Adolescence da Netflix faz história no Reino Unido
Quando as ondas do streaming invadem o farol da televisão tradicional com a série Adolescence, algo está a mudar e não é apenas o canal.
Há uma revolução silenciosa a acontecer nos nossos ecrãs. Durante décadas, os rankings de audiências do Reino Unido foram dominados por emissoras como a BBC ou a ITV, com as suas produções icónicas a ditarem as conversas de café. Mas eis que, num golpe subtil, uma plataforma de streaming escalou o pódio — e trouxe consigo mais do que números. Trata-se de um momento simbólico, onde o digital desafia o tradicional, sem estrondo, mas com impacto.
Netflix quebra a barreira invisível com a nova série Adolescence
Na semana de 13 de Março, “Adolescence” (Netflix) — um drama cru sobre um adolescente acusado de homicídio — tornou-se o primeiro conteúdo de streaming a liderar o ranking semanal de audiências do Reino Unido. Segundo a Barb, entidade responsável pelas métricas, o primeiro episódio reuniu 6,45 milhões de espectadores, ultrapassando não só os rivais da BBC (“The Apprentice” e “Death in Paradise“, com 5,8 milhões cada) mas também o anterior recorde da Netflix, detido por “Fool Me Once” (6,3 milhões em Janeiro de 2024).
A série, composta por quatro episódios, ocupou ainda o segundo, quinto e sexto lugares da tabela, com audiências a variar entre 4,65 e 5,94 milhões. Um feito notável, considerando que 17 milhões de lares britânicos têm subscrição da Netflix — ou seja, quase um terço dos espectadores do país optou por esta narrativa intensa. A comparação com “Mr Bates vs the Post Office“, drama da ITV que atraiu 10 milhões em 2023, revela que o streaming ainda não superou o pico absoluto, mas está a aproximar-se — e rápido.
Este marco não é apenas estatístico. Representa uma mudança de paradigma: pela primeira vez, um serviço on-demand superou a hegemonia das emissoras lineares no seu próprio jogo.
Quando a arte provoca o debate
“Adolescence” não triunfou apenas pela técnica — cada episódio foi filmado num único plano-sequência, mergulhando o espectador numa angústia claustrofóbica —, mas por refletir ansiedades contemporâneas. A história de Jamie, interpretado pelo estreante Owen Cooper, e do seu pai (Stephen Graham, em forma sublime), tornou-se um espelho de discussões incómodas: o impacto das redes sociais, a ascensão da «manosfera» e a crise de identidade masculina na adolescência.
A série, assim, transcendeu o entretenimento, convertendo-se num catalisador político. Não surpreende que críticos a comparassem a “I May Destroy You” ou “Top Boy“, obras que igualmente misturaram arte e ativismo social.
E, no entanto, o seu maior triunfo está na humanidade. “Adolescence” é uma história íntima que ressoa alto. Fala de solidão, mas também daquela centelha de esperança que nos mantém humanos.
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