Mario Vargas Llosa tem várias obras adaptadas ao cinema e televisão. ©Neusa Ayres/Bertrand

Mario Vargas Llosa (1936-2025) no cinema e televisão | As obras do falecido Prémio Nobel que chegaram aos ecrãs

Mario Vargas Llosa (1936-2025), Prémio Nobel da Literatura 2010, faleceu este domingo, 13 de abril, aos 89 anos, mas não podemos esquecer a contribuição das suas obras literárias, para o cinema e séries de televisão. A maioria dos seus livros, são um manancial de boas histórias para adaptações ao ecrã. A MHD faz aqui uma viagem às adaptações cinematográficas (e televisivas), dos livros de Vargas llosa.

A notícia, do falecimento de Mario Vargas Llosa (1936-2025), emocionou decerto, todos os admiradores dos seus livros, que sempre foram um manancial de boas histórias para adaptações aos ecrãs, seja em filmes ou séries de televisão. Peruano de nascimento, é sem dúvida um dos nomes fundamentais do romance e da vida intelectual contemporânea, a nível mundial. Autor de livros marcantes e influentes do nosso tempo, distribuídos por romance e ensaio, reportagem e conto, desde “A Conversa n’A Catedral” até ao seu derradeiro romance “Dedico-lhe o Meu Silêncio” (publicado em 2024).

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Este é também uma história vibrante e muito cinematográfica: passa-se no início dos anos 90, em plena ofensiva terrorista do movimento comunista Sendero Luminoso. A música revela-se como elo de ligação entre uma sociedade em crise de valores e o virtuosismo do extraordinário violinista Lalo Molfino (também um personagem do vibrante romance “Travessuras de Uma Menina Má”). Toño Azpilcueta um especialista em ‘música crioula’ decide fazer uma investigação sobre para descobrir como ele se tornou um músico de excelência, vivendo no interior do Perú. Mais um livro que ainda poderá dar um filme.

Porém, nem sempre as adaptações cinematográficas da obras de Mario Vargas Llosa, corresponderam à beleza das suas histórias, mas a sua maioria até vale a pena serem revistas, até porque foram premiadas. O escritor peruano será recordado, para além das dezenas de seus romances publicados — quase todos em Portugal — pelas suas incríveis histórias que foram adaptadas e já exibidas nos cinemas e em séries de televisão:

Los Cachorros
“Los Cachorros” (1973), a primeira obra de Vargas Llosa a ser adaptada ao cinema. ©Mubi/Divulgação

Os Cachorros (1973)

Este romance curto e experimental de Mario Vargas Llosa, no original ‘Los cachorros’ (1967), (na edição portuguesa é acompanhado de outro conto ‘Os Chefes’, um microcosmos do resto dos seus livros), foi adaptado ao cinema em 1973 pelos realizadores mexicanos Jorge Fons e José Luis García Agraz. É considerado uma das jóias do cinema mexicano contemporâneo. O filme conta a história de Cuéllar, um rapaz muito calado que estuda numa escola primária só para rapazes.

Um dia, no duche, é atacado por Judas, o cão da escola, e perde o seu órgão sexual. Embora os seus amigos prometam manter segredo, todos descobrem o que aconteceu. Anos mais tarde, este acidente traumático, cria-lhe grandes problemas que afetam a sua vida adulta, principalmente ao nível da sexualidade e das relações humanas e logo, a sua estabilidade emocional. Embora não seja uma das adaptações mais conhecidas do autor, oferece-nos um olhar intenso sobre os temas da masculinidade que Vargas Llosa explora bastante na sua obra. O filme é protagonizado pelo conceituado ator mexicano José Alonso e ganhou o Prémio Instituto de Cultura no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, em 1972.

Trailer de “Pantaleón y las Visitadoras”

Pantaleão e as Visitadoras (1975 e 2000)

Um dos romances mais populares de Mário Vargas Llosa, no original ‘Pantaleón y las Visitadoras’ (1973), teve duas adaptações cinematográficas. A primeira, realizada em 1975 pelo falecido realizador mexicano José María Gutiérrez Santos (1933-2007). No entanto, a versão mais conhecida e recordada é a de 2000, do peruano Francisco J. Lombardi, considerado um dos mais importantes cineastas do cinema peruano e um dos mais notáveis ​​​​do cinema ibero-americano, com uma obra de impacto internacional. Para seu desgosto, Pantaleón Pantoja, um capitão do exército peruano, recebe ordens dos seus superiores para montar um bordel no meio da selva amazónica, de forma a satisfazer as necessidades sexuais das tropas estacionadas numa zona tão remota e manter os soldados felizes.

Pantoja colocará todo o seu esforço e disciplina na tarefa. O filme de Lombardi, protagonizado por Salvador del Solar e Angie Cepeda, tornou-se um sucesso na América Latina, notável pelo seu tom cómico e crítica social. Venceu os prémios de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator e o prémio FIPRESCI, da crítica internacional no Festival de Cinema de Gramado, no Brasil. Venceu também o prémio de Melhor Filme no 4º Festival de Cinema Latino-Americano em Lima. Está disponível na Apple TV

Vê o Trailer de “La Ciudad de los Perros”

A Cidade e os Cães (1985)

O romance que lançou Mario Vargas Llosa para a fama internacional, ‘A Cidade e os Cães’ (“La Ciudad de los perros”) (1963), foi adaptado em 1985 também pelo realizador peruano Francisco J. Lombardi e ganhou a Concha de Prata de Melhor realizador no Festival de San Sebastián. Esta adaptação cinematográfica captou com muito sucesso a atmosfera opressiva do romance e é considerado uma das melhores produções peruanas da época.

