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Donald Trump na Competição de Cannes com The Apprentice, em análise

O que transformou Donald Trump numa figura tão polarizadora e controversa? Como um pequeno e inseguro empresário, sem muito sucesso, se transformou num milionário? Estas questões são de certo modo respondidas em “The Apprentice”, de Ali Abassi, que traça a ascensão do magnata do mercado imobiliário nas décadas 70 e 80 e procura mostrar as sementes da sua insensibilidade e megalomania. 

*Artigo originalmente publicado na cobertura do Festival de Cannes 2024

“The Apprentice” é quarto filme do competente realizador dinamarquês de origem iraniana Ali Abbasi e o terceiro consecutivo a ser exibido no Festival de Cannes: “Border” ganhou o prémio principal da secção Un Certain Regard em 2018, enquanto o excelente “Holy Spider” (2022), rendeu o de Melhor Atriz, à sua compatriota Zar Amir Ebrahimi.

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De regresso à Competição principal, Abbasi apresentou-nos um drama amargo e ao mesmo tempo com algum humor, mas sobretudo muito oportuno em termos do atual contexto político internacional: Donald Trump está a montar uma campanha para reconquistar a presidência dos EUA, no próximo Outono.

Além disso, não podemos esquecer o mérito de ser o primeiro filme dedicado a um homem controverso que decerto dominará as manchetes dos media — especialmente nos EUA — durante os próximos meses. Curiosamente, “The Apprentice”, que está aqui também no Mercado do Filme, foi vendido para vários territórios mas ainda não está garantida a sua distribuição nos EUA.

Seja como for, também é de destacar a contenção de Ali Abassi na sua estreia num filme em língua inglesa já que não nos apresenta uma abordagem decisiva e definitiva, sobre o homem cuja ganância e ambição, chegou à Casa Branca. O filme foi escrito pelo jornalista Gabriel Sherman, da New York, e recebe este título de um reality show da NBC que restaurou o brilho de Trump, no século XXI.


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The Apprentice, a biopic de Donald Trump

Conhecemos Trump (Sebastian Stan) em meados da década 70, não mais do que um tipo inseguro, porém já aspirante a movimentar e agitar o mundo imobiliário de Nova Iorque, apoiado no background do seu pai. Trump é então apresentado ao temido e amoral advogado Roy Cohn (Jeremy Strong), aliás uma figura real relevante também na famosa minissérie “Anjos na América” de Mike Nichols, a partir da peça de Tony Kushner.

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Cohn torna-se estranhamente um admirador de Trump e coloca-o sob a sua proteção, ensinando-lhe todos segredos para ser um vencedor (‘killer’), enquanto este faz crescer rapidamente o seu império empresarial e atrai a sedutora socialite de origem checa Ivana Zelnickova (Maria Bakalova), para sua noiva.

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Além disso também é natural que, um elenco ou melhor um trio de estrelas em ascensão, Sebastian Stan, — o ator que faz de Winter Soldier em “Capitão América“, que ganhou o Prémio de Melhor Interpretação por “A Diferent Man”, na Berlinale 2024,— Jeremy Strong, de “Sucession” como Roy Cohn, o implacável advogado nova-iorquino, uma das primeiras figuras conhecidas a morrer de SIDA e por fim Maria Bakalova —nomeada ao Oscar por “Borat 2”), em Ivana Trump, despertassem bastante expectativa para este filme. E na verdade o melhor mesmo de “The Apprentice” são as interpretações dos três atores.

Inicialmente, vamos entrar no relacionamento de Trump e Cohn — o de discípulo ansioso e do professor maquiavélico — que desencadeia na sua essência, o crescimento do personagem principal e a história das suas origens. Abbasi resiste humaniza-lo e Stan evita fazer uma caricatura simplista, mesmo que sigamos uma certa empatia inicial pelo tipo de certo modo ingénuo e elegante que até dá uns ares de Robert Redford.

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No entanto, Stan faz um trabalho notável ao capturar muito bem o maneirismo e os tiques faciais de Trump: os lábios franzidos, os gestos espasmódicos com as mãos, a cabeça inclinada para a frente para transmitir uma sensação de resistência, mantendo sempre o personagem na medida certa e sem exageros.

Contudo, apesar do extraordinário e apurado trabalho de época ao nível do design de produção do artista Aleksandra Marinkovich e da figurinista Laura Montgomery, o realizador Abbasi tem dificuldade em encontrar uma justificação bastante convincente para explicar a ascensão de Donald Trump: não vai buscar os obstáculos que por vezes bloqueiam o seu caminho — entre outros conhecidos, as acusações de violação e maus-tratos de Ivana, posteriormente retiradas — ou revelações mais profundas sobre o magnata, exceto a forma como Trump depois de servido, lidou com o declínio e a doença de Cohn.

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Há em “The Apprentice”, um fascínio sombrio sobre o lado negro do personagem, mas não são explicadas as razões de Trump ser um ‘produto genuíno’, do excepcionalismo americano. Tudo se passa com grande superficialidade, apresentando-nos um egomaníaco irredimível, mas que não consegue deixar de todo a sua marca.

Festival de Cannes em direto:

Curioso para ver este filme depois da estreia no Festival de Cannes?

The Apprentice, em análise

Movie title: The Apprentice

Movie description: The Apprentice” acompanha a ascensão da carreira de Donald Trump, um dos maiores empresários dos EUA e que se tornou no 45º Presidente do país. A trama segue um jovem Trump (Sebastian Stan) na cidade de Nova Iorque entre os anos 70 e 80, tentando erguer um novo império de negócios imobiliários, além de sua relação com o advogado Roy Cohn (Jeremy Strong) e o casamento com Ivana (Maria Bakalova). Entre ligações de poder, amizades e o sentimento de mentor-protegido, o filme narra no fundo as história das origens de Donald Trump. 

Country: Canadá, Dinamarca, Irlanda

Director(s): Ali Abbasi

Actor(s): Sebastian Stan, Jeremy Strong, Maria Bakalova

Genre: Biografia, Drama, História

  • José Vieira Mendes - 60
60

Prós e Contras

O melhor: A interpretação dos três actores principais, sobretudo a de Sebastian Stan que faz um trabalho notável ao capturar muito bem o maneirismo e os tiques faciais de Trump, mantendo sempre o personagem na medida certa e sem exageros.

O pior: Apesar do fascínio sombrio sobre o lado negro do personagem, não são explicadas as razões de Trump ser um ‘produto genuíno’, do excepcionalismo americano.

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