Hawkeye, primeira temporada em análise
Aqui não há poderes ou deuses. Há coração, um passado assombrado e procura de redenção. Será que “Hawkeye” está à altura das séries Marvel?
A quarta série da Marvel Studios em parceria com a Disney+ focada nos super-heróis que já conhecemos em filmes, “Hawkeye” é a primeira que traz ao papel principal um dos Vingadores originais: Clint Barton aka Hawkeye. Tendo sido um dos grandes protagonistas de “Vingadores: Endgame”, conquistou o seu lugar como protagonista. Ainda que acabemos com a ideia que esta primeira temporada poderá ser apenas o fecho do ciclo para ele e não um novo veículo para as suas novas aventuras.
[NOTA: Esta análise contém alguns spoilers]
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Depois de “Thor” (2011), e os vários filmes dos Vingadores onde demonstrou sempre uma ligação especial a Natasha Romanoff (Viúva Negra), dele apenas se descobriu mais em “Vingadores: A Era de Ultron” (2015). Agente especial e com muitos segredos, Clint Barton era afinal pai de família, um verdadeiro ‘espião’ com vida dupla e que procurava a normalidade quando não enfrentava as maiores ameaças ao planeta Terra.
Agora, na sua série a solo, a Marvel Studios não se esquece do que já apresentou e volta a colocar em grande destaque a família, mas também a sua relação com Natasha e os segredos que mais o atormentam desde que os super-heróis salvaram a Terra de Thanos. Daí, dessa mesma premissa e de se focar na pessoa de Clint, “Hawkeye” apresenta-se como uma narrativa mais pessoal e “humana”, tornando-a especial, e ainda digna da Marvel.
Como em todas as produções Marvel, há um elemento chave que aqui não está esquecido: química! Se por entre filmes não resistimos às relações entre Thor e Loki, Capitão América e Falcão, ou o mais recente duo Homem-de-Ferro e Homem-Aranha, em “Hawkeye” também não perdemos em nada a ‘química’ natural dos castings da MCU. Com Jeremy Renner e Hailee Steinfeld a deixarem transbordar o que de melhor as suas personagens têm, eles são também um duo dinâmico, traduzindo-se num dos pontos fortes da série.
Impulsiva, teimosa e com uma incapacidade para se manter calma e cool, a Kate Bishop de “Hawkeye” deve muito à mestreia de Hailee Steinfeld em equilibrar de forma exímia um sentido de humor e bem-estar na sua personagem. Transparecendo para as audiências uma sensação de ser Kate Bishop há anos, é uma lufada de ar fresco num universo que continua a escolher tão bem as suas novas caras.
Mas não estão sozinhos, já que “Hawkeye” acabou por trazer aos pequenos ecrãs uma personagem apresentada apenas em 2021 mas que conquistou os fãs e que já é pedida para vários projectos: Yelena Belova. Interpretada novamente por Florence Pugh, Yelena foi apresentada no filme a solo da “Viúva Negra” (2021) e, apesar de ter aparecido apenas em metade da série, foi uma das estrelas e roubou todo o protagonismo nas cenas em que entrou. Estabelecendo uma divertida relação com Kate Bishop (por favor, queremos mais! Kate e Yelena são sempre super divertidas), Yelena foi também o elo de ligação de Clint/Hawkeye ao resto da MCU, levando a personagem a reviver os momentos de “Vingadores: Endgame”.
Por outro lado, “Hawkeye” não se esqueceu de apresentar os ‘reais’ antagonistas e aqui talvez a série tenha querido fazer mais do que realmente conseguiu – e foi onde falhou. Com três personagens que foram aparecendo ao longo do enredo e que se apresentaram como ‘os inimigos’, sentimos que foram demasiados para a profundidade que os fãs gostariam. Mas iremos por partes…
Os primeiros antagonistas, que depois se revela apenas como um na realidade, é Eleanor Bishop (Vera Farmiga) e o seu noivo, Jack (Tony Dalton). Desde cedo que Kate vê no seu padrasto uma ameaça, apenas para aprender ao longo da sua missão com Clinton que afinal a verdade nua e crua de uma realidade negativa recai na sua mãe, com quem sempre uma relação distante e complexa. Apesar de Jack se revelar um importante aliado no final, ficou a faltar mais insight não apenas sobre ele mas todos os contornos sobre o percurso de Eleanor – e de como ela irá impactar a vida de Kate Bishop de ora em diante (que se acredita ser de alguma importância já que a própria faz com que a mãe seja presa).
Por outro lado, temos Maya, que será introduzida na sua própria série a solo, “Echo”. Interpretada por Alaqua Cox, aparece como a primeira inimiga ‘mortal’ de Hawkeye ao longo desta temporada. Já com um pouco mais de contexto – pelo menos com as origens da sua infância e de como se revelou inimiga número um de Ronin, Maya não é a principal antagonista mas um meio para perceber a história de Clint/Hawkeye e dar algum contexto no enredo da temporada. É nos mais importante no entanto a sua ligação ao terceiro e último antagonista: Kingpin.
