“Uma obra-prima digna de Homero”, Universal promete o maior épico de Christopher Nolan com The Odyssey
Será que o cineasta que conquistou Hollywood com bombas atómicas e sonhos compartilhados consegue domar os deuses do Olimpo na “Odisseia”?
A mitologia grega nunca saiu de moda, mas agora regressa com o peso de um nome que, hoje, é sinónimo de cinema de grande escala. Christopher Nolan, após desconstruir a mente do “pai da bomba atômica” em “Oppenheimer“, voltou-se para um desafio ainda maior: adaptar “A Odisseia”, o poema épico de Homero que há 2.800 anos define o conceito de “jornada heroica”.
Christopher Nolan e a Odisseia de (superar) as expectativas
Se há algo que Christopher Nolan domina, é a arte de transformar conceitos intimidatórios – sejam buracos de minhoca, dilemas morais da Guerra Fria ou sonhos invasivos – em espetáculos acessíveis sem perder profundidade. Agora, enfrenta o texto fundador da literatura ocidental: “A Odisseia”, com as suas sereias, ciclopes e um herói tão astuto quanto arrogante. A declaração da Universal, embora hiperbólica, reflete a fé quase religiosa que o cinema contemporâneo deposita no realizador. Num tom entre o reverente e o entusiástico, Jim Orr, chefe de distribuição do estúdio, declarou na CinemaCon que a obra será “uma obra prima visionária do qual o próprio Homero provavelmente se orgulharia” (Variety).
O elenco, porém, justifica parte do frenesim. Matt Damon, com a sua dicção de estadista e físico de guerreiro cansado, parece a escolha óbvia para Odisseu. Já Tom Holland, eternamente jovem, poderá ser Telémaco (o filho do herói), enquanto Zendaya e Lupita Nyong’o são candidatas naturais a deusas ou mortais perigosas. O risco, claro, é que o brilho das estrelas ofusque a narrativa – algo que Nolan evitou em “Oppenheimer”.
E, no entanto, há perguntas que nem as Musas saberiam responder. Como condensar a saga de 24 cantos da Odisseia num filme (ou dois, ou três – os rumores divergem)? Será que a narrativa não linear, marca registada de Nolan, funcionará com uma estrutura já naturalmente episódica? A Universal parece acreditar que sim, marcando a estreia para 17 de julho de 2026.
A batalha dos deuses do cinema
Enquanto Nolan se debruça sobre o passado mítico da Odisseia, Spielberg, o seu “rival” amigável, volta a explorar o futuro – ou algo “propulsivo e moderno, com um twist fora deste mundo”, segundo a descrição enigmática da CinemaCon. O realizador de “ET” e “Jurassic Park” parece reencontrar-se com o entretenimento puro, após a pausa introspetiva de “Fabelmans“. Curiosamente, ambos os cineastas, agora na casa dos 50-70 anos, encaram projetos que, de certa forma, espelham suas próprias jornadas: Nolan, o auteur que navega entre o comercial e o cerebral, tal qual Odisseu entre Scila e Caríbdis; Spielberg, o contador de histórias que sempre soube onde fica o coração da audiência.
A diferença está no tom. Nolan traz gravidade até num filme de super-heróis, enquanto Spielberg, mesmo nos temas mais sombrios, mantém um brilho de maravilhamento infantil. Não é difícil imaginar que “A Odisseia” terá sonoplastia a imitar o bater de asas de Ícaro, enquanto o filme sem título de Spielberg nos fará suspirar com um alienígena ou um dinossauro.
Assim, o que revela isto sobre Hollywood? Numa indústria, assombrada por flops recentes, procurar refúgio em nomes seguros e propriedades intelectuais “à prova de bala” é mais que esperado. Nolan e Spielberg são, neste contexto, os Odisseu e Ajax do nosso tempo: um astuto, outro poderoso, ambos a tentar evitar o destino de Aquiles.
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