Isaak, representante da Alemanha na Eurovisão © Valentin Ammon

De Músico de Rua ao palco da Eurovisão, Isaak é representante da Alemanha (Entrevista)

Nunca pensou competir para a Eurovisão, mas agora está no maior palco de música do mundo. Falamos com Isaak, o representante da Alemanha, na Eurovisão 2024. 

Sumário:

  • Issak era um músico de rua antes de chegar aos palcos da Eurovisão, mostrando a determinação do artista;
  • “Eu penso que tudo na minha vida me inspira a escrever, mas não sei exatamente aquilo que é. Nesse momento em que estou a escrever apenas sinto e procuro cordas, melodias e construímos alguma instrumentalização.”;
  • “Fui fortemente influenciado por uma música da Eurovisão, aliás, que representou a Alemanha: do Mat Mutze“.
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De músico de rua ao palco da Eurovisão 2024, Isaak é um exemplo vivo de que os sonhos devem ser perseguidos incansavelmente. Como representante da Alemanha em Malmö com “Always On The Run”, Isaak apresenta uma canção autobiográfica que aborda os seus desafios ao lidar com o défice de atenção. A canção narra a sua história, e oferece uma mensagem poderosa de perseverança e determinação para todos os que se sentem injustiçados ou escondidos.

Ouve Always on the Run de Isaak

Desde tocar em casamentos até competir no Factor X da Alemanha, Isaak enfrentou vários obstáculos na sua carreira. Precisaríamos recuar até quando tinha apenas 12 anos e decidiu se aventurar como músico de rua. Alimentado por uma paixão profunda pela música, cedo aprimorou suas habilidades em instrumentos como guitarra, piano, ukulele e bateria. Durante esse período, não apenas desenvolveu a sua voz inconfundível, que ressoa profundamente com o público, como tornou-se num verdadeiro ator de palco. Sabe dominar a sua presença com uma voz que arrepia, entre as melhores que vamos ouvir na Eurovisão.

Além de ser um artista talentoso, Isaak é um pai dedicado à sua mulher e aos seus dois filhos. É um homem caseiro, enquanto conversa na sua sala de estar com instrumentos por detrás. As suas experiências como músico de rua moldaram sua arte, proporcionando-lhe uma conexão genuína com o lado mais emocionante da música. Mais do que fama, procura que a Eurovisão seja um palco onde a sua voz ressoe para o seu público e para outro que está disposto a ir além das músicas de rádio. Afinal há sempre música para descobrir, tendo em conta as inúmeras plataformas que podemos ouvir.

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Entrevista a Isaak

MHD: Como é que encontraste inspiração para “Always on the Run”?

Isaak: Quando escrevo uma canção não estou sempre a pensar naquilo que me está a acontecer hoje e amanhã decido escrevê-la. Eu penso que tudo na minha vida me inspira a escrever, mas não sei exatamente aquilo que é. Nesse momento em que estou a escrever apenas sinto e procuro cordas, melodias e construímos alguma instrumentalização. Quando temos, sentamo-nos e ouvimos aquilo que foi feito. Ouvimos e percebermos de que forma se poderá iniciar uma reflexão, ou seja, que memórias me surgem. Que sentimentos e emoções são esses… Tento colocar algo no papel a partir daí. E todas as vezes que escrevo é dessa maneira.

MHD: O que poderemos esperar da tua performance no palco da Eurovisão?

Isaak: Sabes aquilo que as pessoas vão ver na Eurovisão serei eu. Acho que teremos algumas surpresas, mas nada relacionado com guarda-roupa. Quero que as pessoas me vejam. Não quero que pensem ‘o que aconteceu ao Isaak?’. Mudámos algumas coisas no palco. Vamos ter muito fogo e também tivemos de mudar a música.

Eu já estava a pensar mudar a música para a final na Alemanha, mas infelizmente falhámos a data limite. Isto porque a música original tem 3 minutos e 30 segundos e tivemos de cortar a canção para apenas 3 minutos. Eu queria mudar algumas coisas para celebrar algumas partes, para que permitissem mais dinamismo. Fizemos a mudança depois da final e temos alguns momentos dramáticos, mas a meio temos o beat do verso! Espero que as pessoas gostem.

eurovisão isaak
Isaak no palco da Eurovisão 2024 © Alma Bengtsson / EBU
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MHD: Será que me poderias contar o que mais surpreendente te aconteceu durante esta caminhada para a Eurovisão, especialmente quando pensas no apoio dos fãs e nos eventos como as pré-festas eurovisivas? 

