Cinema Europeu? Sim, Por Favor | Ernest et Célestine

Imaginemos um mundo onde impera a existência de ursos e ratos.

Os ursos moram por cima, os ratos por baixo. O que têm em comum? O eterno mito do medo que os mantêm separados desde o início da sua existência: as espécies não podem coexistir. Existindo um género de culto do terror, os ratinhos vivem atormentados com a ideia de que, se espreitarem o mundo lá fora, irão defrontar-se com o Urso Grande e Mau. Os ursos, por sua vez, vêm os ratos como uma praga do submundo que devem ignorar e aniquilar das suas vidas – ou, eventualmente, em caso de fome extrema, comer.

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Célestine é uma roedora que sonha alto e em grande, mas se vê fortemente pressionada para reprimir os seus desejos de desbravar o mundo que a espera: no meio do dormitório onde está inserida, a ratazana more faz questão de martirizar os seus súbditos com terrores estrangeiros e histórias longínquas que não se devem sequer desafiar. É, assim, neste meio, que Célestine aprende a esconder os seus estimados desenhos que, ao contrário do que é formatada, relatam a sua vontade de se relacionar com uma espécie diferente da sua: um urso amigável.

Entretanto, num dia atarefado em que Célestine sai da toca na missão mais sustentável da sua sociedade – recolher dentes de urso – acaba por encontrar Ernest, um grande urso com muita fome. Ignorando todos os medos impostos, Célestine enfrenta o grande malvado e sugere-lhe uma alternativa que lhe sacia a barriga de forma mais eficaz – e é desta forma que a troca de favores se estende para uma amizade mais forte que qualquer nó.

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Ernest et Célestine, de título original, apresenta-se como uma das animações mais doces do século XXI e, infelizmente, poucos deram por ela. Realizada por Stéphane Aubier, Vincent Patar e Benjamin Renner e de produção francesa e belga, o filme de animação dirige-se a qualquer idade. A história é uma parábola previsível mas diferente e adaptada à sociedade racista e xenófoba onde ainda vivemos hoje em dia. Para crianças e adultos, Ernest e Célestine mostra-nos que a amizade pode estar nos locais e nos seres mais improváveis que possamos imaginar, e lembra que as relações pessoais não dependem de aspetos físicos nem de juízos pré-concebidos. Depende, sim, da nossa humildade e na capacidade de aceitar as diferenças que nunca nos deveriam separar.

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Além da bonita narrativa, devemos ainda bajular os simples e artísticos traços de aquarela que dão vida à pelicula, apresentando diferentes formas e cores, fugindo ao mainstream e sublinhando que a animação não precisa de ser toda igual, e que existe uma excelência bastante cândida nos traços não digitais. Em 2014, o filme os nossos amigos foram nomeados pela Academia para a categoria de Melhor Filme de Animação.

MJ.



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