Assassin’s Creed Shadows, a Crítica | Regresso às origens da saga num Japão com portugueses
“Assassin’s Creed Shadows” acabou de ser lançado e pode decidir o fim ou a continuidade da saga. É um regresso triunfal com algumas questões.
Depois de alguns adiamentos, a Ubisoft está de volta com “Assassin’s Creed Shadows”, um dos lançamentos mais aguardados da saga. O jogo leva os jogadores ao Japão feudal e aposta numa narrativa envolvente, num mundo detalhado e numa jogabilidade que mistura ação e furtividade. Mas será que é suficiente para revitalizar a série e, possivelmente, a própria Ubisoft?
A Ubisoft promete uma reinvenção, um regresso às raízes mas com um novo passo à frente. Leva os jogadores ao Japão feudal – um cenário há muito desejado pelos fãs – e apresenta uma nova abordagem ao gameplay com dois protagonistas distintos.
A história de “Assassin’s Creed Shadows” mergulha no Japão do século XVI, com Oda Nobunaga no centro dos acontecimentos. Inspirada em obras como “Shōgun” e até “Ghost of Tsushima”, a narrativa está repleta de intrigas, traições e conflitos entre facções. Os protagonistas, Naoe e Yasuke, oferecem perspetivas distintas, com estilos de jogo próprios: Naoe é uma shinobi ágil e furtiva, enquanto Yasuke, um samurai imponente, aposta no combate direto.
Duas personagens para dois estilos diferentes
Esta dualidade dá profundidade à experiência, mas também evidencia algumas limitações. Naoe, uma kunoichi ágil e furtiva, representa a clássica abordagem stealth da série, enquanto Yasuke, um samurai de origem africana baseado na figura histórica real, aposta no combate corpo a corpo. Ainda assim, a Ubisoft consegue equilibrar os dois estilos e oferecer uma história cativante e bem construída.
A introdução de Yasuke é particularmente interessante, antes de se tornar um guerreiro lendário, é conhecido como Diogo, um escravo/guarda-costas trazido pelos portugueses. Essa parte inicial tem momentos fortes, mas o ritmo da história é irregular, com saltos temporais que dificultam o envolvimento imediato do jogador. Passam-se vários meses e até anos. A narrativa melhora quando Naoe e Yasuke finalmente se unem, em um dos momentos mais impactantes do jogo.
O sistema de troca de personagens, embora promissor, acaba sendo mais um obstáculo do que um benefício. Os menus lentos tornam a alternância um pouco lenta, e a escolha entre furtividade e combate nem sempre é clara. Algumas missões forçam confrontos diretos, tornando a seleção de Naoe uma desvantagem artificial. Outras favorecem o stealth, mas Yasuke seria perfeitamente capaz de resolvê-las. Apesar da excelente ideia, o jogo podia ter funcionado melhor com um único protagonista mais versátil, em vez de dois personagens limitados em suas respectivas abordagens.
Mundo aberto verdadeiramente impressionante
Visualmente, o Japão feudal criado pela Ubisoft é deslumbrante. O design dos castelos, a vegetação e a verticalidade dos cenários são impressionantes. O destaque fica por conta do novo sistema de estações do ano, que altera não só a aparência do mundo, mas também a jogabilidade. Ver um vale florido na primavera e depois coberto por neve no inverno traz uma sensação de dinamismo raramente vista na saga. A chuva pode apagar pegadas na lama, o vento carrega folhas pelo cenário e até o comportamento dos NPCs muda conforme a estação, reforçando a imersão no mundo.
Os viewpoints continuam a ser um espetáculo visual, e o modo fotografia é praticamente obrigatório para quem quer capturar a beleza deste Japão virtual. A banda sonora, inspirada em instrumentos tradicionais japoneses, também merece elogios, proporcionando uma das experiências musicais mais autênticas da série.
Outro ponto positivo é a atenção ao detalhe histórico. O ambiente do jogo está recheado de informações sobre a cultura, arquitetura e costumes da época, tornando “Assassin’s Creed: Shadows” quase um simulador interativo do Japão feudal. A opção de jogar com diálogos em japonês (e até alguns trechos falados em português devido à presença de jesuítas) adiciona ainda mais autenticidade à experiência.
No entanto, a beleza e a fidelidade histórica não conseguem mascarar algumas das limitações do jogo. Apesar do mundo aberto ser vasto e impressionante, a sua estrutura de missões e exploração rapidamente revela padrões repetitivos.
Assassin’s Creed sem um bom stealth não é a mesma coisa
A Ubisoft dá um passo na direção certa ao reforçar a furtividade, trazendo mecânicas como rastejar de bruços e usar um gancho para escalada. Assim sendo “Assassin’s Creed Shadows” recupera a essência da saga e melhora a progressão do jogador, eliminando a árvore de habilidades confusa da entrada viking na saga. Agora, os jogadores ganham pontos de maestria para desbloquear novas técnicas e ferramentas, tornando o desenvolvimento do personagem mais intuitivo. O novo sistema “Observe”, que permite analisar o ambiente com mais detalhes.
O combate, por outro lado, continua a ser uma questão de gosto. Se Yasuke se sente deslocado em certas mecânicas, Naoe encaixa perfeitamente no estilo clássico da saga. A jogabilidade incentiva a abordagem furtiva, e quando funciona, proporciona momentos de pura adrenalina.
Um passo na direção certa mas com espaço para melhorias
“Assassin’s Creed Shadows” é um dos melhores títulos da saga nos últimos anos. A Ubisoft apostou numa narrativa forte, num mundo visualmente rico e numa jogabilidade que resgata elementos clássicos de “Assassin’s Creed”. No entanto, alguns problemas persistem, como a repetitividade das atividades no mundo aberto e as limitações na movimentação.
Ainda assim, este é um Assassin’s Creed digno do próprio nome da saga e ainda bem que a Ubisoft decidiu adiar para afinar o jogo. Com um equilíbrio entre inovação e tradição, a Ubisoft entrega uma experiência sólida e imersiva, mostrando que a saga ainda tem muito para oferecer.
Para ti, qual é o melhor da saga?