Uma das melhores séries sci-fi dos últimos anos está na Prime Video
Existe alguma série de ficção científica mais relevante e impactante do que esta pérola disponível no Prime Video?
A ficção científica, enquanto género, vive no equilíbrio frágil entre a imaginação desenfreada e o rigor científico. Algumas séries optam por lasers coloridos e alienígenas falantes; outras preferem mergulhar em equações e física newtoniana. Mas há uma produção, discretamente enterrada nos catálogos da Prime Video, que conseguiu fazer algo raro: tornar a ciência interessante sem sacrificar a complexidade humana. E, sim, tem seis temporadas.
“The Expanse” é a série mais subestimada da Prime Video
Quando “The Expanse” (Prime Video) estreou em 2015, poucos previram que se tornaria um fenómeno de culto. A SyFy cancelou-a após três temporadas, mas os fãs — incluindo um certo Jeff Bezos — recusaram-se a deixá-la morrer. A Amazon resgatou-a, permitindo que concluísse a sua saga em 2022. Porquê tanta devoção? A resposta está na forma como a série abraça o caos cósmico sem esquecer que, no centro de tudo, estão pessoas.
A precisão científica de “The Expanse” da Prime Video não se resume a trajes espaciais ou efeitos de gravidade zero. A série incorpora conceitos como a aceleração constante de naves — algo fisicamente plausível com motores de fusão — e mostra como corpos humanos se deformam após gerações em ambientes de baixa gravidade. Os Belters, habitantes dos asteroides exteriores, têm colunas alongadas e ossos frágeis, detalhes anatómicos que a maioria das produções ignora. Até a comunicação entre planetas enfrenta atrasos realistas, obrigando personagens a esperar minutos (ou horas) por uma resposta.
Mas o verdadeiro triunfo da série está na sua política interplanetária. A Terra, governada por uma ONU expansionista, Marte (uma potência militar obcecada com a terraformação) e os Belters (explorados como mão-de-obra barata) reproduzem conflitos terrestres: colonialismo, lutas de classe, corrupção. A ficção especulativa, aqui, é um espelho sujo do presente.
Ficção científica que desafia as leis (e as respeita)
Assim, “The Expanse” da Prime Video evita os clichés do género. Não há saltos hiperespaciais ou teletransportes, e as batalhas espaciais são decididas por cálculos de trajetória, não por tiros de sorte. Num episódio memorável, a tripulação da nave Rocinante sobrevive a um ataque ao ajustar a aceleração do motor em 0,3g — um detalhe técnico que seria cortado noutras séries. Até as explosões no vácuo são (quase) silenciosas, respeitando as leis da física… exceto quando o drama exige um boom cinematográfico.
As personagens também fogem aos arquétipos. James Holden, o capitão idealista, é tão propenso a erros morais quanto a heroísmos. Naomi Nagata, engenheira brilhante, luta contra um passado ligado a grupos terroristas. E Amos Burton, o “sociopata com código de honra”, personifica a pergunta: “O que resta da humanidade quando a sobrevivência exige violência?” Esta complexidade é sustentada por diálogos afiados e reviravoltas que evitam fórmulas pré-fabricadas.
“The Expanse” da Prime Video ainda ousa questionar o próprio conceito de progresso. A Terra e Marte sonham com colónias distantes, enquanto tratam os Belters como cidadãos de segunda. Assim, a sua língua crioula, o “Belter Creole”, simboliza esta marginalização: é uma mistura de inglês, alemão e mandarim, falada com sotaque cantado — uma cultura nascida na escassez.
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