O filme, que tem o mesmo título, relata a vida dos cadetes do Colégio Militar Leôncio Prado, uma instituição marcada pela violência, pelo machismo e pela repressão: as condições de vida são extremamente duras, tanto pela obrigação e observância do código militar como pela assunção de um outro código não escrito imposto pelos cadetes, alunos do internato, que não é outro senão a lei da selva: devorar para não ser devorado. O sistema gera um universo de traições e lealdades onde o machismo e a brutalidade surgem como valores fundamentais. Está disponível na Apple TV.

Vê o Trailer de “Tune in Tomorrow”

Tune in Tomorrow [A Paixão de Júlia] (1990)

Em 1990, o romance semi-autobiográfico ‘A Tia Júlia e o Escrevedor’ (1977), de Mario Vargas Llosa foi adaptado ao cinema com o título Tune in Tomorrow”, realizado pelo cineasta britânico Jon Amiel e com banda sonora original de Wynton Marsalis Embora a história tenha sido reinventada num contexto americano e com uma abordagem mais leve e cómica, o filme mantém elementos da história original, que conta a história de amor entre um jovem aspirante a escritor e a sua tia ou melhor as primeiras experiências sexuais de um jovem que vive um tórrido romance com uma tia. Protagonizada por um Keanu Reeves, muito novinho e com Barbara Hershey, a adaptação não foi totalmente fiel ao romance, mas foi notável pelo seu tom humorístico e um grande elenco de estrelas.

Vê o Trailer de “La Fiesta del Chivo”

A Festa do Chibo (2005)

Realizado por um dos realizadores peruanos mais conhecidos internacionalmente, Luis Llosa, primo de Mario Vargas Llosa, ‘A Festa do Chibo’ (2000) foi adaptado ao cinema em 2005 e abordou um dos episódios mais negros da história da América Latina: a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo na República Dominicana em 1992. O filme retrata o fim do regime de Trujillo e o impacto que este teve nos que o rodeavam.

Urania Cabral (Isabella Rossellini) regressa à sua cidade natal. Mal reconhece o velho careca e desdentado deitado na sua cama, mudo e imóvel, quase inerte. É o seu pai, Agustín Cabral, conhecido por ‘Cerebrito’, presidente do Senado e que tinha sido o braço direito do ditador Rafael Trujillo, durante muitos e muitos anos. Até que caiu em desgraça, há muito tempo. Urania recorda tudo isto através do seu olhar ingénuo e infantil e conta à tia e aos primos, que não compreendem porque é não os visitou mais ou veio ver o pai há tanto tempo. Urania conta também que não conseguia esquecer o dia em que Agustín, seu pai foi inexplicavelmente repudiado pelo Chefe.  Nesses mesmos dias, Amadito, Antonio de la Maza e outros conspiradores planearam pôr fim à vida de El Chivo, crivando-o no seu Chevrolet, e assim acabar, com as três décadas de feroz ditadura, de um dos mais cruéis e sanguinários ditadores da América Latina.

Esta adaptação cinematográfica do aclamado romance de Mario Vargas Llosa, uma produção internacional e de grande orçamento, apesar de protagonizada por Isabella Rossellini e pelo actor cubano entretanto falecido Tomas Milian, (fez vários spaghetti westerns e filmes italianos da década de 1960 até o final de 1980), acabou por ter uma receção crítica mista tanto do público como dos profissionais: há quem ame e quem destrua o filme. De qualquer modo, o filme do primo Llosa, destacou-se principalmente pela sua épica tentativa de captar a complexidade histórica e emocional do romance. Mas de facto, não é fácil!

Vê o Trailer de “As Travessuras da Menina Má”

Travessuras da Menina Má (2023)

Um dos mais fascinantes romances de Mário Vargas Llosa, ‘Travessuras de Uma Menina Má’ (2006), teve adaptação televisiva, curiosamente transmitida há bem pouco tempo na RTP2. Não sei porque durou tanto tempo alguém a adaptar esta história de amor sinuosa e rebelde, que tem tudo de cinematográfico e é de uma impressionante beleza. Na verdade, a luta pela obtenção dos DA, foi bastante renhida, na última década. Neste caso, trata-se de uma série mexicana de 10 episódios, produzida pela W Studios, para a VIX+, realizada por Alejandro Bazzano, argumento de María López Castaño, baseado no romance homónimo e protagonizado por dois conhecidos actores argentinos: Macarena Achaga e Juan Pablo di Pace e outros espanhóis que vamos recordar de “A Casa de Papel”.

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A série, conta a história épica e de amor de uma mulher aventureira (Achaga) e de um homem preso nas suas rotinas (di Pace): um romance apaixonado, complexo e obsessivo, entre Ricardo, um tradutor peruano, e Arlette a ‘a menina má’, uma mulher que aparece e desaparece da sua vida ao longo de várias décadas. Como obra televisiva adaptada, confesso que foi um desapontamento, mesmo sabendo da dificuldade em adaptar esta história muito peculiar de um amor tóxico entre uma mulher em constante evolução e um homem que se recusa a mudar. Atenção o trailer é da versão brasileira que esteve disponível na Globoplay. Provavelmente por uma questão de direitos, já não está disponível na RTPplay. Ver na Amazon Prime Video.

JVM


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