Blue Moon: Richard Linklater e Ethan Hawke são os primeiros candidatos aos Óscares 2026
Richard Linklater está de volta à Berlinale, cerca de 11 anos depois de ter ganho o Urso de Prata pelo seu Óscar com “Boyhood”. Mas desta vez com “Blue Moon”, um melancólico filme com Ethan Hawke, passado num único cenário, um bar da Broadway, na noite de estreia do musical “Oklahoma!”, em 1943. Além do potencial Urso de Ouro, “Blue Moon” é já um dos candidatos aos Oscar 2026.
“Blue Moon” de Richard Linklater, com Ethan Hawke no papel do letrista e compositor Lorenz Hart foi oficialmente apresentado ontem à noite na Competição da Berlinale 75. Ainda faltam alguns filmes para o final, mas arrisco já a dizer que pode ser facilmente o Urso de Ouro 2025.
E convencer mesmo, o júri presidido pelo cineasta alemão Tom Tykwer, que tem grande apreço por filmes feitos para grandes audiências. Enfim, eu próprio acho sinceramente quase deixarei de acreditar no valor dos festivais, se o filme de Linklater não for um dos vencedores, até porque não podia haver melhor prenda para comemorarmos a 75ª edição do Festival de Cinema de Berlim.
“Blue Moon” é uma prenda para a Berlinale 75
De qualquer modo, sempre que um novo Richard Linklater é lançado nos festivais internacionais, torna-se motivo de comemoração. O cineasta texano tem uma das mais impressionante filmografias da história do cinema americano contemporâneo: “Dazed and Confused”, “Waking Life”, “Boyhood”, “A Escola do Rock”, “Todos Querem o Mesmo” e, claro, a trilogia ‘Before’, bem como o seu anterior “Assassino Profissional”, estreado há pouco tempo em Portugal, filmes absolutamente marcantes, como vai ser decerto este “Blue Moon”.
O filme ainda não tem data de estreia, mas o mês de maio era o previsto pela Sony Pictures Classics. Pode muito bem depender da recepção entusiástica ou de prémios aqui na Berlinale. Aposto no Urso de Ouro! “Nouvelle Vague”, o novo filme de Richard Linklater também provavelmente será exibido no Festival de Cannes em maio próximo.
A dupla Richard Linklater & Ethan Hawke
“Blue Moon” é sobre uma dupla de criativos da Broadway do século passado: Heart & Rodgers. Porém, Richard Linklater e Ethan Hawke têm colaborado em alguns dos filmes mais interessantes, perspicazes e humanos — a trilogia “Before” e “Boyhood”, inclusive — do cinema de Hollywood deste século XXI, sempre numa interacção tão completa, quanto a harmonia das belas e inesquecíveis melodias da dupla Hart & Rodgers, como “Blue Moon”, “My Funny Vallentine”, entre tantas outras e bem conhecidas.
Um génio criativo em decadência
Como em “Antes do Amanhecer”, este “Blue Moon”, volta a ser um filme rodado (ou aparentemente?) em tempo real. Desenrola-se, na noite de 31 de março de 1943, ao longo de 100 minutos, logo após a estreia do musical “Oklahoma!”, o primeiro sucesso de outra dupla Rodgers & Hammerstein, entretanto formada na Broadway, depois do rompimento criativo Hart & Rodgers.
O filme passa-se praticamente todo, no Sardi’s Bar, durante o pequeno cocktail a seguir à estreia, onde Rodgers (Andrew Scott) recebe o seu público, amigos e admiradores, enquanto procura manter delicadamente à distância Lorenz Hart (Ethan Hakwe), o seu antigo letrista e colaborador criativo, cujas bebedeiras e inseguranças — muitas vezes também o excesso de confiança e a inconveniência — deixava as pessoas desconfortáveis.
A melhor interpretação da carreira de Hawke
Ethan Hawke sofre uma transformação física incrível, para compor de uma forma notável uma interpretação quase teatral, com longos diálogos, mas nunca exagerada, de Lorenz Hart, como um alcoólico de um metro e meio, sexualmente ambíguo, precariamente empoleirado no balcão do bar.
Lorenz Hart (Hawke), que foi letrista e parceiro criativo de Rodgers durante 20 anos, antes de Oscar Hammerstein substituí-lo, está visivelmente incomodado, com o sucesso de “Oklahoma!”, com ponto de exclamação. O antigo génio da Broadway vê-se que está agora está desgastado pelo alcoolismo e pela depressão. Quando essa noite terminar, Hart será confrontado um mundo irrevogavelmente mudado pela guerra e uma aparente impossibilidade do amor e terá pouco tempo de vida.
Com atuações poderosas de Ethan Hawke como Lorenz Hart, Andrew Scott como Richard Rodgers, Margaret Qualley como Elizabeth, a protegida de Hart e Bobby Cannavale como barman, amigo e confidente de Hart, o filme captura na perfeição, com o toque hábil e cómico de Linklater, um momento singular e surpreendente no tempo, do mundo do entretenimento.
“Blue Moon”, a comédia de época de Richard Linklater, assume claramente a perspectiva da decadência de Lorenz Hart, o grande letrista americano, que era metade de Rodgers & Hart antes dessa tremenda separação criativa, que deu a continuidade do sucesso a um e o desaparecimento a outro.
“Blue Moon” é um forte candidato aos Óscares 2026
É muito cedo para começar a falar sobre os prémios da industria de cinema e ainda não chegámos ao final da Competição da Berlinale 75. Mas provavelmente, considerando o nível de talento envolvido, o notável trabalho de realização, a interpretação dos actores, sobretudo de Hawke, o guarda-roupa, o design de produção, a música, a melancolia e o saudosismo no melhor dos sentidos; e considerando que a Academia de Hollywood, ama histórias reais de lendas do entretenimento americano, “Blue Moon” além de ser já aqui um potencial vencedor do Urso de Ouro 2025, pode muito bem começar já a trabalhar para a corrida aos Oscar de 2026. Não tenho dúvidas, sem ponto de exclamação.
O que pensas da colaboração entre Richard Linklater e Ethan Hawke.