Sinners, a Crítica | O filme mais pessoal de Ryan Coogler com um Michael B. Jordan duplamente brilhante
“Sinners”, o novo filme sobrenatural de Ryan Coogler, chegou aos cinemas portugueses no dia 17 de abril e traz um Michael B. Jordan a dobrar.
Ainda agora estreou e já é um dos filmes mais comentados do ano. Com uma carreira que ainda não é muito longa, Ryan Coogler tem somado sucesso atrás de sucesso. O seu primeiro filme estreou em 2013. “Fruitvale Station” é um filme independente, muito aclamado pela crítica.
Michael B. Jordan é o protagonista do filme e por aí continuaram os dois, como uma dupla de sucesso. Juntos, fizeram “Creed” e “Black Panther”. Agora, voltam a juntar-se para “Sinners”. Este novo filme está cotado como terror, mas é tudo menos isso.
“Sinners” mistura Western, Suspense e Sobrenatural, mas não se encaixa no termo tradicional de terror, uma vez que não é um filme para assustar ninguém.
Assim, “Sinners” conta a história de dois irmãos gémeos que fogem do mundo do crime e retornam ao Mississipi para abrir um bar e começar uma nova vida. Junto deles levam o primo Sammy, que trabalha numa plantação, mas tem o sonho de ser músico. É uma história aparentemente normal. No entanto, Sammy é tão genial na música que tem o dom de ultrapassar a barreira entre gerações, entre a vida e a morte, o que atrai um demónio poderoso que lhes vai destruir a festa.
Sinners é muito mais profundo do que parece
À primeira vista, “Sinners” é só mais um filme de vampiros, com batalhas e muito sangue. No entanto, basta perceber um bocadinho da história americana e assistir a algumas entrevistas do realizador, para ver além da premissa inicial.
O filme passa-se na década de 1930, numa América profundamente racista e exploratória. Assim, apresenta o Blues como a música do diabo, tal como era caracterizado na época pela alta-sociedade.
Neste sentido, os vampiros são apresentados como uma extensão do racismo e da cultura americana que queria cancelar os costumes da cultura africana, muito ligada à música, à dança e ao misticismo.
No entanto, apesar da inteligência desta metáfora, por vezes parece que “Sinners” é quase dois filmes num só e a batalha entre as personagens principais e os vampiros parece deslocada do tema central. Distrai daquilo que é importante no filme. Ainda assim, Ryan Coogler mostra a sua qualidade como realizador, ao conseguir conectar todos os pontos com a fantástica cena pós-créditos.
O incrível uso da música em Sinners
A música é o centro do filme, é o elo de ligação entre a história, as culturas, as gerações, a vida e a morte. É fantástica a forma como Ryan Coogler utilizou o Blues, o Folk e o Country no seu filme. A forma como mostra que a música é algo que deve unir pessoas, mas que também já teve o poder de as separar.
Que é algo que ultrapassa a própria vida, que se estende ao longo de gerações. Ainda mais, uma das grandes mensagens do filme é como a música significa liberdade. No caso, a liberdade dos gémeos fugirem a uma vida antiga, de Sammy escapar de uma vida sem sonhos e dos vampiros saírem do submundo para a liberdade, sendo que o seu objetivo é retirar a liberdade das suas vítimas.
Assim, o momento mais marcante do filme é quando vemos Sammy cantar “I Lied To You”, uma música dedicada ao seu pai, que ultrapassa a barreira do tempo. De blues, a música divaga pelo rock, hip hop e outros vários estilos de música, enquanto pessoas de todas as gerações se juntam no bar dos irmãos. É um momento mágico, é puro cinema, daqueles que só faz sentido vendo e não explicando. É o epicentro da metáfora da música enquanto liberdade e o ultrapassar de uma barreira entre todos os povos, todas as cores e todas as culturas.
Ludwig Göransson volta a acertar
E se estamos a falar de música, temos de falar do fantástico Ludwig Göransson. O compositor não é nenhum desconhecido, foi responsável pelo score de “Creed”, “Tennet” e “Oppenheimmer” e vencedor de dois Óscares.
Tanto a banda sonora como o score deste filme são absolutamente fantásticos e arrepiantes. Esta será a banda sonora a bater em 2025 (será o “Challengers” deste novo ano). “Este é o score mais pessoal da minha carreira. É uma reflexão da minha jornada musical”, partilhou Ludwig Göransson numa entrevista à Variety.
“O nosso objetivo não era causar nostalgia, queríamos um efeito imediato. Por isso, a maior parte da música foi escrita e gravada durante as filmagens, com o elenco e a produção a trabalhar lado a lado connosco”, continuou o compositor.
Uma realização que faz história
A partir do momento em que o filme começa, é notório o cuidado com a cinematografia do filme. O visual é genial, é claramente estudado. E Ryan Coogler, como amante de cinema, inovou na filmagem de “Sinners”.
Assim, este é o primeiro filme de sempre gravado com uma combinação entre os formatos 65mm IMAX e Ultra Panavision 70mm, ambos em película. Em termos práticos, isto reflete-se numa grande qualidade e resolução de imagem e numa experiência imersiva. Principalmente se for visto numa sala IMAX. É, também, por isso, que se nota uma diferença entre rácios ao longo do filme.
Miles Caton é uma estrela em ascensão
Pela sua popularidade, Michael B. Jordan é apresentado como o protagonista do filme. Aliás, como os dois protagonistas, uma vez que interpreta irmãos gémeos. O seu talento é inegável e interpreta bons papéis.
As diferenças entre os irmãos são subtis, o que mostra realidade, mas são o suficiente para distinguirmos os irmãos. E a forma como os dois interagem está muito bem feita, isto mais a um nível de efeitos visuais.
Contudo, a estrela deste filme é, sem dúvida, Miles Caton. Este é o seu primeiro papel no cinema e rouba a tela, principalmente quando está a cantar, o que é totalmente o objetivo da mensagem do filme.
Apesar de ser um novato no cinema, Miles é filho da cantora gospel Timiney Figueroa e, aos 16 anos, tornou-se back vocal da famosa cantora vencedora dos Grammys, H.E.R., com quem foi em tour mundial.
Por fim, não podemos deixar de falar em Jack O’Connell. Este é um dos atores mais underrated da indústria. Fez um papel tocante em “Unbroken”, um romântico em “Lady Chatterley’s Lover” e é, agora, o vilão de “Sinners”. Assim, o ator volta a mostrar a sua versatilidade e o quanto merece papéis de destaque.
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