SBSR 2019 | Um pouco de Superorganism salvou o dia
A 25ª edição do SBSR terminou num dia focado no hip-hop, com mínima presença do rock de qualidade.
No regresso ao Meco, o SBSR recebeu vários nomes de qualidade (e que já antecipáramos). A par disto, no último dia sentiu-se uma forte aposta no género do hip-hop, algo que já vinha das edições anteriores.
Como também não há festival perfeito, demos a cada um o relevo que merece e aproveitámos ao máximo atos como Shame, Cat Power e Lana del Rey. Adotando esta postura, é preciso dizer que o último dia da edição deste ano foi, dos três, o que menos aplausos sinceros recebeu.
Sendo sábado, o festival recebeu várias famílias com crianças pequenas e também muitos adolescentes, tendo-se notado um aumento radical no número de pólos dentro do recinto. A maior parte das pessoas neste último dia de festival tinham o mesmo em mente, destoando por completo da nossa equipa: Migos, sendo que também se falava muito de Prof Jam.
A PEQUENA FEZ A FESTA E NÃO CESSOU DE PÔR UM SORRISO NO PÚBLICO
Depois de mais de três horas de caminho a partir de Lisboa até ao recinto, ao que o atraso no autocarro e o congestionamento na única e esguia estrada que dá acesso ao festival fortemente ajudaram, já não chegávamos a horas de assistir à atuação dos Superorganism na sua totalidade. Num dia como este, perder metade das duas atuações no checklist por demoras nos transportes já do lado de lá da ponte é absurdo e especialmente frustrante, evidenciando que, apesar das melhoras, o funcionamento dos transportes ainda não estava no ponto. Ainda assim, conseguimos apanhar parte da performance do diversificado grupo.
O que se passava no palco pedia por atenção, não deixando de ser caricato. Três raparigas estavam encarregues dos background vocals, apresentando-se com as caras pintadas e roupas destoantes entre si. Mais trás, dois rapazes entre sintetizadores e guitarras. Eram estes instrumentistas que criavam a base pop que, depois, era distorcida, sempre de forma cativante, pela líder da banda. No fundo do palco, um ecrã que mostrava imagens um tanto aleatórias de planetas e Minecraft, entre outros temas que não têm nada a ver com os já mencionados. O principal passava-se na frente do palco, com a vocalista Orono Noguchi. Destacava-se pela sua baixa estatura e não só. A artista envergava uma capa verde e interagia bastante com o público. Entre cada canção dirigia os seus comentários humorísticos e irónicos ao público, tendo vindo com alcunhas para fãs específicos, como “frog man”, “Coachella girl” e “London guy”.
O synth-pop dos Superorganism ficava na cabeça e foi, com certeza, um concerto a não esquecer. Meio concerto, pelo menos, dada a dificuldade em chegar ao recinto neste dia de fim-de-semana. Os intervalos entre os temas eram verdadeiros momentos de comédia. Juntando este aspeto à positiva aura despreocupada da banda, obteve-se quase uma hora de pura risada e dança moderada pelo Palco EDP, ao som de temas como o preferido do fãs, segundo Noguchi, “Prawn Song” ou outros mais contagiantes como “Something For Your M.I.N.D” e “Everybody Wants To Be Famous”.
O FOCO DE JANELLE MONÁE É OUTRO NO PALCO SUPER BOCK
Foi ainda no ano passado que Janelle Monáe editou Dirty Computer, aclamado por uns, deitado a baixo por outros, classificando-o como sobrevalorizado. Falou-se muito do álbum, tendo sido um dos pontos quentes os vídeos explícitos e, para muitos, chocantes. O que é certo é que as músicas do mais recente álbum possuem um groove pop agradável, baseado no R&B e Urban, com vários toques do funk. O resultado pode não ter sido o melhor, mas as canções da artistas, com a componente visual bastante pronunciada, certamente entreteram o recinto do Meco.
As trocas de vestuário, tanto por parte dos dançarinos como da artista, eram frequentes. Pouco depois do início da atuação, foi colocado o habitual trono da artista no centro do palco. O rap foi uma presença forte nesta parte inicial do espetáculo, tendo sido deixadas para depois do aquecimento as canções mais cantáveis, como os singles “Make Me Feel” e “PYNK”, com direito às polémicas calças rosa do videoclip. Ainda assim, não se sentia grande coro entre o público, o que não impediu a cantora de virar o microfone para o lado de lá. Não foi, de todo, correspondida, tendo desistido logo da ideia e seguindo em frente.
A atuação da artista americana viveu muito do espetáculo e da sua voz privilegiada. Mais próximo do final, depois de uma versão intensa de “Cold War”, houve espaço para o já esperado, no entanto, legítimo e até necessário, ativismo da cantora. No decorrer disto, a artista referiu-se, de forma hostil e animosa, a Donald Trump como “agent of hate”, terminando o momento político com um apelo ao impeachment do presidente americano.
Depois da perda que a deixou devastada, Janelle Monáe prestou homenagem ao mentor, Prince, tendo-se ouvido os “uhh” em falsetto de “Purple Rain”, aquando de umas das várias vezes que a cantora saíra de palco para se trocar. O ponto máximo da exibição da sua voz terá sido no número final, “Tightrope”, voltando vários anos atrás no tempo.