Sundance 2022 | Resurrection, em análise
“Resurrection” é um thriller psicológico excecionalmente tenso e aterrorizadoramente realista, elevado por uma masterclass de Rebecca Hall.
Até aos dias de hoje, ainda não encontrei um género que realmente não consiga apreciar. Isto não significa que adore em absoluto todos os géneros, mas claro, assim como todo o mundo, tendo a gostar mais de certos tipos de filmes. Horror é, sem dúvida, um dos meus géneros preferidos, tendo influenciado a minha vida mais do que imaginam. Portanto, não será surpreendente afirmar que o “Gritos” original se encontra naquela lista dos “all-time favorites”.
Rebecca Hall está longe de ser um nome desconhecido, mas nos últimos dois anos, a atriz emergiu e consolidou o seu lugar em Hollywood como alguém que agora convence (ainda mais) espetadores a assistir a qualquer filme que envolva a própria. À frente das câmaras (“Godzilla vs. Kong”, “The Night House”) ou, mais recentemente, atrás das mesmas (“Passing”), Hall virou os holofotes de volta para a sua carreira devido a prestações consistentemente notáveis e a uma sólida estreia na realização. Logo, “Resurrection” foi uma adição obrigatória a qualquer lista de visionamentos da edição deste ano do Sundance Film Festival – uma decisão altamente gratificante, visto que Andrew Semans (“Nancy, Please”) entrega um dos melhores filmes do festival e muito provavelmente de todo o ano.
“Resurrection” conta uma história incrivelmente tensa e perturbadora sobre o passado sombrio e chocante de uma mulher que voltou para a atormentar décadas depois. Esse trauma não resolvido traz de novo um pesadelo surreal – intensificado pelo personagem de Tim Roth, David – que deixará o público à beira dos seus assentos, vivenciando este thriller psicológico tremendamente convincente como se estivesse a acontecer na vida real. Semans mostra um ótimo controlo sobre a intensidade de cada cena. Mesmo durante o segundo ato, onde sequências de perseguição repetitivas reduzem um pouco o excelente momentum, a sensação infinita e stressante de perigo iminente continua a aumentar devido à atmosfera inquieta e assustadora – brilhantemente gerada pela cinematografia de Wyatt Garfield e uma produção sonora poderosa.
Semans explora o arquétipo de horror “não se consegue fugir ao passado” de uma maneira fascinante, mas Rebecca Hall é a razão principal pela qual “Resurrection” se encontra acima de tantos outros conteúdos semelhantes. A atriz pode ter apresentado a melhor prestação da sua carreira enquanto Margaret – uma protagonista complexa que começa simplesmente como mais uma mãe preocupada e amorosa com sucesso profissional e uma vida estável, apenas para sucumbir à loucura provocada pela manipulação psicológica pesada e profundamente perturbadora. Hall incorpora todos estes sentimentos, oferecendo uma performance transformadora e hipnotizante, demonstrando um alcance emocional insano. O seu monólogo ininterrupto, devastador e inesquecível de 10 minutos (!) será para sempre usado como “evidência número um” do seu imenso talento.
Este momento é uma das melhores sequências de “Resurrection”, mas as interações exponencialmente ameaçadoras entre Margaret e David agarram a atenção de todos os espetadores — os close-ups de Garfield tornam-se ainda mais assustadores ao longo do tempo de execução. Roth opta pela versão contida de um psicopata, que combina perfeitamente com o estilo do ator. Expressões mínimas e uma maneira monótona e séria de falar elevam profundamente a sua personalidade lunática. Grace Kaufman, a filha de Margaret, Abbie, também tem tempo de ecrã suficiente para brilhar em algumas cenas. Até aos últimos quinze minutos, Semans oferece um filme que será definitivamente apreciado e aclamado pela grande maioria do público.
No entanto, o final dividirá algumas opiniões devido às suas inúmeras interpretações possíveis. Mantendo os spoilers sãos e salvos, a melhor palavra para descrever os minutos finais de “Resurrection” é “indescritível”. À medida que a cena final se desenrola, Semans prossegue com um desenvolvimento esperado, mas depois dá mais um passo em frente, arriscando danificar o realismo aterrorizante da sua história original. Uma das hipóteses subjetivas foca-se numa conclusão agridoce e mais sombria, porém mais lógica e realista, que este crítico muito satisfeito escolhe seguir.
Além do sucesso de “Ressurection” no Festival de Cannes, Rebecca Hall é um dos nomes mais importantes da temporada de prémios, graças ao seu filme “Identidade“, nomeado para os BAFTA Awards 2022.
Sundance 2022 | Resurrection, em análise
Movie title: Resurrection
Movie description: Margaret (Rebecca Hall) leads a successful and orderly life, perfectly balancing the demands of her busy career and single parenthood to her fiercely independent daughter Abbie. But that careful balance is upended when she glimpses a man she instantly recognizes, an unwelcome shadow from her past. A short time later, she encounters him again. Before long, Margaret starts seeing David (Tim Roth) everywhere - and their meetings appear to be far from an unlucky coincidence. Battling her rising fear, Margaret must confront the monster she’s evaded for two decades who has come to conclude their unfinished business.
Date published: 23 de January de 2022
Country: EUA
Duration: 103'
Director(s): Andrew Semans
Actor(s): Rebecca Hall, Tim Roth, Grace Kaufman, Michael Esper, Angela Wong Carbone
Genre: Sci-Fi, Drama, Thriller
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Manuel São Bento - 90
CONCLUSÃO
“Resurrection” é um thriller psicológico excecionalmente tenso e aterrorizadoramente realista, profundamente elevado por uma masterclass de Rebecca Hall. A atriz torna-se uma grande candidata a prémios mesmo além do festival, oferecendo uma prestação inesquecível, hipnotizante e assombrosa de uma mãe traumatizada. Desde um monólogo incrivelmente cativante e ininterrupto de 10 minutos a interações extremamente nervosas com um Tim Roth notavelmente assustador, Andrew Semans obriga Hall a enfrentar pontos de enredo chocantes e perturbadores, assim como um desenvolvimento de personagem emocionalmente devastador. A cinematografia persistente e a produção sonora poderosamente eficaz aumentam exponencialmente os níveis de suspense e intensidade. Um final divisivo e de múltiplas interpretações pode gerar algum debate entre espetadores e uma ligeira perda de momentum durante o segundo ato pode reduzir o impacto do clímax, mas estes são problemas menores no que acabará como um dos melhores filmes do ano.