"O Caso de Richard Jewell" (2019) | © NOS Audiovisuais

O Caso de Richard Jewell, em análise | Made in USA

O novo filme de Clint Eastwood, “O Caso de Richard Jewell”, chega aos cinemas no início do próximo ano. Vimo-lo nos EUA e hoje trazemos as nossas primeiras impressões de uma obra digamos que… problemática.

Nos Jogos Olímpicos de Verão de 96, em Atlanta, o Centennial Olympic Park foi palco de um ataque terrorista que resultou na morte de duas pessoas e em mais de uma centena de feridos. Teriam sido mais as vítimas mortais se o segurança Richard Jewell (Paul Walter Hauser) não descobrisse o engenho explosivo antes da sua detonação.

Richard Jewell foi imediatamente aclamado como um herói, estado de graça que viria a ser interrompido pelas notícias de que o FBI suspeitava do seu envolvimento no ataque que alegadamente teria sido motivado pela sua ânsia em ser reconhecido por todos como um… herói. Jewell, embora nunca formalmente acusado nem detido, foi nomeado como suspeito, a sua casa foi revistada, os seus antecedentes foram investigados exaustivamente e herói acabou por se tornar num vilão permanentemente assaltado na sua privacidade e antagonizado pelos media. Jewell era inocente.

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Mais de vinte anos depois, Clint Eastwood revisita esse episódio e tenta fazer justiça ao legado de Richard Jewell, que faleceu de ataque cardíaco em Agosto de 2007, e cuja vida após este incidente – e até à detenção do real bombista, em 2003 – nunca mais foi a mesma.

Paul Walter Hauser é soberbo na representação do silencioso e peculiar estado emocional de Jewell, um cidadão vulnerável ao poder do Estado e permeável mediatismo perpetrado pela comunicação social. Hauser oferece uma performance insuflada de nuances, certamente uma das melhores do ano, mas que infelizmente nasce num filme que, no mais eufemístico dos termos, é problemático.

O Caso de Richard Jewell
O Caso de Richard Jewell | © NOS Audiovisuais

Eastwood demoniza o FBI e os media, glorifica um homem que gosta de armas e que pertence às forças da autoridade, omite o manifesto anti-aborto e anti-gay do real criminoso (os Jogos Olímpicos de 96 celebravam os ideais do socialismo global) e, como se tal não fosse suficiente Trumpiano, ainda faz representar a execrável comunicação social através da jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde), do Atlanta Journal Constitution, que no filme obtém informações do FBI em troca de favores sexuais, sem aparente evidência de que tal tenha acontecido na vida real.

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Clint Eastwood simplifica, omite e mente em “Richard Jewell”, em proveito da disseminação das suas ideologias políticas. Aos 89 anos, o realizador americano assina uma obra tecnicamente competente, apoiada num elenco irrepreensível (Kathy Bates e Sam Rockwell podem ser nomeados nos Óscares), mas recheada de segundas intenções.

Assim vive Eastwood, na decadência do seu Cinema, que teve um raro ponto de inflexão em “Correio de Droga”, no ano passado, mas que retoma assim o seu caminho rumo a um abismo bem longe da auspiciosa era pré-“Gran Torino”.

Nota: A escrita deste artigo resulta do visionamento do filme nos EUA. “O Caso de Richard Jewell” estreia em Portugal a 2 de Janeiro.

O Caso de Richard Jewell, em análise
O Caso de Richard Jewell

Movie title: Richard Jewell

Date published: 16 de December de 2019

Director(s): Clint Eastwood

Actor(s): Paul Walter Hauser, Sam Rockwell, Kathy Bates, Olivia Wilde, Jon Hamm

Genre: Drama

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  • Daniel Rodrigues - 55
  • Cláudio Alves - 60
58

CONCLUSÃO

O Melhor: Paul Walter Hauser como Richard Jewell, uma interpretação que lhe devia valer uma nomeação ao Óscar de Melhor Ator. Sam Rockwell e, sobretudo, Kathy Bates. São os atores que elevam o filme de Clint Eastwood.

O Pior: A agenda política de Eastwood. A vergonhosa deturpação dos factos.

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