Featureflash Photo Agency / Shutterstock.com

The Beatles: Get Back | À conversa com Peter Jackson

“The Beatles: Get Back” já chegou à Disney+, uma série documental assinada por Peter Jackson que promete cenas nunca antes vistas da icónica banda. A Magazine.HD foi conhecer mais sobre a visão do aclamado cineasta.

O novo projeto de Jackson é o resultado de mais de 50 horas de outtakes (cenas cortadas) provenientes do documentário de 1970, “Let It Be.” Inicialmente planeado como uma longa-metragem, “The Beatles: Get Back” acabou por estrear no pequeno ecrã via Disney+. Esta alteração de planos deveu-se à riqueza das imagens que o aclamado cineasta descobriu, as quais passou os últimos quatro anos a restaurar e a editar. A série documental encontra-se dividida em três episódios individuais de aproximadamente duas horas.

SUBSCREVE JÁ À DISNEY+

The Beatles: Get Back” leva-nos até às sessões de gravação da icónica banda em janeiro de 1969, sessões que se vieram a tornar num momento fundamental na história da música. A mesma acompanha o processo criativo dos Beatles na escrita de 14 novas músicas, em preparação para o primeiro concerto que deram ao vivo depois de mais de dois anos. Com um prazo quase impossível em mãos, os fortes laços de amizade partilhados por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr são postos à prova.

Jackson é a única pessoa, em 50 anos, a ter acesso a este tesouro dos Beatles, que foi agora restaurado e de forma brilhante. O resultado é um retrato incrivelmente íntimo, mostrando como, mesmo com vários limites a restringi-los, puderam continuar a confiar na amizade que os unia, e no respetivo sentido de humor e génio criativo.

Lê Também:   Disney+ Portugal | Um dezembro de festividades

MHD: Porque é que o Peter foi o homem certo para este projeto?

Peter Jackson: Pergunta terrível, terrível. Bom, eu sou verdadeiramente um fã dos Beatles. Ouvir estas conversas de 1969, que é efetivamente onde senti que estive os últimos quatro anos em trabalhei no projeto. A história é muitas vezes contada através de gravações áudio, por isso senti-me como se estivesse a ouvir algum tipo de conversas do CIA de há 52 anos atrás. E, porque sou fã, compreendo-as, compreendo as nuances e a relevância de muitas pequenas coisas que eles falam. Por isso, quem quer que fosse pegar neste material precisava de ser um fã da banda para conseguir realmente compreender e decifrar algumas das referências das conversas. Enquanto fã, mesmo quando olho para ele [“The Beatles: Get Back”] agora, como tive de olhar muito nos últimos quatro anos e acabar o filme, continuo… A minha mente ainda está desolada com o facto de que isto existe realmente.

MHD: Existem muitas histórias neste projeto. A parte de estarem a gravar o álbum, vemos a forma como cada um escreve e age individualmente…

Peter Jackson: Um dos pontos nesta história composta várias perspetivas que a diferencia do original “Let It Be” é o facto de também contarmos a história de Michael Lindsay-Hogg a tentar fazer o seu filme. No original, tal não era possível porque ele era uma presença invisível enquanto realizador. Mas, o que consegui fazer praticamente 50 anos depois é incluir Michael como uma personagem da série.

Temos muito que lhe agradecer. O Michael estava determinado a tentar capturar tanto material verdadeiro, autêntico quanto possível. Porque, obviamente, se há câmaras a apontar para eles de repente atuamos. Portanto, Michael está ciente de que, quando vira a lente para os Beatles, eles sabem que estão a ser filmados. Por isso, ele está determinado a tentar filmá-los e gravá-los o mais que possível sem que eles se apercebam. Contudo, a banda está ciente de que ele está a fazer isto, pelo que Michael procura empregar também algumas técnicas para tentar filmá-los de forma mais franca possível.

The Beatles Disney+
Ringo Starr, Paul McCartney, John Lennon e George Harrison | © Photo courtesy of Apple Corps Ltd

MHD: Teve a oportunidade de comentar este desafio com Michael, verdade?

Peter Jackson: Sim, conversei com ele sobre isso. O que por norma ele fazia era colocar uma câmara num tripé, a qual normalmente teria uma operador atrás, e assim os Beatles viam uma câmara e assumiam que estavam a ser filmados. No entanto, o que eles não sabiam era que Michael pedia ao operador que montasse o equipamento, enquadra-se tanto quanto possível a cena e depois fosse embora, deixando a máquina, que tinha um rolo de filme de 10 minutos, a filmar. Ele chegava inclusive a tapar a luz vermelha da câmara com fita adesiva. E, também escondia microfones por todo o lado na esperança de conseguir conversas autênticas.

Ainda assim, chegámos à conclusão quando o estávamos a ver as imagens, que John e George estavam bastante conscientes de que as suas conversas privadas estavam constantemente a ser gravadas. Mas não diziam nada porque estavam numa espécie de batalha contra Michael. Então, se estavam numa conversa mais privada, o que eles faziam era aumentar os seus amplificadores, e tocavam a guitarra, ficavam apenas a dedilhar, sem tocar nada, sem música. Por isso, tudo o que os microfones de Michael apanhavam era o barulho dos instrumentos, mas nas imagens era claro que os Beatles estavam a falar.

