Os 10 benefícios surpreendentes do cinema nas nossas vidas, segundo a ciência
Quem nunca se sentiu transportado ao se sentar numa sala, enquanto o projetor de cinema ilumina os nossos olhos a 24 frames por segundo?
Desde os primórdios da humanidade que contamos histórias. Começámos por pintá-las nas paredes das cavernas, depois passámo-las oralmente de geração em geração, mais tarde escrevemo-las em pergaminhos e livros. Mas foi só no final do século XIX que conseguimos fazer algo verdadeiramente mágico: capturar o movimento, preservar o tempo e, com isso, criar uma nova forma de arte que mudaria para sempre a forma como vemos o mundo e nos vemos a nós próprios. O cinema é, talvez, a forma mais completa de expressão artística já inventada pelo ser humano – uma síntese perfeita entre imagem, som, narrativa, performance, música e tecnologia.
Mas já paraste para pensar em como esta experiência aparentemente passiva pode, na verdade, alterar a nossa perceção do mundo, aguçar a nossa criatividade e até mesmo fortalecer laços sociais? A seguir, exploramos os 10 benefícios concretos que o cinema oferece, provando que cada play é, na verdade, um convite para expandir quem somos.
Os 10 benefícios que existem ao ver filmes
10. O cinema como terapia
Nos últimos anos, tem-se falado cada vez mais da “cinematerapia” – uma abordagem terapêutica que utiliza filmes como instrumentos de cura psicológica. E não, isto não é apenas conversa de cinéfilos apaixonados ou de realizadores que tentam justificar a sua profissão.
Segundo estudos da Universidade de Maryland, 15 minutos de riso genuíno proporcionado por uma boa comédia têm o mesmo benefício cardiovascular que 15 minutos de exercício físico. A investigação mostrou que os vasos sanguíneos dilatam cerca de 22% durante e após momentos de riso intenso, reduzindo a pressão arterial e diminuindo significativamente os níveis de cortisol, a famosa hormona do stress.
Curiosamente, até os filmes tristes ou de terror têm benefícios comprovados. Quando choramos durante um drama intenso, o nosso corpo liberta endorfinas, substâncias químicas naturais que aliviam a dor e induzem sensações de bem-estar. Já os sustos dos filmes de terror aumentam temporariamente os glóbulos brancos no nosso sistema, fortalecendo momentaneamente o sistema imunitário – embora não recomendo substituir a vacina da gripe por uma maratona de “Saw“.
9. O escapismo necessário
Num mundo cada vez mais caótico, onde as notificações não param de apitar e onde somos bombardeados com más notícias a cada segundo, o cinema inegavelmente oferece-nos algo precioso: o direito a desaparecer por algumas horas.
Este escapismo não é um mero ato de fuga irresponsável, como alguns críticos mais conservadores possam sugerir. É, na verdade, um mecanismo de auto preservação mental. Quando nos permitimos mergulhar completamente numa narrativa cinematográfica, o nosso cérebro tem a oportunidade de se reorganizar, de descansar das suas preocupações habituais e de processar emoções num ambiente seguro e controlado.
A IJSSH descobriu que ver um filme pode reduzir os níveis de ansiedade durante a sessão e manter esse efeito durante várias horas após. É quase como se o nosso cérebro, ao focar-se intensamente numa história externa, ganhasse uma nova perspetiva sobre os nossos próprios dilemas.
8. A experiência partilhada
O cinema é, desde a sua origem, uma arte fundamentalmente social. Mesmo antes da invenção do streaming e do conforto de vermos filmes no sofá de casa, havia algo de profundamente comunitário em sentarmo-nos numa sala escura com dezenas de desconhecidos, a vibrar, a rir e a chorar em conjunto.
Quando partilhamos a experiência de um filme com amigos, familiares ou mesmo estranhos, criamos laços invisíveis. Há algo de primitivo e reconfortante em sentirmos as mesmas emoções em simultâneo com outros seres humanos – como se, por momentos, as barreiras que nos separam se diluíssem e fôssemos parte de uma consciência coletiva.
Este aspeto do cinema é particularmente relevante em tempos de isolamento social. Um estudo conduzido durante a pandemia de COVID-19 revelou que pessoas que participaram em “sessões de cinema virtuais” – vendo filmes simultaneamente com amigos através de plataformas digitais – reportaram níveis significativamente mais baixos de solidão do que aqueles que consumiam conteúdos sozinhos.
7. Como os filmes moldam quem somos
Quem nunca sentiu vontade de ser mais corajoso depois de ver um herói enfrentar os seus medos? Ou de perdoar alguém após testemunhar uma reconciliação emocionante? Os filmes não são apenas entretenimento passivo – são modelos comportamentais, mapas emocionais e professores silenciosos.
Assim, a ciência mostra que um filme pode fazer-nos questionar valores que tínhamos como inegavelmente absolutos, confrontar-nos com preconceitos que nem sabíamos que tínhamos, ou inspirar-nos a tomar ações que transformam a nossa vida. Não é por acaso que tantas pessoas conseguem identificar filmes específicos como pontos de viragem na sua existência.
6. Um espelho da sociedade
O cinema tem também a capacidade única de funcionar como um espelho da sociedade ao refletir os seus problemas, contradições e aspirações. Filmes como “Fight Club” capturaram perfeitamente a crise de identidade masculina no final do século XX. “Parasite” expôs as crescentes desigualdades sociais do nosso tempo com uma precisão cirúrgica. “Matrix” antecipou a nossa relação problemática com a tecnologia e a realidade virtual.
