O maior mistério de Sinners foi finalmente revelado por Ryan Coogler
Há regras ocultas no mundo sombrio de Sinners de Ryan Coogler, e até os mortos-vivos de dentes afiados as cumprem.
Se há criatura do imaginário gótico que resiste a modas e décadas, é o vampiro. Sedutor, letal, e incrivelmente bem-educado. Ryan Coogler, na sua mais recente incursão pelo horror sobrenatural com “Sinners”, não só resgata o fascínio clássico por estas criaturas da noite como lhes dá um propósito que vai muito além da mera sede de sangue. Mas antes de desvendarmos o que torna estes vampiros únicos, importa lembrar: nenhum deles entra sem ser convidado. E isso é mais do que uma superstição — é uma maldição com séculos de peso mitológico.
Reunindo Michael B. Jordan nos papéis gémeos de Smoke e Stack, “Sinners” mergulha-nos num cenário histórico onde demónios interiores e literais se entrelaçam. A narrativa, tão rica em folclore quanto em tensão, não inventa a roda quando se trata das regras vampíricas — mas Coogler usa essas regras com mestria, acrescentando-lhe camadas de significado.
A regra de Sinners: Um vampiro não entra sem convite
A primeira vez que Jack O’Connell, no papel do vampiro Remmick, se vê barrado à porta de uma casa, é também o momento em que “Sinners” estabelece as suas leis. Perseguido por caçadores de Choctaw, Remmick só atravessa a soleira depois de Joan (Lola Kirke) e Bert (Peter Dreimanis) — num ato de compaixão fatal — lhe permitirem a entrada. O resultado? Uma transformação irreversível, e uma lição: a hospitalidade humana é, literalmente, uma sentença de morte.
Mais tarde, quando os irmãos Smoke e Stack se recusam a abrir as portas do seu juke joint aos não-mortos, a ameaça fica do lado de fora — impotente. Assim, Annie (Wunmi Mosaku), numa das cenas mais elucidativas, explica ao grupo que “um vampiro não atravessa um limiar sem ser chamado”. A regra só é quebrada quando Grace (Li Jun Li), traindo involuntariamente os seus, grita “Podem entrar!”. E assim, como em tantas tragédias, a permissão dada num momento de desespero desencadeia o caos.
Esta tradição não é nova. Desde “Drácula” de Bram Stoker até “The Lost Boys” ou “True Blood“, a ideia de que um vampiro precisa de consentimento para entrar é inegavelmente um pilar do género. Coogler, no entanto, usa-a em “Sinners” não como mero adereço, mas como um mecanismo narrativo que amplia a tensão. Afinal, quantas vezes na vida real o perigo só avança porque alguém lhe abriu a porta?
Sangue? Não. O verdadeiro pecado é a música
Se a sede de sangue é o cliché que define os vampiros no imaginário popular, “Sinners” oferece-lhes um motivo mais poético — e perturbador. Remmick não está obcecado com pescoços jugulares, mas com os blues de Sammie (Miles Caton), cuja música rasga o véu entre a vida e a morte. O plano? Recrutá-lo para usar esse poder como ponte para os espíritos ancestrais. Assim, os vampiros não são apenas predadores: são uma família disfuncional em busca de raízes.
Assim, como Coogler explicou à Variety, “Não bastava que Remmick quisesse apenas sangue. Ele tinha de dialogar com temas maiores: família, comunidade.” E é inegavelmente essa profundidade que distingue “Sinners”. Enquanto outros filmes se limitam a mostrar criaturas sedentas, estes vampiros carregam uma melancolia quase humana — uma fome que vai além do físico.
Claro, os clássicos estão lá: alho, estacas de madeira, balas de prata. Mas a verdadeira inovação está na motivação. Remmick não quer um exército de sugadores de sangue; quer uma linhagem. E nesse aspeto, “Sinners” não é apenas um filme de terror — é inegavelmente uma reflexão sobre o que, no fundo, nos torna humanos.
Já pensaste no que farias se um vampiro batesse à tua porta? Deixa a tua estratégia nos comentários.