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Hammarskjöld: Luta pela Paz, a Crítica | Secretário-Geral das Nações Unidas luta pela liberdade

Em “Hammarskjöld: Luta pela Paz”, Per Fly dá a conhecer o último ano de Dag Hammarskjöld como Secretário-Geral das Nações Unidas.

Diplomata, economista e escritor sueco, Dag Hammarskjold nasceu em Jonkoping (cidade do Sul da Suécia) a 29 de Julho de 1905 e morreu a 18 de Setembro de 1961 nos arredores de Ndola (na antiga Rodésia do Norte, actual Zâmbia). Segundo as mais recentes investigações, será correcto dizer que foi assassinado, acabando vítima de um atentado perpetrado por forças mercenárias ao serviço de interesses neo-coloniais que abateram o avião onde seguia para se encontrar com o líder secessionista do Katanga, o arrivista e homem de mão da antiga potência colonial, a Bélgica, e auto-proclamado presidente daquela província do Congo, Moise Kapenda Tshombé (1919-1969).

Hammarskjöld
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Meses antes, este fantoche do imperialismo havia sido responsável pelo rapto ou, na mais suave das interpretações, por uma “passividade” activa no assassinato de outro líder africano, de algum modo o seu arqui-inimigo do ponto de vista político e ideológico, o primeiro-ministro eleito após a independência do então Congo Belga, Patrice Lumumba (1925-1961).




Morte de um Diplomata e os Fantasmas da Intimidade

“Hammarskjold” (Hammarskjold – Luta Pela Paz), 2023, realizado pelo dinamarquês Per Fly (Borgen), procura resumir, com a devida atenção mas com a evidente economia de meios de uma produção média europeia, os derradeiros dias de vida e afincados dias de luta que o diplomata, na altura Secretário-Geral das Nações Unidas, protagonizou a favor da descolonização do continente africano. Dag Hammarskjold (interpretado no filme por Mikael Persbrandt) acreditava que aquilo que se passasse no Congo iria influenciar de forma muito clara (e provavelmente nos seus mais secretos desejos, de um modo positivo) os acontecimentos futuros rumo a uma verdadeira independência não só do povo congolês mas igualmente dos restantes povos africanos que poderiam assim, ao fim de séculos de submissão a poderes estrangeiros, passar a ser donos e senhores dos seus destinos.

Hammarskjöld
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E Angola estava ali bem perto…! Naturalmente, não seria ingénuo ao ponto de ignorar ou simplesmente esquecer as circunvoluções da geoestratégia internacional num período em que se acentuavam os efeitos mais funestos da Guerra Fria, nem as ambições de rapina dos que anteriormente haviam beneficiado do saque das riquezas do continente africano. Mas a sua determinação em construir um plano de paz para a guerra civil que assolava o Congo, dividido entre facções com interesses diametralmente opostos, e a sua aposta na criação e manutenção de uma força militar sob a égide da ONU (a ONUC, Operação das Nações Unidos no Congo), capaz de contrariar os planos de guerra fomentados com a participação de mercenários e o patrocínio velado ou muitas vezes explícito da Bélgica e de outras potências regionais e internacionais, fizeram dele um alvo a abater.




Dar Nome Aos Bois…!

Esta produção sueca concentra os diferentes segmentos da narrativa num fluir constante de sequências situadas entre Nova Iorque, o Congo e a Suécia que nos mostra o essencial, por vezes de forma muito simplificada mas nem por isso menos eficaz, do papel ocupado pelos que rodeavam e assessoravam Dag Hammarskjold, revelando ao espectador o que se passou entre os sinais mais preocupantes da crise congolesa e o amargo desfecho da hipotética solução de paz, na verdade muito difícil de ser concluída com sucesso sem o apoio desinteressado de países como os EUA ou o Reino Unido. Honra seja feita aos autores do argumento que, face ao contexto político da época, não se coibiram de chamar os bois pelos nomes, denunciando de forma directa a resistência (diríamos até as manobras implementadas algumas vezes na sombra) por parte de países que nos palanques da diplomacia mediática passavam por defensores da paz e do chamado mundo livre.

Hammarskjöld
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Para além da vertente diplomática, a produção quis dar-nos ainda o lado humano e seguramente o mais escondido em muitos domínios públicos da personalidade de Dag Hammarskjold, ou seja, os da sua juventude e os da sua mais profunda intimidade, onde irá sobressair uma relação ambígua mas nada distante com o seu amigo Peter Levin (Thure Lindhardt). Trata-se de um assunto que podia estar ausente das grandes linhas da narrativa, já que não influencia a questão principal relacionada com os labirintos e armadilhas da diplomacia.

Todavia, acrescenta qualquer coisa ao rosto sério, sempre muito educado e assertivo, de alguém que perante a percepção da homossexualidade do antigo companheiro reage com sentimento e progressivo reatamento de relações que só sob a pressão de investigações de rotina acaba por contrariar, evitando por antecipação antes da sua morte aquilo que seria um normal desenvolvimento da sua vida futura, o merecido repouso do guerreiro de causas nobres numa casa de campo que comprara na Suécia e para onde (nunca saberemos) se retiraria após concluir o seu mandato.

Hammarskjöld: Luta pela Paz, a Crítica
Hammarskjöld

Movie title: Hammarskjöld

Movie description: Em 1961, o carismático Dag Hammarskjöld prepara-se para o seu último ano como Secretário-Geral das Nações Unidas. A Guerra Fria está no pico, com o seu epicentro na recentemente formada República Democrática do Congo. Hammarskjöld assume a missão de criar uma nação pacífica e unificada a partir do caos que foi deixado pela Bélgica. Ao mesmo tempo, é assombrado pelos seus próprios dilemas pessoais quando um reencontro inesperado com um amigo do passado o faz questionar o quanto sacrificou a sua felicidade em nome da sua devoção e dedicação sem precedentes ao seu trabalho e visão para o mundo. No Congo, pacificadores da ONU são assassinados por mercenários pagos pela indústria mineira, que conspira para derrubar os planos de unificação nacional de Hammarskjöld. Em Setembro de 1961, ele embarca num avião no Congo na sua última tentativa desesperada de resolver o conflito, naquela que seria a viagem mais perigosa da sua vida.

Director(s): Per Fly

Actor(s): Mikael Persbrandt, Francis Chouler, Cian Barry

Genre: Thriller, 2023, 114 min

  • João Garção Borges - 60
60

Conclusão:

PRÓS: Na Suécia, “Hammarskjold” foi nomeado para sete categorias nos Guldbagge Awards: Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Fotografia, Melhor Som, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Cenografia e Melhor Guarda-Roupa.

CONTRA: Nada de especial. Todavia, aqui fica uma proposta para a distribuição cinematográfica ou para uma eventual programação no pequeno ecrã. Não seria desinteressante ver este projecto de ficção baseado em factos reais ao lado de um outro filme que passou recentemente no IndieLisboa e que decerto podia servir de complemento útil de informação e contextualização sobre a situação vivida no Congo em 1961. Refiro-me ao documentário político e musical “Soundtrack To a Coup D’ Etat”, 2024, do belga Johan Grimonprez. Haja esperança…!

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