Anora, de Sean Baker, entre os filmes em destaque no New York Film Festival
O New York Film Festival, ou Festival de Cinema de Nova Iorque, anunciou o seu alinhamento principal para 2024. Os destaques incluem a Palma de Ouro deste ano, “Anora”, de Sean Baker ou ainda a nova obra de Paul Schrader.
Sumário:
- Um dos grandes festivais da América do Norte, o NYFF regressa para a 61.ª edição entre 27 de setembro e 14 de outubro;
- A programação foi já revelada e inclui a mais recente Palma de Ouro, “Anora”, filme assinado por Sean Baker;
- Outros destaques incluem “The Room Next Door”, de Almodóvar, ou, para fechar, “Blitz” de Steve McQueen.
A programação do Festival de Cinema de Nova Iorque foi já anunciada e inclui alguns dos grandes destaques cinematográficos do ano (de “Anora” a “Grand Tour”), entre estreias norte-americanas de obras que em 2024 já chegaram aos grandes festivais europeus ou ainda algumas estreias mundiais.
A programação antecipada do New York Film Festival
De 27 de setembro a 14 de outubro, o NYFF apresenta muitas das obras do ano em quatro salas distintas, espalhadas pelas várias áreas da Grande Maçã: o Alamo Drafthouse Cinema (em Staten Island), a BAM (Brooklyn Academy of Music) (Brooklyn), o The Bronx Museum (no Bronx) e ainda o the Museum of the Moving Image (em Queens).
Anora, a Palma de Ouro de Sean Baker
Sean Baker (“The Florida Project”, “Red Rocket”) é um dos realizadores mais aclamados da cena indie norte-americana, e a sua consolidação faz-se em 2024 com “Anora”, filme pelo qual recebeu recentemente a Palma de Ouro.
“Anora” é portanto uma das estreias mais antecipadas no Festival de Cinema de Nova Iorque. Numa performance que promete torná-la numa estrela imediata, Mikey Madison dá vida a Annie, uma stripper de Brighton Beach que começa um romance com um cliente rico. Quando Annie percebe que este está envolvido com Oligarcas russos, os problemas começam nesta comédia de “screwball” que explora classe, género e aspirações financeiras. Nos EUA, a obra é distribuída pela NEON, que tem vindo a aumentar cada vez mais o seu prestígio (projetos recentes incluem sucessos de terror como “Cuckoo” e “Longlegs”. Por cá, ainda aguardamos novidades.
Nickel Boys, de RaMell Ross, na abertura
A ‘Opening Night’ do 61.º Festival de Cinema de Nova Iorque faz-se com “Nickel Boys”, assinado por RaMell Ross (nomeado ao Óscar pelo documentário “Hale County This Morning, This Evening”).
O filme baseia-se no romance do mesmo nome, escrito por Colson Whitehead e vencedor do Prémio Pulitzer. Narra-se a história de uma amizade poderosa entre dois jovens afro-americanos que lidam com os horrores de um reformatório que ambos frequentam no estado da Flórida.
Com co-produção da Plan B Entertainment de Brad Pitt, ainda pouco se sabe sobre esta versão fílmica que terá a sua estreia mundial nesta abertura antes de chegar às salas dos EUA em outubro deste ano.
The Room Next Door, de Almodóvar, chega ao NYFF
Assinalado nos destaques de programação com o selo “Centerpiece” temos “The Room Next Door”, o próximo filme da autoria do espanhol Pedro Almodóvar.
No novo drama em língua inglesa assinado por Almodóvar ( notavelmente, o seu primeiro filme falado em inglês), Julianne Moore dá vida a uma escritora de bestsellers que procura reacender a sua relação com uma amiga de longa data (interpretada por Tilda Swinton) , jornalista de guerra, com quem perdeu o contacto. A obra é adaptada a partir do romance de Sigrid Nunez – “What Are You Going Through”.
