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Light & Magic T2, a Crítica | Como Star Wars redefiniu a indústria de efeitos visuais

Os bastidores tornam-se mais fascinantes que a própria galáxia muito, muito distante de Star Wars neste grande documentário.

A segunda temporada de “Light & Magic“, disponível no Disney+, é um daqueles raros documentários que nos obrigam a olhar para trás não só com nostalgia, mas com espanto genuíno. Se a primeira temporada foi um mergulho encantador nos primórdios da Industrial Light & Magic (ILM), esta nova leva de episódios é uma aula magna sobre ambição tecnológica, falhanço criativo e, mais do que tudo, sobre como a arte se encontra com a engenharia nos momentos mais improváveis.

Assim, ao longo de três episódios que são quase cápsulas do tempo, viajamos para os bastidores das controversas, e agora redimidas, prequelas de Star Wars. É uma viagem que começa com o rugido dos dinossauros de Jurassic Park e termina com o último suspiro analógico antes da era completamente digital. Mas atenção: o documentário guarda as suas maiores revelações para os momentos certos, como qualquer bom realizador.

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Light & Magic redime os fantasmas do passado de Star Wars

Star Wars
Star Wars: A Saga Que Mudou a História © LucasFilm

A segunda temporada de “Light & Magic” não é apenas um documentário sobre efeitos especiais. É um manifesto sobre resistência criativa. Centrada nos anos 90 e 2000, a série explora a transição da ILM para a era digital, um período marcado por “Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma” e a criação do polêmico Jar Jar Binks. Joe Johnston, realizador da temporada e veterano da ILM, usa arquivos inéditos e depoimentos íntimos para mostrar como George Lucas desafiou a equipa a “fazer o impossível” — mesmo quando o mundo duvidava.

Mas há algo mais profundo nesta nova temporada: a reabilitação de Jar Jar Binks. O primeiro episódio, “Estamos Prontos Para Isto?”, começa com um paradoxo: Jurassic Park (1993) provou que os dinossauros digitais eram viáveis, mas Star Wars exigia algo mais ambicioso. “ILM foi criada para fazer o impossível”, recorda Rob Coleman, citando George Lucas. O impossível, aqui, foi criar um personagem inteiramente digital — Jar Jar — através de motion capture, algo nunca antes feito num filme inteiro.  A equipa da ILM, porém, enfrentava um abismo entre a visão de Lucas e as ferramentas disponíveis. A solução? Criá-las do zero.

Jar Jar Binks tornou-se o símbolo dessa luta. Ahmed Best, o ator por trás da criatura mais injustiçada da saga, surge neste documentário com uma franqueza rara. Fala do impacto negativo da receção pública, da sua luta emocional — “foi difícil lidar com isso na altura, mas olhando para trás, o George tinha razão: vinte anos depois, a história é diferente” — e do que perdeu pelo caminho. “Light & Magic” não foge às cicatrizes da criação: expõe-nas com respeito, sem vitimização, mas com a honestidade de quem sabe que foi pioneiro e pagou um preço alto por isso.

Como Lucas riscou as regras e pediu um milagre

Light & Magic - Star Wars (1)
©Disney+

Um dos maiores triunfos desta temporada é inegavelmente a sua exploração da transição do analógico para o digital. O segundo episódio, “Há de Haver um Melhor Caminho…”, destaca outra revolução: a câmara digital desenvolvida para “Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones” (2002).  George Lucas, visionário teimoso por natureza, recusou-se a filmar o filme em película tradicional. O resultado? Um tsunami criativo que caiu nos ombros de John Knoll e Rob Coleman, obrigados a desenvolver ferramentas inéditas para satisfazer a visão de Lucas.

Assim, a série mostra-nos esses bastidores como nunca: reuniões semanais em que a resposta constante à pergunta “conseguimos acabar o filme?” era “não”. Não havia ferramentas para criar multidões digitais. O guião exigia “um exército Gungan a marchar” e Rob apenas conseguia animar dez personagens de cada vez. A solução? Inventar um novo sistema de multidões.

A genialidade não veio de um momento eureka, mas de um processo colaborativo. “ILM é feita de pessoas muito inteligentes que se sentam juntas e perguntam: como vamos resolver isto?”, explicou Rob. A resposta está na própria série — inovação, sim, mas com humildade e uma dose saudável de pânico controlado.

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Jar Jar, Gollum e os Na’vi

Light & Magic - Star Wars (3)
©Disney+

Numa conferência de impressa, Ahmed Best disparou: “Jar Jar andou para que Gollum pudesse correr e os Na’vi pudessem voar.” É mais do que uma frase espirituosa — é uma verdade com provas no ecrã. A performance digital nasceu com Jar Jar em Star Wars. A técnica refinou-se com Gollum. E a fusão total entre atores e pixels aconteceu com “Avatar“.

