António Zambujo e Miguel Araújo no Coliseu do Porto | A união perfeita entre a amizade e a música
A Magazine.HD teve o prazer de estar presente no 22º espetáculo da tour conjunta dos dois músicos portugueses, num total de 28 distribuídos pelos dois principais Coliseus do país. O veredito final? António Zambujo e Miguel Araújo foram feitos para cantar juntos.
À quinta noite seguida a dar espetáculos ao vivo no Coliseu do Porto, António Zambujo e Miguel Araújo encantaram como se fosse a primeira. De sala esgotada e corações cheios devido ao carinho das pessoas que os ouviram noite após noite, mostram que não esperavam tanta aderência à auto-referida “loucura”. “Ainda nem sabíamos o que tocar nos concertos, pensei que era um vírus informático”, confessa Miguel Araújo, ao ver os ingressos para as primeiras datas lançadas a esgotar com uma rapidez exorbitante.
Com apenas as suas duas vozes, duas guitarras (os exatos factos que dão nome à tournée) e sem qualquer álbum em conjunto, os músicos juntaram-se para um total de 28 espetáculos no Coliseu do Porto e de Lisboa, assim como no Teatro Pax Julia em Beja – terra natal de Zambujo – e na Maia em local ainda por anunciar – terra natal de Araújo. E o resultado é a fusão de duas vozes que parece que foram feitas para estar em palco juntas, numa ode ao que de melhor existe na música portuguesa e que não deixa ninguém indiferente. Um concerto intimista e informal, que para o lado do espectador transmitiu a sensação de estarmos em casa, à conversa com dois amigos que por acaso estavam a produzir música.
É Zambujo quem inicia o concerto com “Foi Deus”, um êxito de Amália Rodrigues e a especialidade do cantor num exemplo perfeito de quanto o Fado pode estar ainda presente no património musical português percorrendo todas as gerações. Os espectadores acompanharam Miguel Araújo em “Recantiga” mas foi com “Romaria de Santa Eufémia” que as paredes do Coliseu ecoaram, quase dispensando a participação dos cantores. Os dois amigos quiseram ainda homenagear um pouco de cada uma das suas origens, primeiro com uma exibição soberba do tema de cante alentejano “Fui Colher uma Romã” alusivo à origem bejense de Zambujo, e depois com “American Tune” de Paul Simon como referência à infância rodeada de rock dos anos 70 de Araújo.
Sempre com cumplicidade evidente e entre brincadeiras, a dupla recorria até a improvisos e mostrou que também se sentia à vontade na música popular brasileira, pela interpretação dos temas genéricos das novelas originais “Gabriela” e “Roque Santeiro”. E como não poderia deixar de ser os êxitos individuais marcaram presença, com António Zambujo a deixar a audiência em êxtase com os seus agudos em “Pica do 7” e Miguel Araújo a terminar o concerto com “Os Maridos das Outras”.
A hora ficava cada vez mais tardia mas nem o Coliseu nem os dois músicos tencionavam ir dormir cedo. Sempre acompanhados pela melancolia de ser a sua última noite naquele espaço, e um simultâneo espanto constante pela aderência de tantos milhares de pessoas que por ali haviam passado naquelas cinco noites e que sabiam todas as suas letras de cor, António Zambujo e Miguel Araújo retornaram ainda para três (!) encores. Pela primeira vez, para um medley único ao som de piano que juntou o icónico tema “Bohemian Rapsody” dos Queen, com as suas músicas originais “Anda Comigo Ver Os Aviões” da banda Os Azeitonas e “Lambreta” de Zambujo, muito bem recebido pelo público como seria de esperar.
O segundo retorno trouxe consigo a interpretação do tema “Será Amor”, parte do filme “Canção de Lisboa”, e também uma arrepiante cover de “Porto Sentido” de Rui Veloso – senti que toda a música portuguesa podia passar pelas cordas vocais destes dois senhores que iria resultar em algo lindo. Os espectadores pediam sempre mais, e a dupla de amigos voltou ainda uma terceira e última vez para aceder a pedidos do público – “nós só temos um tanto reportório”, brincava Miguel Araújo -, terminando a louca semana de espetáculos com temas como “Dona Laura” e “Nada Errado”.
Um projeto que começou meio em tom de brincadeira, mas que se tornou um dos melhores acasos do ano. António Zambujo e Miguel Araújo mostram evidências de que podiam fazer carreira juntos porque encaixam tão perfeitamente como café com leite. A belíssima escolha de temas, a informalidade e as suas vozes em conjunto com a baixa iluminação da sala e o palco decorado com pequenas luzes, transformou a sala principal do Coliseu do Porto na nossa casa. “Sinto que podia fazer isto para sempre”, finalizava Miguel Araújo, e o público, com os seus aplausos e colocando as mãos em forma de coração, respondia que os ouviria para sempre.
António Zambujo e Miguel Araújo têm ainda agendados para este ano cinco concertos no Coliseu dos Recreios em Lisboa, dois no Teatro Pax Julia em Beja, e um na Maia. Não percam!
Texto: Ana Rodrigues
Fotografias: Paulo Bico