Esta será a estreia norte-americana do filme, que estreará mundialmente em Veneza (já no início de setembro).
Blitz, de Steve McQueen, no Encerramento
Outra estreia norte-americana fica para o encerramento do NYFF. “Blitz” é um filme sobre o qual ainda certamente ouviremos falar muito e provavelmente muito bem. Aclamado pela crítica, pelo público e pela Academia no caso de “12 Anos Escravo”, Steve McQueen é um dos mais talentosos realizadores do século XXI.
Neste projeto vai associar-se a Saoirse Ronan, que representa uma mãe da classe trabalhadora, numa Londres sobre cerco na Segunda Guerra Mundial. A ideia é retirar o foco das patentes de exército e das classes altas e de governação e ver como este período conturbado afetou a vida das pessoas comuns. Representa-se igualmente uma Londres multicultural na década de 1940, a qual muitas vezes não é vista no grande ecrã.
O filme foi comprado pela Apple, mas terá primeiro uma passagem pelas salas como condição para a elegibilidade durante a temporada de prémios.
“Blitz”, escrito e realizado por Steve McQueen, terá primeiramente estreia mundial no London Film Festival, chegando passado apenas um dia ao NYFF.
All We Imagine as Light no 62.º New York Film Festival
“All We Imagine as Light” (2024) teve estreia mundial no Festival de Cannes, e em breve, entre a sua extensa rota de festivais, passará pelo Festival de Cinema de Nova Iorque.
O nosso crítico José Vieira Mendes viu-o, como parte da Competição Oficial em Cannes, e definiu esta longa-metragem como: “uma obra híbrida e deslumbrante, que examina os corações das mulheres do seu país e seus desejos por outro mundo melhor, na cidade de Bombaim da actualidade”.
Portugal representado com Miguel Gomes (Grand Tour)
“Grand Tour”, de Miguel Gomes, é mais uma prova de que este é o nosso realizador contemporâneo com maior capacidade de exportação. A narrativa tem vindo a completar uma rota de festival invejável e o New York Film Festival (NYFF) é mais uma etapa nesta jornada.
A obra portuguesa chega a Nova Iorque já com bastante pedigree (nada mais, nada menos que o Prémio de Melhor Realizador em Cannes), e marca um regresso de Gomes ao Festival de Cinema de Nova Iorque, onde já havia passado tanto com o criativo e exuberante “Mil e Uma Noites” como previamente com o magnificamente filmado “Tabu“.
Em 2024, antes de regressar a Nova Iorque, Miguel Gomes integrou a Competição Oficial pela 1.ª vez, sendo esta a derradeira seleção de Cannes, e o resultado foi excelente. José Vieira Mendes viu o filme em França e deixou as suas impressões positivas: ““Grand Tour” é impulsionado pela misteriosa e perfeita combinação que cria entre imagens documentais ‘exóticas’, a narração ininterrupta e as cenas com os atores na sua grande maioria concebidas em estúdio. E, para isso, facilitando as coisas usa preto e branco baço e granulado e a neblina húmida, para moldar as imagens que acompanham realmente a história de amor (de base) algo abstrata, sobre uma relação indescritível entre tempo e memória.”
Brady Corbet apresenta The Brutalist
Para além de obras já aclamadas como “Anora” ou “All We Imagine as Light“, o NYFF em 2024 irá também exibir a próxima obra de Brady Corbet (em tempos ator, e mais conhecido pelo seu filme “Vox Lux”).
“The Brutalist” acompanha um arquiteto judeu e sobrevivente da Segunda Guerra Mundial chamado László Toth (Adrien Brody, “O Pianista”) que, depois de reconstruir a sua vida nos Estados Unidos, volta a encontrar a sua família na Pennsylvania.
Este retrato honesto da América do Pós-Guerra tem aqui a sua estreia americana, na sua segunda exibição depois de passar por Veneza.