“Light & Magic” mostra-nos como a indústria, que inicialmente tratou Jar Jar com escárnio, acabou por aceitar e até idolatrar a tecnologia que ele estreou. Mas mais do que isso, revela como a dor e a redenção fazem parte de qualquer revolução artística. A sequência em que Ahmed partilha a sua angústia é de cortar o coração — e de restaurar o respeito por um artista cuja inovação foi inegavelmente, durante anos, silenciada pelo ruído da internet.

Assim, Doug Chiang partilha também um testemunho comovente. Sem formação artística formal, aprendeu a desenhar através dos esboços de Joe Johnston. Sofreu de síndrome do impostor durante anos. “Estava sempre em stress. Não conseguia desfrutar”, confessa. Mas foi precisamente esse portefólio, feito como trabalho de casa, que impressionou Lucas e lhe valeu o lugar na equipa de Star Wars. A lição? Nem sempre os mais preparados são os mais adequados. Às vezes, basta estar no lugar certo na hora certa.

Um adeus à oficina e um tributo a Star Wars

Light & Magic (2)
©Disney+

O episódio final, “Não Há Volta Atrás”, termina com um toque agridoce: o encerramento do edifício original da ILM em San Rafael, Califórnia, onde tudo começou. “Foi como uma máquina do tempo”, diz Rob, emocionado ao rever imagens suas nos seus trinta e poucos anos. Ver o espaço esvaziado, agora apenas memória, é o tipo de momento que só a montagem de Joe Johnston consegue inegavelmente transformar em poesia visual. Mas o futuro não está perdido.  Se há algo que este documentário prova, é que a magia não está apenas nos efeitos — está nas pessoas que os sonham.

Durante a conferência de imprensa para este documentário, uma pergunta minha abriu uma porta para reflexão: “Qual é a técnica de VFX mais inovadora da última década que não tem recebido o reconhecimento que merece?” A resposta de Joe Johnston foi clara: model building, a construção prática de modelos físicos, continua a ter um papel crucial. O mais irónico é que as prequelas usaram mais modelos físicos do que a trilogia original de Star Wars, apesar de serem criticadas por não usarem efeitos práticos o suficiente. A quantidade amor digital e físico que a ILM teve com as prequelas é aparente neste documentário, uma demonstração da dedicação da companhia de efeitos especiais que começou uma revolução em Hollywood.

Nota Final: 9/10 Modelos práticos que desafiaram o Império Digital

Se há lição a tirar de “Light & Magic” é que a arte de contar histórias exige coragem, engenho e, às vezes, a ousadia de parecer ridículo antes de parecer revolucionário.

Qual foi o momento que mais te marcou nesta temporada? Deixa a tua opinião comentários.

Light & Magic T2, a Crítica
Light & Magic (Poster)

Name: Light & Magic

Description: Quando George Lucas decidiu fazer Star Wars, ele nem imaginava que acabaria revolucionando uma indústria. Esta série mostra a evolução da Industrial Light & Magic, a empresa responsável pelos efeitos visuais icônicos de Star Wars, E.T., Exterminador 2, Jurassic Park e tantos outros filmes. Esta é a história de uma equipa de génios criativos que colocam a magia nos filmes que amamos.

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  • Vítor Carvalho - 90

Conclusão

“Light & Magic – T2” não é apenas um documentário sobre efeitos visuais; é uma carta de amor à coragem criativa, à engenharia com alma e às pessoas que ousaram sonhar o impossível com ferramentas que ainda nem existiam. Ao revisitar os bastidores das prequelas de Star Wars, resgatar figuras injustiçadas como Ahmed Best e mergulhar na transição do cinema analógico para o digital, esta série faz muito mais do que celebrar a ILM — humaniza-a. Nota final: 9/10 modelos práticos que desafiaram o Império Digital. Imperdível para quem acredita que a magia do cinema nasce tanto do suor como da inspiração.

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Pros

  • Dá justiça a figuras como Ahmed Best e resgata o valor de personagens e técnicas antes ridicularizadas.

  • Humaniza os criadores e mostra as suas lutas, inseguranças e triunfos com empatia e profundidade.

  • Faz uma ponte cativante entre a era analógica e a revolução digital do cinema, com bastidores reveladores.

  • Entrevistas com lendas da ILM como Rob Coleman, John Knoll e Doug Chiang elevam a experiência com reflexões íntimas.

  • Mantém o espectador agarrado como se fosse um filme de ficção — irónico e maravilhoso para um documentário sobre quem cria ilusão.

  • Mostra o processo criativo com verdade, incluindo os fracassos e os improvisos geniais.

Cons

  •  Quem não for fã de Star Wars ou de cinema de bastidores pode sentir-se menos envolvido emocionalmente.

  • Falta de críticas ou perspetivas alternativas que pudessem enriquecer a discussão sobre controvérsias (ex: receção ao CGI excessivo nas prequelas).

  • Apesar da paixão e dos conteúdos incríveis, mantém a estrutura típica de documentário de bastidores, sem reinventar a roda formalmente.


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