O Meu Nome é Alice, em análise
“ The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.
[…]”
Elizabeth Bishop, “One Art”
É na arte de perder que, mais uma vez, se confirma o génio de Julianne Moore. Na arte de deixar ir. Na pintura que é aquele sorriso dividido entre o desespero contido e a esperança restante.
Moore, relembras-nos os mais marcantes, por favor? Fazemo-lo por ti. “The Big Lebowski”, “Magnolia”, “Far from Heaven”, “The Hours” (Laura Brown, ‘the housewife’, magnífica, de uma tristeza incomensurável) e “Boogie Nights”. Temos mais. “What Maisie Knew”, “Savage Grace”, ao lado de Eddie Redmayne e “The Shipping News”.
Em “O Meu Nome é Alice“, numa realização e argumento (adaptado do original de Lisa Genova), do que se trata é de uma reconhecida professora de Linguística, cuja vida pessoal e carreira se transformam abruptamente, perante o diagnóstico de uma rara e precoce Alzheimer.
Glatzer e W. Westmoreland vencem na capacidade de, gradualmente, transporem para o nosso conhecimento a demência que se vai apoderando da Dr. Alice Howland, a mulher brilhante, quer para os seus pares, quer para um Alec Baldwin (o marido, Dr. John Howland) que não lhe poupa elogios. E em paralelo com este crescendo de incapacidade cognitiva e de memória, assistimos às subtis alterações comportamentais, – maravilhosamente tratadas por estes realizadores – e que invadem a família de Alice.
Num plano de decaimento da estrutura vital de Alice, a filha Lydia (Kristen Stewart), mais rebelde e de ideais que se distanciam dos desejos familiares, é quem assume papel de destaque. Kate Bosworth, a vestir na perfeição a indumentária da advogada conservadora e, em certa medida, da jovem caprichosa e ‘by the rules’, é parte, com Alice, num jogo on-line mais simbólico e revelador do que aparenta.
Este ‘script’ não pretendeu, com toda a certeza, tornar mais louvável do que qualquer outra força, a de uma professora de linguística, face à destruição neuro-degenerativa. Esteve na sua génese, acredita-se, a tentativa de fazer chegar à sensibilidade humana a perda de noção do espaço, a fugidia aptidão para realizar tarefas, a condição física e psíquica de uma vítima da doença. E, obviamente, as repercussões familiares inerentes.
O que se verifica aqui, em particular, é a frustração de alguém inicialmente cheio. Cheio de palavras. Que se vão evaporando. Letras e conceitos que choviam. E, ao presente, se vão desmaterializando.
Mas Alice continuará a ser Alice.
E, sem dúvida a muito custo, a expressá-lo e identificá-lo. L’ ”Amour” (Michael Haneke).
“Nothing’s lost forever. In this world, there is a kind of painful progress. Longing for what we’ve left behind and dreaming ahead.”
Tony Kushner,”Angels in America”
Sofia Melo Esteves