Bestia, em análise
O horror histórico e psicológico ganha destaque com “Bestia”, um dos fortes candidatos a vencer o Óscar 2022 para Melhor Curta-Metragem de Animação.
“Bestia” faz-nos crescer um arrepio na pele à medida que a história se vai desenrolando. Indo às escuras para o filme, nem sabendo à partida do que se trata, exponencia a vivência da visualização, num suspense que dura praticamente o tempo inteiro da curta-metragem.
Hugo Covarrubias leva-nos numa viagem de horror com uma animação stop-motion terrifica, acompanhada da perfeita banda sonora, tudo junto resultando numa experiência marcante e numa curta de animação digna de nota.
Depois de “El almohadón de pluma” em 2007 e de “La noche boca arriba” de 2012, Hugo Covarrubias realiza “Bestia” a sua terceira curta de animação, desta vez baseada em fatos verídicos. O projeto nasce da intenção de abordar a história do Chile de forma menos convencional, mas crua e sombria. Covarrubias juntou-se assim a Martín Erazo para escreverem o argumento. Inicialmente, a ideia era fazer uma série animada, mas optou-se mais tarde por se focar apenas numa história e realizá-la numa curta-metragem.
A animação, a cargo de Covarrubias e Matías Delgado, dedicou-se a uma técnica de stop-motion, onde o design da protagonista, pretendendo transmitir inexpressividade e frieza da personagem, baseou-se na estética das bonecas de porcelana. Para contrastar com o brilho da cerâmica os cenários e decorações foram feitos com diferentes papéis opacos.
A curta foi produzida pela Trébol 3 com Tevo Díaz como produtor executivo. Não se pode ainda deixar de referir os nomes de Ángela Acuña e Camilo Salinas responsáveis pela música, que nesta animação sem diálogos ganha uma dimensão particularmente relevante e que contribuiu para criar todo o ambiente de “Bestia”.
A personagem principal do filme é inspirada em Íngrid Olderöck, major de polícia e agente da DINA (Dirección de Inteligencia Naciona) durante a ditadura militar chilena, responsável por violações de direitos humanos naquele período. Segundo Covarrubias, o objetivo do filme não é uma biografia de Olderöck, mas “uma visita à sua vida secreta, à sua relação com o seu cão, aos seus medos e frustrações, que são, em última análise, a radiografia de um país fraturado, uma país que está cheio de feridas que ainda não estão nem perto de cicatrizar”.
Um dos grandes favoritos ao Óscar 2022 para Melhor Curta-Metragem de Animação estreou em França, a 14 de Junho de 2021, onde foi exibido no Annecy International Animation Film Festival de 2021, competiu na seção de curtas-metragens e ganhou o Festival Connexion Award. Desde aí já participou em mais de 20 festivais, entre os quais o ANIMA – Córdoba International Animation Festival, o Berlin Interfilm Festival e o Curtas Vila do Conde 2021. Entre todas estas presenças a animação foi arrecadando 14 prémios e mais 7 nomeações.
No filme vemos Íngrid a atuar como um robô, num Estado autoritário que tenta não deixar espaço para pensar. Mas o pensamento é impossível de paralisar, escapando entre sonhos, divagações e muitos remorsos. As rachas na anormal normalidade da protagonista quebram a ilusão do funcionamento do país, expondo todas as atrocidades, quer profissionais, quer familiares. É especialmente forte a cena da bala, o apagador final, que tenta limpar toda uma vida, tanto o bom como o mau.
Terá “Bestia” de Hugo Covarrubias hipóteses ao Óscar? Muitos indicam-no como o favorito ao prémio tão cobiçado, e caso ganhe será bem merecido.
TRAILER | A FRATURA MACABRA DE UMA MENTE E DE UM PAÍS!
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Bestia, em análise
Movie title: Bestia
Movie description: Baseado em fatos reais, "Bestia" explora a vida de uma agente da polícia secreta durante a ditadura militar no Chile. Seu relacionamento com o cachorro, o corpo, os medos e as frustrações revelam uma sombria fratura na sua mente e no seu país.
Date published: 14 de June de 2021
Country: Chile
Duration: 15 minutos
Director(s): Hugo Covarrubias
Genre: Animação, Curta, Histórico
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Emanuel Candeias - 86
CONCLUSÃO
A vida de Íngrid em terror animado é uma experiência macabra e marcante que analisa um país fraturado e remorsos profundos. Hugo Covarrubias consegue em “Bestia” uma obra-prima que tem tanto de relevante como de arrepiante.
Pros
- Radiografia da ditadura militar chilena;
- Animação stop-motion;
- Música.
Cons
- O sentimento de incómodo que fica após vermos o filme.
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