Cinema Europeu? Sim, Por Favor | Meu Rei
Depois de espantar a crítica com Polissia (vencedor do Prémio do Júri em Cannes, em 2011), Maïwenn mergulha no aparentemente mais pessoal Meu Rei: um drama romântico protagonizado por Vincent Cassel e Emmanuelle Bercot.
FICHA TÉCNICA |
Título Original: Mon Roi Realizador: Maïwenn Elenco: Vincent Cassel, Emmanuelle Bercot, Louis Garrel Género: Drama, Romance NOS | 2015 | 124 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] |
Todos conhecemos uma versão deste casal: ele é um playboy sem emenda, ela uma mulher extremamente inteligente – menos no que toca a ele. Juntos formam uma combinação que tudo tem para implodir sobre si mesma, mas pouco há a fazer que não aguardar que os repetidos términos e reatamentos levem, invariavelmente, ao fim de uma Era que não beneficiou nenhum dos dois.
O facto de o mais recente filme de Maïwenn ser sobre um destes casais é, simultaneamente, a sua maior limitação e potencialidade, o que nos traz a um fruto irregular mas honroso sobre as nefastas consequências de uma história de Amor em deterioração ativa.
Tony está internada num centro de reabilitação após uma grave queda de ski. Dependente de apoio médico e de analgésicos, passa o tempo a recordar a tumultuosa história que viveu com Georgio, um “macho-alfa” com uma espécie de império restauranteur. Por que razão se foram eles apaixonar? Quem é realmente o homem que ela amou? Como foi ela capaz de se submeter à paixão sufocante e destrutiva? Para Tony, é uma reconstrução difícil a que agora se inicia, um trabalho físico mas sobretudo emocional que vai, talvez, permitir-lhe libertar-se para sempre…
Maïwenn já provou ser extremamente hábil no transporte da vida real para dentro da realidade cinematográfica (que é algo bem diferente), o que a levou, repetidamente, a criar personagens tão verosímeis e honestos que se tornam desconfortáveis. Por outro lado, o contraponto que fez em Polissia (em rigor, muito diferente deste drama de amores e desamores) não se sente aqui tão equilibrado – de facto, estamos perante uma história de (des)amor esquizofrénica, doentia, sufocante, que nos afasta em vez de nos aproximar. O que particularmente não ajuda esta questão é o facto de, no final, nos defrontarmos, grosso modo, com as personagens exatamente na mesma posição em que iniciaram o filme, denotando-se uma falta de evolução de arco narrativo algo preocupante – afinal, ninguém mudou, o que mudou foi apenas a perceção que tinham um do outro.
Todavia, e mesmo convulsando-se com um extremo caso de excessos melodramáticos pontuais, Meu Rei mantém um ritmo saudável e enérgico, sendo filmado de forma vibrante por Claire Mathon e apresentando a ambos os protagonistas a oportunidade de embarcarem na corporização de personagens que rapidamente se transportam para algumas das melhores performances das suas carreiras.
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Vincent Cassel sobressai positivamente como Georgio, tomando o maior partido do estatuto de galã que transporta fora do ecrã. A sua criação é guiada por perceções e enganos, truques que dirige com a ferocidade de um lobo pronto a devorar tudo.
Mas se todo o enredo gira à volta da influência de Cassel, esta é, ainda assim, a história de Tony, e Emmanuelle Bercot é dolorosamente honesta, intensa e dramaticamente exigente – não é fácil, por exemplo, transportar para a representação a passividade que em vários momentos atinge Tony.
Caminhando na corda bamba entre o ultra-romântico e o anti-romântico, Meu Rei é, sobretudo, um ensaio sobre a dinâmica de um tipo específico de relações, destinadas desde o nascimento ao falhanço. “A dor não serve qualquer propósito” diz, a certa altura, uma terapeuta a Tony – e Meu Rei vem inequivocamente provar esta tese.
O PIOR – Denota-se algum desequilíbrio num drama que resvala para o terreno melodramático, tornando-se, inclusive, por vezes sufocante.
O MELHOR – As interpretações de Vincent Cassel e Emmanuelle Bercot e o timing perfeito do “comic relief” de Louis Garrel.