Enquanto pai ou mãe é importante manteres a linha de comunicação aberta. A caminho de casa, antes de dormir ou durante uma refeição. Questiona o teu filho ou filha sobre o seu dia na escola e ouve atentamente. A relutância de falar sobre o dia ou um resumo simplificado e rápido podem ser sinais de bullying. O isolamento e a agressividade podem assinalar problemas como a depressão.
“Adolescence” ajuda a desmitificar a Saúde Mental
Eventos como o Festival Mental ou séries como “Adolescence” da Netflix são importantes para desmistificar a saúde mental. A ideia de que procurar ajuda psicológica é algo de “doidinhos” tem de acabar, especialmente quando se fala dos jovens num era digital e perigosa.
Procura ajuda para o teu filho ou filha junto da escola ou dos muitos profissionais que existem em Portugal. Mesmo que tudo “pareça bem”, deves investir em algumas sessões para que seja o psicólogo a analisar o jovem, ajudando-o numa fase tão crucial da sua vida.
O caso de Jamie em “Adolescence” não é apenas ficção. A criminalidade juvenil está a aumentar e a maioria dos pais, tal como os pais de Jamie, nunca percebe o que está a acontecer, até ser tarde demais. Para uns, o seu filho acaba numa prisão, para outros, espera-os o luto dos pais de Katie.