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“Ele tinha planos”, Naomi Watts recorda os últimos dias de David Lynch

A morte de David Lynch deixou um vazio peculiar no universo cinematográfico, mas, por vezes, os génios só descansam mesmo no fim.

Conhecido por narrativas que desafiavam a lógica e mergulhavam no subconsciente, o realizador norte-americano, David Lynch, partiu aos 78 anos, após uma batalha pública contra o enfisema. Mas, como num dos seus próprios filmes, a história não termina com os créditos finais. Naomi Watts, protagonista do aclamado “Mulholland Drive“, partilhou recentemente detalhes íntimos de um último encontro com o cineasta, revelando um Lynch que, mesmo frágil, mantinha a chama criativa acesa.

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O último desejo de David Lynch: “Queria voltar ao trabalho”

David Lynch no Festival de Cannes em 2017
David Lynch © Denis Makarenko via Shutterstock, ID 648418489

A revelação chegou discretamente, como um sussurro numa sala escura. Em entrevista ao “Los Angeles Times“, Naomi Watts confessou que, semanas antes da morte de David Lynch, almoçou com ele e Laura Dern — outra musa do realizador — na sua casa em Los Angeles. “Estava de grande humor”, descreveu Watts. “Queria voltar a trabalhar. Nós [ela e Dern] encorajámo-lo: ‘Consegues! Podes filmar até do trailer.’ Ele não estava, de forma alguma, acabado. Via-se aquele espírito criativo a pulsar.”

As palavras de Watts ecoam um paradoxo: David Lynch, que em agosto de 2024 anunciara o diagnóstico de enfisema, admitira em novembro que a doença o impedia de trabalhar. “Mal consigo atravessar uma sala. É como andar com um saco de plástico na cabeça” (The Guardian), lamentara. Ainda assim, no seu refúgio doméstico, cercado por colegas de décadas, o desejo de criar persistia. O realizador, que reinventou o surrealismo no cinema, via a arte como um acto de resistência — até ao último fôlego.

David Lynch deixou obras, mas também perguntas. O seu derradeiro projeto significativo foi a série “Twin Peaks: The Return” (2017), onde Watts e Dern brilharam. Em 2022, surpreendeu ao interpretar John Ford em “The Fabelmans“, de Steven Spielberg. Mas o que mais intriga é o que ficou por fazer. Watts, descoberta por Lynch num monte de headshots em 2001, guarda segredos: “Há muito que podia partilhar, mas quero respeitar a privacidade da família. Foi um encontro poderoso, cheio de amor e esperança.”

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Um legado de luz e sombra

Eraserhead
Eraserhead

David Lynch nunca se contentou com o óbvio. Dos sonhos perturbadores de “Eraserhead” (1977) aos corredores sinuosos do Hotel em “Twin Peaks“, a sua filmografia é um labirinto onde o espetador é, simultaneamente, voyeur e prisioneiro. Mas por trás do enigma havia um homem que, como todos, enfrentava limites físicos. O enfisema, doença pulmonar crónica, roubou-lhe não só a saúde, mas a capacidade de estar num set — espaço que ele considerava um “santuário”.

Watts, porém, insiste: a chama não se apagou. “Ele falava de ideias, de planos… Não era uma despedida”, sublinha. David Lynch, mestre em transformar o mundano em místico, via a criação como um ritual. Até no adeus, havia um close-up por fazer. A sua resistência lembra-nos que a arte muitas vezes sobrevive ao corpo — mas também que os artistas raramente se rendem sem lutar.

E assim, a narrativa de David Lynch encerra-se com um final aberto. O que teria ele imaginado, se a doença lhe concedesse mais tempo? Um novo filme? Uma série? Watts não diz. Prefere guardar “a beleza do privado”. Mas deixa uma pista: “…encheu-me de esperança e amor.”

Até onde iria a mente de David Lynch se o corpo o permitisse? Deixa nos comentários que cena, que personagem, que universo gostarias de ter visto nascer das mãos deste mestre?




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