The Handmaid’s Tale T6, primeiras impressões | A revolução é (mesmo) ela
[Nota do editor: este artigo inclui spoilers da nova temporada] O tão aguardado final da famosa série distópica The Handmaid’s Tale está cada vez mais iminente. Até agora saíram apenas três episódios desta última temporada. Mas, deles já é possível depreender muita coisa…
A série, da plataforma de streaming americana Hulu, inspira-se no livro de mesmo nome da aclamada escritora canadiana Margaret Atwood. A sua trama decorre em Gilead, país ditatorial onde as mulheres são propriedade do Estado. Quer dizer, onde as mulheres férteis, apelidadas e tratadas como aias (‘handmaids’) – termo, aliás, eufemístico para caracterizar o modo como realmente lidam com elas – são obrigadas a engravidar de homens poderosos, os chamados ‘Commanders’, para depois lhes entregarem os filhos: a eles e às suas esposas.
Mas, engana-se quem pense que as demais mulheres tiveram um destino menos sombrio. Por não conseguirem engravidar ou por outras questões de “natureza hierárquica”, em “The Handmaid’s Tale”, elas, no geral, não mandam em nada: muito menos em si mesmas. Lides domésticas, função das ‘Marthas’, “educação” – mais exatamente, endoutrinação – das aias, tarefa que cabe às ‘Aunts’, etc… Nenhuma mulher decide o que faz, o que diz – nem mesmo as esposas dos ‘Commanders’. Na verdade, há muito pouco que podem fazer ou dizer.
Não há reviravoltas. Mas, June continua a ser o rosto da mudança e Serena da ameaça, tornando impossível desviar os olhos de Gilead… E (agora) de New Bethlehem
Ambas as atrizes, Elizabeth Moss (June Osborn) e Yvonne Strahovski (Serena Joy), continuam a entregar performances extraordinárias. Mesmo quando The Handmaid’s Tale não nos dá muito mais para além daquilo que antes prometeu.
Serena, ademais, parece-nos mais perigosa. Com New Bethlehem, ilha dentro do território de Gilead onde os enforcamentos deixam de ser permitidos e as mulheres são autorizadas a ler, escrever, ter um emprego ou até simplesmente a usar calças, localidade então “modernizada e estrategicamente liberalizada” de acordo com o ‘Commander’ Lawrence (Bradley Whitford), a personagem tem agora um novo lugar onde pode exercer o seu poder… Poder esse que ingenuamente considerávamos que não lhe interessava mais.
Colocaram-nos deliberadamente essa impressão na temporada anterior, mas o palpite rapidamente se desfaz – e só acreditamos vendo (e, infelizmente, vemos bem). Serena ainda se move pelos “ideais” que outrora a levaram a contribuir para a edificação de Gilead, não percebendo, de todo, a gravidade dos atos que cometeu e que consentiu que se cometessem.
O arco desta personagem na série “The Handmaid’s Tale” é, de facto, impressionante e vence precisamente por não nos mostrar a sua redenção total. Ela persiste com a sua malvadez, talvez inconscientemente, talvez conscientemente: não sabemos. E após a surpresa que sofremos temos dificuldade em afirmar qualquer uma das possibilidades.
Em The Handmaid’s Tale o tempo passa… E Gilead fica?
“The Handmaid’s Tale” ganhou, em 2017, o Emmy de Melhor Série Dramática e nota-se, desde aí, altura quando começou, que quer manter essa fasquia. Não obstante, nem sempre consegue fazê-lo, pois, às vezes, é repetitiva, tem um pacing lento, quase que omite desenvolvimentos importantes ou não os aprofunda com a urgência necessária… Mas, logo depois dá-nos um “murro no estômago” ao percebermos que nem um terço das cenas teriam o que impacto que têm se não fosse o sofrimento e a violência prolongada e intensa a que assistimos durante os últimos anos.
O ‘espetáculo de horror’, o qual muitas das vezes assistimos com sacrífico não só pelas atrocidades visíveis no ecrã, mas também porque chegámos a perguntar-nos se não estaria a ‘pisar a linha’ do fortuito ou a caminhar para isso, é na realidade inexorável. Somente deste modo “The Handmaid’s Tale” vinga as suas ideias e, concomitantemente, os seus efeitos.
A distopia ainda insiste em prender a nossa atenção praticamente o tempo todo, feito de ressaltar, dado que se tratam de seis temporadas. No fundo, suscita em nós a derradeira questão: servir-se-á a vingança fria?
Acompanhas The Handmaid’s Tale? Já viste os novos episódios?