NOS Primavera Sound 2016, Dia 1 | Sigur Rós pediam silêncio, os Parquet Courts não sabem o que isso é
Arranca a edição de 2016 do NOS Primavera Sound. A meteorologia previa um sol tímido, mas com o aproximar das horas, as previsões de Primavera deram lugar a um céu cinzento que já pairava sobre nós ainda os Sensible Soccers estavam no Palco Super Bock. Estava dado o mote para um noite abençoada.
Entramos ainda de óculos de sol e saímos de cabeça encharcada e de constipação à vista. A meteorologia trocou as voltas a quem se deslocou ontem ao Parque da Cidade do Porto, mas só assumiu um fator determinante no decurso normal do festival quando os Animal Collective subiram ao Palco NOS e a debandada foi quase geral. Mas já lá vamos.
Como dizíamos, estávamos ainda de óculos de sol nos olhos quando os Sensible Soccers cortavam a fita da edição de 2016 do NOS Primavera Sound. Os ritmos dançáveis dos portugueses conquistavam os balanços dos que se encontravam nas primeiras filas, e a quantidade de pessoas que já ali se juntavam comprovavam que o fenómeno nacional (e não só) dos Sensible Soccers é real.
Seguiram-se as U.S. Girls naquele concerto da praxe que se ouve sentado na relva. Alguns problemas no som e a falta de empatia iriam a levar a que esse mesmo som que se ouvia não fosse mais do que música de fundo enquanto se esperava por Wild Nothing.
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Wild Nothing que viriam a chegar ao Palco Super Bock e entregar uma pop bonitinha, bem arranjada e honesta, num concerto que resgatou temas de “Nocturne” e “Gemini”, mas que não deixou de lado trabalhos mais recentes de “Life of Pause”, editado este ano – que, apesar de ter alguns arranjos diferenciadores e que ficam no ouvido, é na generalidade inferior a trabalhos mais antigos da banda. Jack Tatum, o principal mentor do projeto e com quem curiosamente nos cruzamos já à saída do recinto pela madrugada, não se livrou de alguns problemas persistentes na sua guitarra mas aquele dream pop luminoso – sobretudo naqueles uivos de “Summer Holiday”- fazem tudo valer a pena.
Do dream pop, avançamos para o noise pop (ou perto disso) dos Deerhunter liderados por Bradford Cox – que na personalidade e teatralidade até faz lembrar Sam France dos Foxygen. O seu último álbum, “Fading Frontier” é uma aproximação ao garage, sem esquecer as raízes noise, mas com muitos temas reluzentes de apelo ao coração. Assim é “Living My Life” dedicado por Cox no NOS Primavera Sound a um peluche de um cordeiro que um fã exibe efusivamente no alto. Pecou por curto o concerto dos Deerhunter que, apesar da retrospetiva quase completa à carreira, acabaram por nos dar a ideia de que tinha tanto mais para dar se houvesse mais tempo.
A maratona de concertos merecia uma pausa porque a fome já apertava. Julia Holter foi a sacrificada, mas segundo ouvimos, tivemos a infeliz oportunidade de constar um déjà-vu do ruído de fundo no concerto de Sigur Rós, que se seguiu.
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Os islandeses pediam silêncio. Não literalmente, mas pelo estatuto das suas melodias. O público do Primavera Sound não percebeu e o que se sucedeu foi um concerto incrivelmente orquestrado mas com copiosos ruídos de conversas de café entre os presentes sempre que canção entoada pelos Sigur Rós era menos conhecida. Uma situação lamentável, que só nos faz lembrar Antony & the Jonhsons no ano passado.
Para lá daquilo que não era controlável nem pela banda – que não permitiu transmissão rádio e televisiva do concerto e não se deixou fotografar no fosso do palco – nem pela organização, tudo aquilo que vimos foi (e perdoem-nos a lamechice) lindo! Um concerto visual, onde cada tema de cores dos ecrãs representa uma fase da vida da banda (da luz às trevas, do céu ao inferno). Aqui, a combinação de uma guitarra, um baixo, uma bateria e uma voz melódica e minimalista provocam sons etéreos que explodem com estrondo sempre que a intensidade das melodias aumenta nesta que foi uma autêntica coletânea de temas emblemáticos (e um novo logo a abrir).
Do silêncio que pediam os Sigur Rós, viajamos até à algazarra provocada pelos Parquet Courts (que fizeram um soundcheck evitável durante o concerto dos islandeses). Eles que tratam o público que vê o concerto sob uma intensa chuva por “motherfuckers“. É um modo de tratar carinhoso num dos melhores concertos do dia: inebriante, quase interrupto, ruidoso, frenético. Se isto é o punk americano (como eles lhe chamam), então dancemos todas as noites do ano com o punk americano.
Nesta altura, a chuva persistia e aqueles que resistiram até ao fim com os Parquet Courts, acabaram por abandonar o recinto ou ainda antes de Animal Collective ou mesmo durante o concerto do quarteto norte-americano. De maneira que a colina que enfrenta o Palco NOS foi ficando sucessivamente mais vazia com o avançar da noite. Pelo contrário, os Animal Collective enchiam o seu tempo com experimentalismo, desencadeando cada uma das suas músicas de difícil categorização em sucessões de dança sem paragens (mesmo para dizer um simples “olá”).
A noite estava para os resistentes. Hoje há mais.