Batem à Porta, em análise
O novo filme de M. Night Shyamalan, o mestre das voltas e reviravoltas, autor de “A Vila”, “Sinais” ou “O Sexto Sentido”, está já em exibição nas salas de cinema nacionais. Será “Batem à Porta” povoado pela sua habitual subversão de expectativas?
“Batem à Porta” é a história de uma família, encabeçada pelos pais Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), que levam a sua filha de 7 anos, Wen (Kristen Cui), para umas férias numa cabina remota.
O filme, cujo argumento se baseia no livro “The Cabin at the End of the World”, da autoria de Paul Tremblay, coloca-nos, desde logo, no centro da ação, quando a menina e os seus dois pais se tornam reféns de quatro estranhos fortemente armados, que tomam a casa na floresta de assalto, e que exigem que a família faça um sacrifício humaaprno de forma a impedir o final dos tempos.
Sem rede e com acesso extremamente limitado ao exterior, a família começa por não acreditar na premissa apresentada pelos estranhos – a de que o mundo irá terminar caso a família não decida, unanimemente e de forma voluntária, sacrificar um dos seus membros. Todavia, as notícias escassas do exterior que vão chegando à casa deixam temer o pior e começam a instaurar a dúvida na mente do casal.
“Knock at the Cabin”, de 2023, é um filme bastante invulgar na filmografia de M. Night Shyamalan, isto porque, ao contrário do que acontece na esmagadora maioria dos seus filmes, existe um fio religioso que atravessa toda a história. Sem dúvida, nunca a fé foi uma componente tão importante numa das suas narrativas como nesta nova longa-metragem.
Por outro lado, conhecemos o trabalho de Shyamalan devido à sua enorme extravagância – e é assim que o reconhecemos por norma. De personagens com personalidade múltipla, a fantasmas bem escondidos, de invasões alien a plantas assassinadas, passando por velhotes homicidas, os enredos de M. Night Shyamalan caracterizam-se pela sua ampla excentricidade. Caracterizam-se também pelas suas vertiginosas reviravoltas narrativas – os seus míticos plotwitsts, que mesmo quando meio apatetados, não deixam de nos trazer um enorme sorriso à cara.
Sem dizermos que “Batem à Porta” é desprovido de reviravoltas, porque tal seria mentira, é sem dúvida uma narrativa mais linear no universo de Shyamalan, e uma que nos faz ter saudades dos seus enredos mais absurdos e arriscados. Em “Knock at the Cabin” sentimos a falta de uma expansão de mundo – nunca chegamos a saber muitas respostas a questões essenciais: porque foi esta família escolhida, porquê esta cabina, porquê agora? Porquê aqueles quatros estranhos e não outros?
Este “Batem à Porta” é um dos filmes mais elogiados da carreira de M. Night Shyamalan, pelo menos em anos recentes, mas não deixamos de ter dificuldade em compreender porquê. Talvez por apresentar a primeira prestação em que Dave Bautista (como Leonard) tem o mínimo de profundidade emocional, talvez por se tratar de uma história que procura combater a homofobia interiorizada na sociedade, não temos a certeza.
Na realidade, não consideramos de todo que este seja um dos melhores filmes do realizador, nem em geral, nem sequer nos últimos anos. Isto porque “Knock at the Cabin” é uma das suas histórias menos lineares, em que nos primeiros 20 minutos do filme nos é apresentada uma premissa, premissa essa que é, de seguida, cumprida vírgula por vírgula, sem grandes surpresas e sem sequer nos incutir grande medo.
As prestações são acima de tudo medíocres, queremos gritar a Jonathan Groff que volte à Broadway, onde verdadeiramente brilha (Olá, “Hamilton”), ao contrário do que acontece aqui, e desejamos também que Rupert Grint regresse aos indie britânicos, como o delicioso “Sick Note”, ao invés de interpretar personagens com apenas uma faceta, como é o caso do seu “Red” neste filme. Nem Bautista como um professor dedicado nos convenceu particularmente, uma vez que todos os supostos momentos emotivos da obra ficam algo aquém, sufocados pela enorme previsibilidade e linearidade narrativa.
Deste lado, fez-nos falta um plot twist absurdo à lá M. Night Shyamalan, esses que alegram o seu trabalho. Quanto a “Batem à Porta”, parece-nos ser uma das suas obra mais mortiças.
TRAILER | BATEM À PORTA NOS CINEMAS DESDE 2 DE FEVEREIRO
Batem à Porta, em análise
Movie title: Batem à Porta
Movie description: Durante umas férias numa cabana isolada, uma menina e os seus pais são feitos reféns por quatro estranhos armados, que exigem que a família faça uma escolha impensável de forma a prevenir o apocalipse. Com acesso limitado ao mundo exterior, a família tem de decidir no que acredita, antes que tudo esteja perdido…
Date published: 15 de February de 2023
Country: EUA
Duration: 100'
Director(s): M. Night Shyamalan
Actor(s): Dave Bautista, Jonathan Groff, Ben Aldridge
Genre: Terror, Mistério
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Maggie Silva - 60
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Marta Kong Nunes - 55
Conclusão
Em 2023, com “Batem à Porta”, M. Night Shyamalan apresenta-nos a sua versão do apocalipse, assente em sacrifício pessoal e fé. É uma interpretação pouco eficaz do fim do mundo, incapaz de nos envolver emocionalmente ou assustar.
Pros
- A sequência da invasão da casa, a única em que o mistério, thriller, terror, ou simplesmente, a emoção, está presente no ecrã;
- A localização remota e perfeita para o tipo de narrativa.
Cons
- Os flashbacks inúteis, que falham na sua tentativa de nos ligar à família protagonista, e que pouco acrescentam à história;
- A incapacidade de criar verdadeiro terror ou sequer tensão;
- A falta das surpresas a que o realizador nos habituou.