Outros intérpretes no elenco incluem Guy Pearce (“Memento”), Felicity Jones (“Rogue One”), Joe Alwyn (“Histórias de Bondade”) ou Stacy Martin (“Ninfomaníaca”).
Mati Diop no New York Film Festival com Dahomey
Mati Diop é uma realizadora que já conseguiu acumular bastante prestígio, isto através de obras como o belo “Atlantique” ou “A Thousand Suns”.
“Dahomey” encontra-a a explorar o formato documental, numa obra que lhe valeu o Urso de Ouro em Berlim (em 2024).
Neste futuro lançamento Mubi, Diop explora um território africano, pensando o colonialismo francês e os tesouros roubados da República do Benim. Este é um regresso para a realizadora, que já havia passado pelo NYFF com o seu belo e atmosférico “Atlantique” (distribuído posteriormente pela Netflix).
Mike Leigh leva Hard Truths a Nova Iorque
Com a sua próxima obra, “Hard Truths”, o veterano britânico Mike Leigh reúne-se uma vez mais com Marianne Jean-Baptiste, que foi nomeada ao Óscar pelo aclamado filme “Secrets & Lies”, também da sua autoria.
Esta é uma obra dura, como o nome indicia, mas também muito íntima e repleta de compaixão (isto de acordo com os primeiros relatos sobre um filme que ainda está por iniciar, no outono, a sua rota de festivais).
A protagonista da obra é Pansy, uma mulher trabalhadora de meia-idade que lida com problemas físicos e emocionais e um crescente desespero que começa a afetar as suas relações pessoais.
Oh, Canada, de Paul Schrader, com um Richard Gere em altas
O Festival de Cinema de Nova Iorque conta também, entre o seu line-up, com a mais recente obra do divisivo e poderoso Paul Schrader (“First Reformed”, “Master Gardener”).
Com performances poderosas por parte do veterano Richard Gere (“Pretty Woman”) ou ainda de Michael Imperioli (“Os Sopranos”), e Uma Thurman (“Kill Bill – A Vingança”), “Oh, Canada” é um filme construído a partir de flashbacks, com recuos no tempo até 1960, e ainda com a presença de Jacob Elordi (“Priscilla”) na pele da versão mais jovem de um dos protagonistas.
Depois de Cannes e Toronto, “Oh Canada” é apresentado em Nova Iorque.
Estes são apenas alguns dos filmes essenciais na seleção do New York Film Festival. Entre outros destaques recomendamos “No Other Land” (Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor), documentário acerca do conflito entre Israel e Palestina que muito nos impressionou no IndieLisboa em 2024.
Por falar em IndieLisboa, o delicioso “A Traveler’s Need” (Hong Sangsoo), com Isabelle Huppert, que também passou pela Culturgest em 2024, chega ao certame do NYFF, em conjunto com a obra mais recente do cineasta – “Suyoocheon“.
Entre outros grandes nomes, David Cronenberg introduz ao público americano o seu “The Shrouds”, uma narrativa tecno-futurista que lida com tecnologia capaz de transformar a experiência da vida e da morte. Nos papéis centrais temos Vincent Cassel e Diane Kruger.
Aqui fica um vislumbre do que será esta programação central. Outras grandes estreias mundiais ou norte-americanas para o próximo Festival de Cinema de Nova Iorque, integradas na “Main Slate” podem ser consultadas aqui.
De acordo com o Diretor Artístico do Festival, Dennis Lim, a ambição do NYFF passa por “refletir o cinema de um determinado ano, o que também implica refletir o estado do mundo. O elemento mais claro desta ‘Main Slate’, e das restantes seções que iremos anunciar nas próximas semanas, é a notória capacidade que o cinema tem no sentido de empatizar com a realidade. Recordamo-nos da capacidade vital que o cinema tem de intervir e reexaminar o mundo”.
Já viste algumas das obras presentes na programação central do NYFF? Qual a longa-metragem que aguardas com maior antecipação, de “Anora” a “Blitz”?