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Black Mirror T7E1, a crítica | No futuro tudo continua a correr mal

[Nota do editor: este artigo inclui spoilers do primeiro episódio da nova temporada]. O projeto de ficção científica de Charlie Brooker, Black Mirror, regressou em força. Se pensávamos que era impossível conceber ainda mais cenários tecnológico-distópicos absolutamente insanos… Preparem-se: afinal, não só é possível como dá para os levar a cabo com absoluta mestria – daquelas que nos deixa a questionar durante dias seguidos o que acabámos de ver. 

“Black Mirror”, da plataforma de streaming Netflix, centra-se em temas obscuros e concomitantemente satíricos relacionados com o mundo da tecnologia. Desde redes sociais, implantes neuronais, realidades virtuais, videojogos até à Inteligência Artificial, por exemplo, a série explora como todas estas novas ferramentas do universo digital têm impacto na nossa vida… E todas elas, infelizmente e surpreendentemente, na maioria das vezes, são macabras.

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Desde a sua estreia, em 2011, a obra já acumulou inúmeras indicações e vários galardões. O Emmy de Melhor Telefilme ou Minissérie por “San Junipero” (2017), “USS Callister” (2018) e “Bandersnatch” (2019) são algumas das distinções que recebeu até hoje. Agora “Black Mirror” está de volta (desde 10 de abril) e parece ter a aspiração de alcançar novamente essa fasquia.

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No primeiro episódio da sétima temporada de Black Mirror o futuro arde. Mas nós gostamos de o ver queimar

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Após uma sexta temporada mediana com algumas surpresas e não mais, Black Mirror está de volta para nos relembrar que o futuro que aí pode vir é tudo menos risonho. Pelo contrário, é bastante lúgubre… Mas, – infelizmente? – nós gostamos do seu carácter taciturno (neste caso).

A famosa produção da Netflix parecia não prometer mais nada depois uma sexta temporada que ofereceu pouco. No entanto, entregou tudo. “Common People”, o primeiro episódio da sétima temporada desta série, apresenta-nos o casal de namorados Amanda (Rashida Jones) e Mike (Chris O’Dowd). O relacionamento de ambos corre às mil maravilhas até que a professora de Biologia é diagnosticada com um tumor cerebral, o que leva os dois ao desespero. Com efeito, neste estado de angústia, eles acabam por encontrar uma solução milagrosa – assim o pensam…

Trata-se de Rivermind, uma startup que promete manter Amanda viva ao substituir a parte do cérebro que ficou afetada pela doença por material sintético, sendo que antes desta troca é feito um backup das suas memórias. Assim, posteriormente, quer dizer, após a cirurgia, ela irá manter-se viva graças ao “trabalho” de servidores informáticos que estão sediados em vários locais dos EUA.

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Para pagar as mensalidades deste serviço, Mike começa a trabalhar cada vez mais, por turnos, chegando até ao cúmulo de se sodomizar em direto na Internet, a título de exemplo, para conseguir arrecadar mais dinheiro. Não obstante, todos estes esforços serão em vão, pois a empresa começa a tornar o serviço cada vez mais inacessível aos bolsos destas personagens, fazendo com que seja mesmo insustentável para eles pagarem o plano premium: aquele que permite a Amanda “viver normalmente”, sem que de repente se desligue da realidade para falar anúncios, tal e qual como se fosse um dispositivo eletrónico – algo verdadeiramente surreal, de facto. Ora, neste sentido, o casal acaba por definhar por completo, afundados pelas dívidas que os atolam, mas também pela tristeza, pela raiva que sentem contra este sistema.

Nesta série da Netflix viver custa mais do que morrer

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É o capitalismo neoliberal no seu estado mais puro em moldes que jamais tínhamos visto quanto mais imaginado. Brooker, o suprarreferido criador de “Black Mirror”, disse, em entrevista à Entertainment Weekly, que este “é um dos episódios mais sombrios da série”. Todavia, não sei se concordo exatamente… Se for pelo desfecho não; se for pela história em si sim.

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A trama que desenvolve é muito mais tenebrosa do que a própria morte ao expor-nos uma das múltiplas possibilidades que um futuro tecnocrata que não olha a meios para atingir fins reserva para nós. Talvez a série falhe ao não nos mostrar qualquer tipo de resistência por parte dos protagonistas, mas será isto um erro? Não sei precisar.

Se lutas até ao fim e essa luta, no fundo, não vale nada num Estado que só olha a lucro, mesmo no que concerne à saúde, que não só tropeça na Ética como a pisa literalmente, secalhar resistência poderá ser decidir não mais alimentar esta “corrida de ratos” e aceitar que como humanos, ao contrário das máquinas, nós curvamo-nos. E isso não significa desistir: é ganhar.

Já viste o primeiro episódio desta nova temporada Black Mirror? Concordas? 


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