Isaak: Acho que aquilo que mais surpreendente me aconteceu foi uma entrevista que tive de dar num avião bastante pequeno e estava eu mesmo a pilotá-lo! Em relação às pré-festas foi o facto que percebi que a Eurovisão, o evento e o círculo de fãs são completamente loucos! Vi as pré-festas e vi as pessoas em frente do palco. Antes dos artistas subirem ao palco já estava um DJ a tocar música dos outros anos e os fãs sabiam as letras de cor, mesmo das canções de língua não inglesa. Não apenas o refrão, versões… todas as partes da canção. Espanhol, italiano, francês, alemão… conseguiam cantar aquilo tudo! Nunca vi nada assim. Sabiam já as letras das músicas deste ano!

MHD: Tens algumas admiração por músicas que passaram na Eurovisão no passado e que te influenciaram de alguma forma?

Isaak: Claro! Sem dúvidas. Fui fortemente influenciado por uma música da Eurovisão, aliás, que representou a Alemanha: do Mat Mutze. É uma espécie de pop-jazz alemão que eu admiro bastante. Eu já toquei essa música inúmeras vezes em casamentos e em tantos concertos! A partir daí, comecei a explorar outros artistas mundiais, como por exemplo, o Jason Martz. Acho que é o artista que mais me tem tocado.

Ouve já Max Mutze com “Can’t Wait Until Tonight

MHD: E tocaste na rua? Deve ser a sensação mais mágica de todas. 

Isaak: E é! Só precisas de ter os teus instrumentos, não precisas de contar nada a ninguém nem precisas de organizar nada. Só precisar de pegar nas tuas coisas e sair à rua. Constróis tudo diretamente no local em 5 a 10 minutos, onde ninguém te reconhece. Em apenas alguns minutos verás pessoas que vão reconhecer a música e vão querer ouvi-la. Quem não tem interesse sincero seguem em frente. Portanto, à tua frente estão apenas as pessoas que realmente apreciam aquilo que estás a fazer. São pessoas que realmente adoram aquilo que fazes. Passo sempre bons momentos quando estou a tocar música nas ruas.

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Ouve já Jason Mraz – “I’m Yours

MHD: A Eurovisão tem fãs e tem pré-festas… Mas ainda não é um concurso cujas músicas passem muitas vezes nas rádios. Como é que a Eurovisão é diferente de outras competições musicais?

Isaak: Em primeiro lugar acho que a Eurovisão é o melhor concurso musical de sempre. Eu reconheço que os concurso aqui da Alemanha são muitas vezes sobre cantar. Não precisas de uma extraordinária produção artística para a tua apresentação em palco. Na Alemanha só precisas saber cantar. Na Eurovisão há espaço para tudo! Não precisas de ser bonito, não precisas de te vestir bem… Nem sequer importa se podes cantar ou não. Existem muitos países que participam na Eurovisão com artistas que ouves, mas seria quase impossível compará-lo aos maiores artistas mundiais, como por exemplo a Beyoncé ou outros. Existem muitas pessoas que estão a fazer arte na maneira mais crua. Acho que a Eurovisão oferece-nos isso.

As músicas até podem passar na rádio… Pode não acontecer em todos países, mas acredito que mais e mais países vão fazer as pessoas ouvir as músicas da Eurovisão. A rádio é um meio em si mesmo. Não tocar na rádio não significa que a música não seja boa. Na Alemanha e em muitas rádios da Europa, existem muitas regras… A canção tem de ser limpa e tem de te captar a atenção do ouvinte em apenas 30 segundos. Tens de ficar agarrado! Na Alemanha pouco passam música alemã. A boa música não precisa de estar na rádio, porque existem formas de promover a tua canção, seja através da internet, das redes sociais ou em podcasts. A rádio é uma extraordinária plataforma, mas precisamos de ir além.

Eurovisão 2024
Isaak no palco da Eurovisão © Alma Bengtsson / EBU
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MHD: Gostaria de saber que conselho darias a artistas que têm medo de se expressar ou de sair da sua zona de conforto.

Isaak: Quando escrevo músicas não penso no género ou no conceito, no qual aquela a canção se deveria encaixar. Quero estar disposto à criatividade, sem bloqueios. Quando penso naquilo que melhor se adequa à canção, estarei feliz no final do dia. Tudo pode acontecer durante o processo de escrita de uma canção. Só não qual será a melhor maneira de alcançar um objetivo como o que referes, mas sempre procurei seguir aquilo que me era mais lógico. Não me sinto corajoso ou algo do género. Foi apenas aquilo que me fez sentido. Aquilo faz-me sentido e o restante não. A minha voz interior sempre funcionou dessa maneira. Eu aprendi a ouvir a minha voz interior o mais possível.

MHD: Muito obrigado!

Entrevistas Eurovisão 2024

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