Força Ralph, em análise

 

Título Original: Wreck-It Ralph

Realizador: Rich Moore

Vozes (original): John C. Reilly, Jack McBrayer, Sarah Silverman

Vozes (dobragem): Pedro Laginha, Alexandre Carvalho, Carla Garcia

Género: Animação, Comédia, Familiar

Disney | 2012 | 101 min

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Não é que 2011 tenha sido um ano para esquecer para o Cinema de animação… mas a verdade é que não foi dos mais brilhantes. Até ao momento, e em muitas instâncias, para alegria da criança dentro de nós, 2012 parece desejar ardentemente restaurar a alma do convento.

As comparações são inevitáveis, portanto mais vale despachá-las já: se cruzássemos ‘Toy Story’ com ‘Tron’ à vista de uma lente de 8 bits, não haveríamos de aterrar muito longe de ‘Força Ralph’, a nova animação da Disney que enquanto se regozija com a homenagem declarada ao estilo retro o combina com o estado-de-arte da tecnologia.

Ralph é um vilão de proporções hercúleas de um jogo (Fix-It Felix Jr.) onde tem de destruir os edifícios que o herói Felix constrói. Contra todas as expetativas, o colosso não passa, no entanto, de um tipo simpático encurralado na personagem que lhe coube interpretar. Um dia, cansado de ser o mau da fita, Ralph abandona o seu jogo para tentar mostrar aos colegas que tem bom coração. Mas ao invadir outros jogos cheio de boas intenções e na busca de uma desejada medalha de “herói”, acaba por despoletar uma série de consequências que põem em risco todos os jogos vizinhos.

É um dos filmes familiares mais inventivos e divertidos do ano e, porventura, a animação mais viva e alegre, que fará os miúdos arrastar os graúdos para as salas. Ou talvez até seja ao contrário. Mas pouco importa a mecânica de como se lá chegou. O que importa é ir ver, pôr a moeda na máquina e deixar-se levar pela mistura amorosa de aventura e nostalgia incrustada num verdadeiro ensaio sobre a amizade e a moralidade.

Apelará a gostos dos mais pequenos “encantáveis” pela vida do filme, dos gamers convictos que passaram anos a fugir dos fantasmas do Pacman, e dos comuns mortais, que sem vícios ou engenho para passar para o nível seguinte, apenas procuram uma tarde ou um serão divertido, culminado com uma mensagem que importa.

É claro que por mais amor que se tenha à “cultura gamer”, este não chega para construir um bom filme – como em várias instâncias vimos confirmar-se, dado que é um “género” cinematográfico com uma “taxa de mortalidade crítica” como nenhum outro. É necessária também uma história que faça a viagem valer a pena, e que, enquanto se mostra apaixonada pela cultura que homenageia, não a usa como desculpa para descuido noutros departamentos.

E é neste sentido que ‘Força Ralph’ reflete muito do ethos e pathos da “vizinha” Pixar – o que não é de admirar, uma vez que John Lassetter (realizador de Toy Story 1 e 2) é o diretor criativo da Pixar e da Walt Disney. Nos últimos anos, e sobretudo com a supremacia da animação Pixar, tem-se colocado a questão se a Disney alguma vez voltará a recuperar o seu estatuto no Cinema do género. O tempo não volta para trás, mas com “Entrelaçados” e “Força Ralph” parece querer voltar a revelar-se como uma potentíssima força a ser reconhecida.

Rich Moore (veterano do pequeno ecrã, tendo dirigido vários episódios de ‘Simpsons’ e ‘Futurama’) aborda esta “aventura jogável” com uma técnica considerável, sendo capaz de interligar elementos distantes (onde se incluem diferentes tipos de animação) numa história afetante sobre um mau-da-fita solitário que só queria ser visto como herói.

A nível narrativo, e apesar do tom entusiasmante, o trecho final sente-se enfraquecido e alguns elementos do enredo acabam resolvidos atabalhoadamente. A história é menos focada que uma generosa parte dos “clássicos” Pixar, mas é uma explosão de alegria pura que culmina com uma mensagem positive e clara, sem ser sobre expositiva. Phil Johnston e Jennifer Lee, que trabalharam a partir de uma história do próprio Johnston, Rich Moore e Jim Reardon criam uma teia exuberante de personagens que não mais queremos largar.

O design e a animação, sem serem pioneiros ou revolucionários, são especialmente deliciosos e imaginativos. Relativamente à banda sonora original é pontuada por efeitos sonoros deliciosos a lembrar a magia Arcade, e a banda sonora “adicionada”, podemos dizê-la eclética, com escolhas que vão desde Skrillex a Rhianna.

Por fim, e no que respeita às performances vocais – ainda só assisti à versão portuguesa – e apesar de Pedro Laginha não parecer uma escolha óbvia para o gigantesco protagonista, a verdade é que se trata de uma interpretação viva, com nuances e surpreendentemente adequada. Carla Garcia ataca com unhas e dentes a concorrência de Sarah Silverman no original, criando a sua própria versão de Vanellope, que rouba autenticamente cada cena que protagoniza.

O coração ou a alma não se fingem, ou copiam, ou falsificam. Técnicas, estruturas, traços de personagens, dispositivos de enredo podem ser reproduzidos. O coração e a alma, não.

O coração e alma são conjuntos de aspetos que se combinam num conglomerado mágico, capaz de forçar um sorriso na expressão mais taciturna, ou de introduzir a sensação de uma bola na garganta, que instantaneamente humidifica os olhares mais sensíveis.

E ‘Força Ralph’ tem coração e alma para dar e vender.



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