Natalie Portman defende que “O Método” é um luxo não reservado a mulheres
Natalie Portman é uma das atrizes mais aclamadas da atualidade, e assim o é há muitos anos. A sua preparação para os papéis é notável, mas há uma técnica particular de representação que nunca experimentou: o “method acting”. Em entrevista recente ao The Wall Street Journal, explicou porquê.
Na temporada de prémios de 2023/2024, Natalie Portman tem sido uma presença constante. Isto devido à sua interpretação como a atriz Elizabeth em “May December”, a nova comédia negra da autoria de Todd Haynes. Em Portugal, o filme chegou às salas de cinema a 30 de novembro de 2023 com o título “May December: Segredos de um Escândalo”. Recorda-se a história real de uma relação problemática entre uma mulher adulta e um adolescente e a sua constituição de família não obstante o enorme e ilegal fosso de idades. Julianne Moore (“O Meu Nome É Alice”) e Charles Melton (“Riverdale”) encarnam a este infame casal disfuncional, enquanto Portman interpreta uma atriz que faz de tudo para se imiscuir na mente da sua personagem. Mesmo que para isso destabilize totalmente a vida conjugal deste par, recuperando antigas feridas.
A interpretação de Natalie Portman em “May December” conquistou nomeações aos Golden Globes em 2024, para o prémios Satellite, para os Spirit Awards e para diversas outras cerimónias. Já destacámos a nuance deste seu trabalho, como uma verdadeira revelação, e embora as suas hipóteses para a renhida categoria de Melhor Atriz nos Óscares 2024 estejam tremidas, pode ainda surpreender e sem dúvida que esta sua performance é uma das mais celebradas do ano cinematográfico.
Vencedora da estatueta dourada em 2011 pela sua prestação em “O Cisne Negro” de Darren Aronofsky, um papel no qual se transformou, corpo e mente, numa bailarina consumida pela sua interpretação no bailado “O Lago dos Cisnes”, e nomeada também pela sua intensa personificação da esposa de Kennedy em “Jackie” (2016), ou pela performance intensa em “Close: Perto Demais”(2004), Natalie Portman não é de todo estranha à imersão completa numa personagem.
A OPINIÃO DE NATALIE PORTMAN SOBRE A TÉCNICA DO MÉTODO
Todavia, há algo que nunca experimentou: o polarizador “method acting”. Tratado simplesmente como “O Método” ou “Método de Interpretação para o Ator”, esta técnica que procura encorajar sinceridade no processo do ator foi criada pelo intérprete e realizador russo Constantin Stanislavski (1863 – 1938) e aperfeiçoada nos palcos norte-americanos a meados do século XX, com grandes impulsionadores como Lee Strasberg e o Actors Studio.
“O Método” tem sido bastante divisivo em Hollywood em anos recentes. Praticantes desta modalidade de representação ficam em personagem entre takes e muitas vezes mesmo quando voltam para casa, nunca abandonam a personagem durante todo o período de gravação do filme, o que por vezes pode levar a que as suas interações no estúdio de gravações sejam pouco naturais, em particular se estiverem a habitar personas negras.
Por outro lado, a oscarizada Natalie Portman tem uma perspectiva firme sobre o método, defendendo que esta técnica é um luxo para mulheres e em particular para mulheres que são mães:
Eu já fiquei bastante consumida por papéis, mas acho honestamente que [o método] é um luxo para uma mulher (…) Não acho que parceiros ou crianças fossem ser muito compreensivos se, de repente, pedisse a toda a gente para me chamar sempre Jackie Kennedy.
Estas declarações, publicadas a 8 de janeiro pelo The Wall Street Journal adequam-se perfeitamente à temática do filme “May December”. Aqui, a personagem por si interpretada, também ela uma atriz, deixa-se mergulhar por completo na personagem, perdendo de vista a linha entre a sua própria identidade e a da personagem. Em última instância, Portman não parece considerar este processo sustentável.
A atriz já passou por processos de preparação muito intensos, como por exemplo durante “O Cisne Negro“, papel para o qual perdeu muito peso e que a levou a treinar dança durante largos meses. Contudo, defende que, no final do dia, consegue separar-se da personagem e voltar para casa.
O DIVISIVO METHOD ACTING
O Método, ou “Method Acting”, foi parodiado na Cerimónia de 2024 dos Golden Globes, a 7 de janeiro, com Jared Leto a partilhar como se havia preparado durante semanas para agarrar num envelope e para habitar a personagem do apresentador. Tal trata-se de uma referência à sua adoção do Método durante as gravações de “Esquadrão Suicida”, altura em que ficou em personagem como o Joker e chegou a mandar presentes alegadamente nojentos aos seus colegas. Outro exemplo de method acting veio de Andrew Garfield, que durante a sua preparação para “Silêncio” de Martin Scorsese se privou de comida e sexo para simular a experiência do padre jesuíta que interpretou. Outros atores muito conhecidos pelo uso do método são Daniel Day-Lewis,Leonardo DiCaprio ou Robert De Niro.
Embora o polémico método, que divide opiniões por estar por vezes associado a arrogância e antipatia, seja mais utilizado por homens, também há atrizes que já o utilizaram como Hilary Swank para a preparação de “Os Rapazes Não Choram”, Lady Gaga para “Casa Gucci” ou, recentemente, Carey Mulligan para “Maestro”, mediante conselho de Bradley Cooper, que também recorreu à técnica no filme, conforme avançado em entrevista à Variety.
Desse lado, consideras que a pouco consensual técnica de “method acting” é mais fácil de empregar por homens do que por mulheres?