Ainda Estou Aqui, a Crítica | Fernanda Torres mereceu mesmo o Golden Globe
Fernanda Torres faz história ao vencer os Golden Globes com “Ainda Estou Aqui”. O filme estreia dia 16 de janeiro nos cinemas.
Em 1999, Fernanda Montenegro fez história ao tornar-se na primeira atriz brasileira a ser nomeada para o Óscar de Melhor Atriz. Fê-lo com o filme “Central do Brasil”, de Walter Salles, em que interpretou uma ex-professora amargurada, que um dia se vê obrigada a ajudar um menino a encontrar o seu pai no interior do Brasil, após a sua mãe ter um acidente.
Vinte e cinco anos depois, é a sua filha, Fernanda Torres, quem faz história, ao ser a primeira atriz brasileira a ser nomeada e a vencer um Globo de Ouro. Novamente com Walter Salles como realizador, “Ainda Estou Aqui” leva-nos numa viagem até aos anos setenta, no Brasil, tempo em que o país passava por um regime de ditadura.
Fernanda Torres interpreta Eunice, uma mãe que tem de cuidar sozinha dos seus cinco filhos, após o pai, Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, desaparecer, depois de ser levado por um grupo de polícias à paisana.
Walter Salles transporta-nos para os anos 70
Ao vermos este filme, ficamos totalmente imersos nesta complexa história, sentindo que estamos a ser transportados para a década de 1970, por várias razões. “Ainda Estou Aqui”, é baseado numa trágica história verídica, como várias outras que aconteceram durante o regime ditatorial que durou até 1985.
O realizador, Walter Salles, conhecia bem esta família, que vivia perto da praia, no Rio de Janeiro. Durante a sua adolescência passou lá muito tempo, por ser amigo de uma das filhas do casal, a Nalu.
Esta era uma casa que estava sempre aberta, com amigos, música e festa e Walter Salles conta, em várias entrevistas, que foi um grande choque quando, de repente, as portas e as janelas se fecharam e as visitas terminaram.
O realizador consegue passar estas sensações para o ecrã e para o espectador, que também sente o clima pesado, de repente, quando começa a entender a gravidade da situação. Esta sensação também é transmitida através da notória ausência do pai de família, que todos adoravam.
Os atores contam que o filme foi gravado por ordem cronológica, então, os próprios acabam por sentir essa ausência quando algum dos atores ia embora do set e a animação ia desaparecendo. E isso é transmitido para o público através das suas atuações.
“Ainda Estou Aqui” foi gravado em película de 35mm para ter aquele efeito granulado e antigo dos anos setenta. O realizador contou numa entrevista ao Collider: “Trabalhámos com 35mm porque era importante conseguir a textura daqueles tempos. Eu quero convidar o espectador a ser uma parte da família”.
A merecida premiação de Fernanda Torres
“Ainda Estou Aqui” é um filme com simplicidade, em que Fernanda Torres apresenta uma atuação contida, tal como pede a história da verdadeira Eunice Paiva. A atriz brasileira mostra que não é preciso uma atuação estridente ou expansiva para marcar o espectador e chamar a atenção dos críticos. A sua nomeação e consequente prémio nos Globos de Ouro 2025 foi mais que merecido e abre agora a possibilidade de ser nomeada para os Óscares.
O filme e a forma real como Fernanda Torres interpreta a sua personagem, faz-nos várias vezes questionar se faríamos o mesmo que ela fez, se iríamos lidar com os problemas da mesma maneira e se aquela era a forma correta de o fazer.
As emoções que os atores passam também são muito verdadeiras, devido ao facto de muitos terem realmente passado pelo mesmo. Não necessariamente a mesma história, mas os mesmo problemas, medos e incerteza causados pela ditadura.
Como referimos, o filme é muito contido durante a maior parte do tempo e parece que prende as nossas emoções enquanto a história e jornada de Eunice Paiva é contada. No entanto, na segunda metade do filme, parece que libertam essas emoções de repente, ao percebermos o impacto daquela história.
Um dos momentos mais catárticos, de maior emoção, no filme, é quando aparece Fernanda Montenegro, interpretando uma Eunice mais velha, num ato de brilhantismo. Só com as suas expressões, sentimos um murro no estômago e um choque de realidade, libertando todas as emoções que foram contidas ao longo do filme.
“Ainda Estou Aqui” estreia nos cinemas portugueses já esta quinta, dia 16 de janeiro.
Ainda Estou Aqui, a Crítica
Movie title: Ainda Estou Aqui
Movie description: Baseado numa história verídica, Eunice é obrigada a tomar conta dos seus cinco filhos sozinha, após Rubens desaparecer depois de ser levado pela polícia durante a ditadura no Brasil nos anos 1970.
Director(s): Walter Salles
Actor(s): Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello, Valentina Herszage, Olívia Torres, Bárbara Luz
Genre: Drama
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Matilde Sousa - 75
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Cláudio Alves - 92
Conclusão
Como disse Selton Mello, ator que interpreta Rubens Paiva, numa entrevista ao Collider, “Ser simples é muito difícil e tens de ser um grande mestre para o conseguires fazer”. Walter Salles conseguiu fazê-lo de uma forma muito emocional.
Pros
O filme é muito realista e parece que somos transportados para aquela época e para o centro daquela tragédia;
Fernanda Torres faz um papel incrível ao interpretar Eunice Paiva, que carregou o Mundo às Costas para libertar os seus filhos do peso dos problemas.
Cons
O filme poderia ter mais contextualização inicial e desenvolver mais a vida de Eunice após o marido ter desaparecido.