O Livro da Selva, em análise
O Livro da Selva reúne os ingredientes para ser mais um sucesso da Disney, tem magia, comédia, música e muita emoção.
“Walt Disney não para”, esta é provavelmente a primeira expressão que ouvirá antes de comprar um bilhete nos dias que correm, afinal o estúdio tem sempre um ou outro filme em exibição nas salas de todo o mundo. Na verdade, depois do êxito de Frozen – O Reino de Gelo, no campo da animação e depois do sucesso de Alice no País das Maravilhas (2010), no domínio do live-action, sabíamos muito bem que tantos argumentos guardados a sete chaves poderiam finalmente ganhar forma. Em anos anteriores já tivemos oportunidade de descobrir os segredos do passado de Maléfica, a vilã de A Bela Adormecida, no filme do mesmo nome protagonizado por Angelina Jolie e, podemos, repetir a dose de Cinderela com Cate Blanchett e Lilly James, projetos tão inesperadamente envolventes quanto as suas histórias originais. Claro que no decurso do visionamento de O Livro da Selva já sabemos o que acontecerá, o enredo é idêntico, mas a magia característica do estúdio e o fascínio que muitos de nós dispomos, sejam rapazes ou raparigas já adultos, é algo do qual não conseguimos escapar.
Consulta : Guia das Estreias de Cinema | Abril 2016
As primeiras imagens que vemos em O Livro da Selva conquistam desde logo pela sua grandiosidade em CGI, e não confundamos quantidade com qualidade – embora aqui ambas estejam de mãos dadas – porque este filme não utiliza de todo a tecnologia para literalmente preencher o que falta ao papel, tal como aconteceu em Batman V Superman: O Despertar da Justiça. Na verdade, O Livro da Selva, precisa paradoxalmente do digital para contar a sua história, mas corrobora uma dimensão familiar e não arrisca tanto por novos caminhos para não cair no ridículo, à semelhança da medida adotada pelo estúdio em Star Wars: O Despertar da Força. Consequência primeira seja portanto a capacidade de O Livro da Selva interagir com o público – daí que seja recomendável o IMAX 3D -, experiência provavelmente próxima àquela que há mais de cem anos um conjunto de espetadores teve ao assistir a Viagem à Lua, de George Méliès. Não pense que estaremos a exagerar, aquilo que O Livro da Selva faz num ponto de vista técnico iguala ao “primeiro” filme que utilizou efeitos visuais e quase de certeza não veremos noutros filmes deste ano.
Lê ainda: O Livro da Selva | Elenco faz sessão fotográfica com as suas personagens
No entanto, O Livro da Selva é muito mais que truques de magia e prima pelo realismo da imagem, potencializado pelas tecnologia computadorizada da WETA e da equipa da Moving Picture Company (MPC), com a preocupação de humanizar os animais que vão surgindo no ecrã – não esquecer que todos eles falam a nossa língua. Dispostos de diferentes tamanhos, cores, taras e manias porque orgulhosos, gulosos, preocupados, são estes os seres vivos que temos o prazer de conhecer, quase como numa visita a um jardim zoológico, e com a necessidade intrinseca de chamar a atenção a uma problemática que não iremos aqui revelar, algo muito superior à criação de super-heróis que existam por outras bandas e que já estamos fartos de assistir.
Apesar disso e porque qualquer filme é mais do que técnica, é necessário considerar O Livro da Selva um nível narrativo. De facto, como já apontado, estamos num registo familiar porque a história apenas expõe visualmente a obra clássica da literatura de Rudyard Kipling publicada em 1894, sobre uma criança que cresce na selva. Mowgli (interpretado pela primeira grande criança revelação de 2016, Neel Sethi) vive o inóspito mundo da floresta ao lado da pantera negra Bagheera (voz do extraordinário Ben Kingsley) e dos lobos Akela (voz de Giancarlo Esposito) e Raksha (voz de Lupita Nyong’o, com frases de efeito memorável), responsáveis pelos seus ensinamentos. A vida poderia ser pacífica se não fosse a existência de um tigre arrogante Shere Khan (o talentoso Idris Elba) que ameaça vingar-se da sua ferida no rosto, causada pela Flor Vermelha, uma das ferramentas do Homem. Ora até aqui nada de novo, certo? A história é tão conhecida que o enredo pode dar brilho aos momentos mais cómicos – em alguns até aparece que assistimos a uma espécie de stand-up comedy, como quando Mowgli ajuda Baloo (aquela voz de Bill Murray tão divertida) e os “vizinhos” desse urso peludo aparecem para discutir a situação -, ou para intensificar situações de maior suspense – claro as presenças de Kaa (Scarlett Johansson) e do Rei Louie (Christopher Walken) não passarão despercebidas.
Lê mais: 9 Coisas que (possivelmente) Não Sabias sobre O Livro da Selva
Num registo familiar, O Livro da Selva é cinema para todos, não cinema para alguns. É o cinema de atração que reúne toda a família, inclusive os membros mais velhos que tiveram oportunidade de assistir a O Livro da Selva, de 1967. Quase cinquenta anos separam estas produções, mais parecem estar tão mais perto uma da outra do que imagina. A Walt Disney insiste, e bem, em firmar o seu legado e aquilo que lhe é próprio, sem ser demasiado lamechas ou presunçosa numa adaptação mais complexa da ideia base. Temos por isso a importância de retomar canções como “The Bare Necessities” e “I Wanna Be Like You”, cantadas por Baloo e pelo Rei Louie respetivamente, incluídas na banda-sonora harmoniosa de John Debney (nomeado ao Óscar por A Paixão de Cristo), e que nos fazer querer cantar e dançar quando o filme termina.
Lê mais: Disney já está a preparar O Livro da Selva 2!
Voltemos ainda ao seu protagonista, Mowgli. Nesta sua viagem, que é uma viagem de auto-descobrimento e do que significa crescer, o ator preserva a dualidade da personagem em si próprio isto porque teve que se adaptar a um mundo que vai além do seu olhar. Neel Sethi é prova, em cada um dos seus movimentos, do perpétuo continuum entre realismo e ficção que O Livro da Selva e, por sua vez todo o bom cinema digital, enfatiza. Em suma, está é uma aventura onde imaginário torna-se real, uma impressionante experiência cinematográfica que vale o custo do bilhete.
O MELHOR – As interpretações densas dos animais tão humanizados quanto o protagonista.
O PIOR – Faltou uma maior ligação entre Mowgli e os humanos, mas talvez seja esse o enfoque da sequela.
Título Original: The Jungle Book
Realizador: Jon Favreau
Elenco: Neel Sethi, Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Lupita Nyong’o, Scarlett Johansson, Giancarlo Esposito e Christopher Walken
NOS | Aventura, Drama, Família | 2016 | 105 min
[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]
VJ