Festival de Cinema de Veneza 2024: Até onde pode ir um pai em Jouer avec le feu
“Jouer avec le feu”, da dupla de irmãs francesas Delphine e Muriel Coulin, apesar de ser uma história de família, trata de um tema que não poderia ser mais atual: porque é que atualmente, os jovens no mundo inteiro, são atraídos pelo extremismo. Mais uma dos bons filmes desta Competição de Veneza 81.
“Jouer avec le feu”, de Delphine e Muriel Coulin (“17 Girls”, César Revelação em 2011) é mais um filme francês e um dos vários realizados por duplas que estão presentes na Competição de Veneza 81. O filme é uma adaptação do romance de estreia “Ce qu’il faut de nuit (2020)”, do escritor-revelação francês Laurent Petitmangin. Através de um doloroso e tocante relato o livro conta a história de um pai lidando com seus dois filhos quase adultos, ao mesmo tempo que explora a atual dramática crise social — não apenas em França — tal como a incapacidade da classe política de oferecer perspectivas de futuro, às gerações mais jovens. O romance foi aclamado pela crítica e recebeu inúmeros prémios literários, até e finalmente chega ao cinema com muita oportunidade, pelas mãos das duas irmãs realizadoras francesas.
“Jouer avec le feu” foi escrito pelas Coulin, com a colaboração direta do próprio Petitmangin, e com uma enorme realismo e objetividade, conta a história de Pierre, um ferroviário viúvo de cinquenta anos, interpretado por Vincent Lindon — um dos maiores atores franceses da atualidade — que cria sozinho os seus dois filhos, Louis (Stefan Crepon) e Fus (Benjamin Voisin). Os três são muito próximos e colaborastes, até que o mais novo dos dois rapazes, Louis, tem que sair de casa para estudar na Universidade La Sorbonne, em Paris.
Jouer avec le feu descreve a dor aguda de um pai zeloso perante o populismo de direita
Por outro lado, Fus, o irmão mais velho menos brilhante nos estudos, começa então a fechar-se em si mesmo e, fascinado pela violência, envolve-se com grupos de extrema-direita com ideias e valores opostos aos do seu pai. “Jouer avec le feu” além de tratar temáticas muito atuais, descrever ainda de uma forma bastante incisiva — graças à notável interpretação do trio de atores — a dor aguda e o sentimento absoluto de desorientação e impotência de um pai zeloso e dedicado, diante das consequências que a atual deriva do populismo de direita, tem influência no seu filho mais velho, que começa com a desilusão, torna-se num desgosto ainda maior.
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