Assim, quando assistimos estas obras, não estamos apenas a consumir – estamos a participar num diálogo cultural que nos ajuda a compreender o mundo. É através deste diálogo que conseguimos desenvolver empatia por experiências diferentes das nossas, alargar a nossa visão do mundo e, quem sabe, tornarmo-nos cidadãos mais conscientes e compassivos.
5. Uma janela para outras culturas
Num mundo cada vez mais dividido por nacionalismos e tribalismos, o cinema oferece-nos uma janela para outras culturas, tradições e formas de viver. Um filme iraniano pode transportar-nos para as ruas de Teerão, um documentário sobre os povos indígenas da Amazónia pode fazer-nos questionar a nossa relação com a natureza, uma comédia francesa pode revelar-nos nuances sobre as relações humanas que nunca tínhamos considerado.
Esta capacidade de nos fazer viajar sem sair do lugar não é apenas um exercício intelectual interessante – é inegavelmente uma ferramenta poderosa de desconstrução de estereótipos e preconceitos. Não só, está comprovado pela ciência que ver filmes estrangeiros ajuda a melhorar a nossa capacidade de aprender uma nova língua. Por isso, se quiseres ser o melhor poliglota do planeta, começa a ver filmes estrangeiros.
4. O desenvolvimento da literacia visual
Na era da saturação da informação visual, onde somos constantemente bombardeados com imagens estáticas e em movimento, o cinema de qualidade ensina-nos a ler e interpretar esta linguagem cada vez mais dominante no nosso quotidiano.
Assim, ao compreendermos como uma montagem rápida pode criar tensão, como a iluminação influencia a nossa perceção de uma personagem, ou como a banda sonora manipula as nossas emoções, tornamo-nos inegavelmente consumidores mais conscientes e críticos de todo o tipo de conteúdos visuais – das notícias televisivas às publicidades, dos vídeos nas redes sociais aos videojogos.
3. O desenvolvimento do pensamento crítico
Contrariamente à crença popular de que o cinema é uma forma de entretenimento passiva, os bons filmes exigem e estimulam o pensamento crítico dos espectadores.
Obras como “Memento” de Christopher Nolan ou “Mulholland Drive” de David Lynch desafiam as nossas capacidades de processamento narrativo, exigindo que façamos conexões complexas, interpretemos símbolos e questionemos a própria natureza da realidade apresentada. Este exercício mental não é muito diferente do que é exigido na resolução de problemas complexos no mundo real.
Além disso, filmes que abordam questões sociais, políticas ou éticas convidam-nos a formular e questionar os nossos próprios pontos de vista. Quando um filme nos apresenta um dilema moral sem oferecer respostas fáceis – como em “Sophie’s Choice” ou “Manchester by the Sea” – somos inegavelmente forçados a ponderar profundamente sobre valores fundamentais que orientam a nossa sociedade e as nossas vidas pessoais.
2. A inspiração para a mudança social
Ao longo da história, certos filmes conseguiram catalisar mudanças sociais significativas, alterando a forma como sociedades inteiras pensam sobre questões fundamentais.
“Schindler’s List” e “The Pianist” tornaram a realidade do Holocausto visceralmente presente para milhões de pessoas que, de outra forma, poderiam relacionar-se com este acontecimento histórico apenas de forma abstrata. “Filadélfia” contribuiu significativamente para mudar atitudes públicas em relação ao HIV/SIDA nos anos 90. Mais recentemente, documentários como “Blackfish” levaram a mudanças concretas nas políticas de parques marinhos que mantêm orcas em cativeiro.
Assim, o poder do cinema para inspirar a mudança social reside precisamente na sua capacidade de transcender argumentos intelectuais e atingir-nos num nível emocional profundo. Quando um filme nos faz sentir genuinamente a injustiça ou o sofrimento, torna-se muito mais difícil permanecermos indiferentes ou inativos.
1. O exercício da imaginação moral
A filósofa Martha Nussbaum fala da importância da “imaginação moral” – a capacidade de imaginar vividamente a situação de outras pessoas e de considerar as implicações morais das nossas ações. O cinema é, sem dúvida, um dos mais poderosos instrumentos de desenvolvimento desta faculdade crucial.
Quando um filme nos coloca perante dilemas éticos complexos – como em “Spotlight“, onde jornalistas lutam para expor abusos na Igreja enquanto reconhecem o impacto perturbador que as suas revelações terão na fé de milhões – estamos a exercitar a nossa capacidade de pesar valores contraditórios e de considerar as consequências das nossas escolhas.
Este exercício da imaginação moral não é um luxo intelectual, mas uma necessidade prática num mundo onde somos constantemente confrontados com questões éticas complexas, desde as mudanças climáticas até à inteligência artificial ou à bioética. Os filmes que nos desafiam moralmente preparam-nos para sermos cidadãos mais reflexivos e responsáveis.
Assim, o cinema, na sua melhor forma, não é apenas uma forma de passar o tempo. É inegavelmente uma arte transformadora que nos desafia, inspira e conecta com a nossa humanidade partilhada. É uma janela para mundos que nunca visitaríamos de outra forma, um espelho que reflete as verdades mais profundas sobre nós mesmos, e uma porta para possibilidades que talvez nunca tenhamos considerado.
Que filme mudou a tua vida? Aquele que viste na adolescência e que definiu os teus valores? Ou talvez um que descobriste recentemente e que te fez ver o mundo de forma diferente? Partilha connosco nos comentários.