Nunca referenciado pelo nome, a personagem poderá não ter tido o mesmo impacto para todos os fãs da Marvel, apesar de ter de facto alguma relevância. Interpretado por Vincent D’Onofrio, Kingpin é reintroduzido no MCU depois de ter sido personagem de destaque na série “Daredevil”, da Netflix. Com uma promessa que isto poderá significar uma nova reintrodução de Daredevil (Demolidor) na Marvel (o próprio Kevin Feige já afirmou ter interesse nesse campo), Kingpin poderá ser apenas o início. Mas porque é que falhou? Porque não houve desenvolvimento. Apresentado apenas como o grande chefe de Maya, e o seu tio, nada evidencia a teia de conspiração em que ele está envolvido e quão por dentro está do MCU numa escala mais ampla.
E ficou em falta. Ficou em falta o grande inimigo da temporada, que sempre houve mas ao mesmo tempo nunca houve. Foi maior a sombra do passado de Clint do que os que se colocaram no caminho dele e de Kate.
No final o que fica é que Hawkeye poderá ter mais temporadas, mas sem Clinton – ou pelo menos com ele como figura secundária; afinal de contas, a série termina com o duo protagonista a tentar entender-se relativamente ao ‘novo nome’ de Kate Bishop. Mas, com ou sem Clint Barton, “Hawkeye” é sem dúvida a série que irá dar lugar a mais spin-offs até ao momento – com “Echo” já confirmado, há ainda espaço para seguir Yelena (embora seja menos provável), mas também Kate Bishop, que foi uma das estrelas destes episódios, ou ainda o segredo de Laura, a enigmática mulher de Clinton/Hawkeye, que afinal não é tão estranha a este mundo. Por cá gostaríamos que essa fosse mais explorada.
Quanto a Kate Bishop, certamente terá piada mas apesar do brilhantismo de Hailee Steinfeld no papel, não estamos totalmente convencidos da grandeza que a série a solo poderá ser um êxito instantâneo. Talvez sim, focando-se certamente numa vertente mais de comédia do que de acção; mas não tiramos a divertida ideia de eventualmente queremos um cameo seu nos próximos filmes da Marvel – há que juntar a nova geração: Homem-Aranha, Captain Marvel, Shang-Chi, Falcão aka novo Capitão América, Soldado de Inverno, WandaVision, Doutor Estranho… conseguem imaginar? Ela seria o equivalente a Peter Parker/Homem-Aranha quando entrou neste universo.
Mas, na sua essência, “Hawkeye” poderá ser considerada a série mais ‘completa’ da Marvel Studios/Disney+ até ao momento; segue os acontecimentos pós-Blip e Thanos, explora os segredos da personagem principal e no final, ao contrário de outras, dá-lhe a conclusão e paz de espírito que precisava. E de notar que foi a mais consistente ao longo de todos os episódios, mantendo o ritmo e a dinâmica da história.
O que é que te cativou mais na série de Hawkeye? E onde é que a colocas face às outras séries Marvel/Disney+?
Name: Hawkeye
Description: Kate Bishop, uma arqueira talentosa cujo excesso de confiança pode deixá-la em sarilhos, acaba no meio de uma conspiração criminosa. Entretanto, a tão esperada viagem de Natal de Clint Barton a Nova Iorque com os filhos é interrompida quando ressurge uma parte dolorosa do seu passado. É só uma questão de tempo até os seus caminhos se cruzarem, obrigando Hawkeye a deixar a reforma.
Author: Marta Kong Nunes
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Marta Kong Nunes - 78
CONCLUSÃO
“Hawkeye” não pretende ser uma série de poderes ou super-heróis; é a história de redenção de Clint Barton/Hawkeye, que passou por muito e que ainda não está totalmente em paz com o seu passado – seja dos tempos durante o Blip ou do momento de salvação da Terra junto dos Vingadores. Focando-se depois numa temática de parentalidade, mentoria e decisões de vida no que toca a emendar o que de errado foi feito no passado, esta série Marvel Studios apela mais ao humano do que à grandeza dos super-heróis.
Pros
- A essência de Clint Barton/Hawkeye, com a sua vibe low-key, e a narrativa mais pessoal e “humana”;
- Hailee Steinfeld que tão bem captou a essência de alguém assumidamente fã dos Vingadores;
- O regresso de Florence Pugh como Yelena.
Cons
- Apesar de Hawkeye estar no centro, a série sente-se em parte como sendo apenas um veículo para várias personagens novas a serem introduzidas na MCU;
- O leque de antagonistas apresentados que, apesar de potencialmente interessantes, não foram devidamente explorados;
- “Hawkeye” levanta mais questões do que respostas – quantas teorias é que ficaram no ar depois do final?