Sonic 3, a Crítica | Jim Carrey e Keanu Reeves são a surpresa do franchise
Num universo onde as adaptações de videojogos são geralmente tão bem recebidas como uma intoxicação alimentar, Sonic continua a desafiar todas as probabilidades.
Permitam-me começar com uma confissão: quando o primeiro filme de Sonic foi anunciado, preparei-me para mais um desastre à la Super Mario Bros de 1993. Já tínhamos visto este filme antes: Hollywood pega numa propriedade intelectual adorada, esvazia-a de tudo o que a torna especial, e entrega-nos algo tão mau que até dói. E não era para menos – a história das adaptações de videojogos para cinema é uma coleção de oportunidades perdidas e esperanças defraudadas.
Vamos ser honestos: quando foi a última vez que uma trilogia baseada em videojogos não só se manteve consistente como ainda conseguiu melhorar a cada nova entrada? Se estás a ter dificuldade em lembrar-te, não te preocupes – é porque isso nunca aconteceu. Até agora.
Shadow e a maturidade inesperada
O elemento mais surpreendente de Sonic 3 é a forma como abraça a complexidade narrativa através da introdução de Shadow the Hedgehog. Keanu Reeves, num golpe de casting de génio, traz uma gravitas inesperada ao papel. A sua interpretação morbidamente sincera transforma o que podia ter sido apenas mais uma personagem edgy numa presença verdadeiramente memorável.
O realizador Jeff Fowler, que há quase 20 anos trabalhou no controverso jogo “Shadow the Hedgehog“, parece estar num momento de redenção pessoal. Cada cena com Shadow respira um cuidado cinematográfico que quase parece não encaixar num franchise que começou com piadas sobre “Donut Lord”. É como se Fowler estivesse finalmente a realizar o filme que sempre quis fazer sobre esta personagem incompreendida.
O equilíbrio entre duas realidades
O mais notável em Sonic 3 é como consegue equilibrar dois mundos distintos num só filme. Por um lado, temos os momentos familiares e brincalhões que caracterizaram os filmes anteriores – sim, ainda há danças, referências pop e piadas para miúdos. Por outro, temos sequências com Shadow que parecem saídas de um filme completamente diferente, mais maduro e cinematograficamente ambicioso.
Jim Carrey, num tour de force que o vê interpretar tanto Ivo como Gerald Robotnik, demonstra tanto o melhor como o ocasionalmente problemático deste equilíbrio. O seu duplo papel oferece momentos de genuína comédia, mas por vezes ameaça desequilibrar o tom mais sério que o filme tenta estabelecer nas suas partes mais dramáticas.
Detalhes que fazem a diferença
Um dos aspectos mais surpreendentes de Sonic 3 é a forma como trata o material de origem com um respeito quase religioso. As referências aos jogos, particularmente a “Sonic Adventure 2“, não são meros piscar de olhos aos fãs – são elementos fundamentais da narrativa. O Chao Garden transformado num restaurante temático é um exemplo brilhante de como adaptar elementos dos jogos de forma criativa e divertida sem sacrificar a sua essência.
A decisão de manter Colleen O’Shaughnessey como a voz de Tails, mesmo num mar de casting de celebridades, demonstra um respeito pelo legado da série que é raro em Hollywood. É um pequeno detalhe que diz muito sobre as prioridades da produção.
Quando o filme tropeça nos próprios pés
Nem tudo são anéis dourados, claro. Há momentos em que o filme parece perder-se na sua própria ambição. A personagem de Krysten Ritter sofre de um desenvolvimento irregular que sugere cenas importantes deixadas na sala de edição. Algumas sequências de ação caem na armadilha de tentar replicar o que os estúdios acham que são videojogos, resultando em momentos que parecem mais uma paródia do que uma homenagem.
A edição por vezes abrupta sugere um conflito interno sobre que tipo de filme Sonic 3 quer ser – um drama familiar maduro ou uma comédia infantil energética. É como se tivéssemos dois filmes a competir pelo mesmo tempo de ecrã, e nem sempre a transição entre eles é suave.
O triunfo do conjunto
Apesar das suas imperfeições, Sonic 3 consegue algo notável: eleva um franchise que já era surpreendentemente bom a novos patamares. Assim, o filme prova que é possível fazer uma adaptação de videojogos que respeite tanto os fãs mais antigos como as novas gerações.
A presença de Shadow adiciona uma dimensão emocional que poucos teriam previsto ser possível numa franchise que começou com um ouriço azul a dançar ao som de “Speed Me Up”. É um testemunho do crescimento da série e da sua capacidade de evoluir sem perder a sua essência. Vivemos num momento único: uma trilogia de filmes baseados num videojogo que não só é competente, como melhora a cada entrada.
Trailer | Sonic 3, da Paramount
Será que finalmente ultrapassámos a “maldição dos filmes de videojogos”, ou Sonic é a exceção que confirma a regra? Partilhem nos comentários as vossas teorias sobre como este franchise conseguiu o aparentemente impossível!
Sonic 3, a crítica
Movie title: Sonic 3
Movie description: Em "Sonic 3", Sonic, Tails e Knuckles enfrentam um novo e poderoso adversário: Shadow, um ouriço misterioso com habilidades extraordinárias. Para deter esta ameaça sem precedentes, a equipa forma uma aliança inesperada, enfrentando desafios que testam a sua coragem e amizade.
Date published: 20 de December de 2024
Country: EUA
Duration: 109'
Author: Jeff Fowler
Director(s): Jeff Fowler
Actor(s): James Marsden, Ben Schwartz, Tika Sumpter, Colleen O'Shaughnessey, Idris Elba, Keanu Reeves, Jim Carrey, Lee Majdoub , Tom Butler
Genre: Ação, Aventura, Comédia
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Vítor Carvalho - 75
Conclusão
Pros
- Sonic 3 mantém o padrão de qualidade dos filmes anteriores e ainda os consegue ultrapassar;
- A introdução de Shadow the Hedgehog adiciona profundidade e maturidade à história;
- A performance sincera e impactante de Keanu Reeves como Shadow traz uma gravitas memorável ao filme;
- A atuação de Jim Carrey como Ivo e Gerald Robotnik proporciona comédia genuína e contribui para a narrativa;
- O filme prova que um franchise pode crescer e amadurecer sem abandonar o público original.
Cons