Lê Também:   Disney+ | 15 séries que não podes mesmo perder

MHD: Mas isso não foi entrave para si…

Peter Jackson: [risos] Graças à tecnologia de hoje, baseada em inteligência artificial, fomos capazes de retirar as guitarras e expor as conversas privadas que eles tinham. Por isso, muito da nossa série é composta por conversas privadas que os Bealtes tentaram disfarçar ou encobrir na altura em que Michael as estava a gravar. Foi um bocadinho atrevido da nossa parte [risos].

Temos acesso total a todas estas conversas pessoais. Mas houve esta batalha, como lhe comentei. Era um bocado contrassenso, eles estavam a pagar as filmagens. eles estavam a pagar as contas da equipa de filmagem, das câmaras e de Michael. E no entanto, estavam nesta batalha contínua com ele sobre quando as estava a filmar e quando não estava. Michael estava determinado a filmá-los de forma mais autêntica que conseguisse, e eles estavam determinados em tentar disfarçar para esconder a sua conversas. É um bocado estranho…obviamente eles queriam ser filmados porque estavam a pagar as contas. Mas, ao mesmo tempo, não queriam ser filmados. Contudo, nunca o diziam.

MHD: O que o surpreendeu mais? Porque sentimos que conhecemos estas pessoas tão bem, é como se tivéssemos perante um filme caseiro perdido de quatro irmãos incríveis que não vemos muitas vezes. Existem nuances que se veem na série que nunca se viram antes. O que é que mais o surpreendeu? O que é que lhe foi revelado sobre eles nestas imagens? 

Peter Jackson: Concordo consigo, nós sentimos que conhecemos os Beatles. Mas porque pensamos que os conhecemos? Bem, já vimos o “Hard Day’s Night” e o “Help”. Vimo-los actuar em palco. Vimo-los em entrevistas ou conferências de imprensa. Estou a referir-me apenas à década de 60, por isso quando realmente pensamos estas foram todas situações em que eles estavam a atuar. No caso de “Let It Be”, eles estavam num projeto muito ambicioso que começou a descarrilhar – e que melhor maneira existe de conhecer a personalidade e o caráter de alguém do que a forma como lidam com os problemas? E este projeto torna-se muito rapidamente um problema para eles, de formas diferentes.

Lê Também:   Disney+ | Do cinema para a plataforma

Lembro-me que quando terminei de ver pela primeira vez as cenas, sai a pensar que eles afinal eram pessoas perfeitamente normais. Eles eram rapazes normais e decentes, quer dizer eram todos diferentes é certo, mas não há duas pessoas iguais no mundo. O problema é que nós pensamos nos Beatles enquanto uma unidade. Lógico que existia todo o marketing à volta deles, existia o inteligente, o charmoso, o calado, tinham as suas etiquetas. Mas eram vistos como um grupo, e aqui vemo-los como quatro seres humanos individuais, iguais a tantos outros. Se alguma coisa, acabei por os respeitar ainda mais. Porque quando levantamos o véu e vemos o “cru”, estamos normalmente preparados para o pior. E com os Beatles isso não aconteceu, tinha-os num pódio enquanto fã ao longo de 40 anos, mas agora vejo-os simplesmente como pessoas, e sinto-me grato por isso.

The Beatles: Get Back
(esq – direita) Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e John Lennon | Photo by Linda McCartney © 2020 Apple Corps Ltd. All Rights Reserved

MHD: Quando o trailer saiu e gerou pura alegria entre os fãs (e não só), parecia que era mesmo o que o mundo precisava. Estava preparado para isso? Sempre pensou que os Beatles ainda tinham este efeito?

Peter Jackson: Bom, esperei que assim fosse, porque o era. Não precisávamos de um trailer. Quer dizer, a Disney entretanto lançou-o, mas ninguém nos pediu um. Estamos no processo de edição quando a pandemia começou, por isso o nível de stress era altíssimo. E o último ano, 2020 foi um ano terrível, horrível para todos. Eu e o meu editore fomos uns sortudos, porque pudemos passar os primeiros confinamentos com os Beatles. Por isso, perto do Natal, dissemos à Disney, à Apple [Records] e aos Beatles, ‘porque não divulgamos clips de dois ou três minutos? Sabem, só para animar as pessoas?’ Tinha sido um ano de m***, só queríamos trazer um pouco de alegria.

MHD: Então podemos dizer que foi intencional…

Peter Jackson: Sim, tentamos fazê-lo alegre e feliz, porque sentimos que as pessoas estavam a precisar disso. E quem melhor que os Beatles para nos voltar a por um sorriso na casa? Mas nunca foi verdadeiramente intencional, estava simplesmente destinado. Pensamos, “vamos simplesmente pegar num conjunto de clips dos Beatles nos quais temos estado a trabalhar ao longo dos últimos três anos e montar algo que deixe as pessoas contentes no final de um ano horrível.” E foi simplesmente isso.

MHD: Qual foi a reação do Paul, Ringo e da Yoko?

Peter Jackson: Não tive nenhuma observação. Nenhum pedido. Disseram-me, depois de verem as imagens, que tinha sido uma das mais stressantes experiências das suas vidas. Na realidade, o Paul disse-me que [Get Back] é um retrato bastante exato daquilo que eles eram na altura, daquilo que ele se lembrava. E o Ringo também, ficou satisfeito por ver a verdade. Fiquei tão contente, porque tentei mesmo ser cuidoso para não distorcer nada, procurei sempre mostrar aquilo que via. Mas depois de ver 150 horas e as ter de reduzir, esse processo poderia ter corrido mal..

TRAILER | THE BEATLES: GET BACK JÁ SE ENCONTRA DISPONÍVEL NA DISNEY+

Também és fã dos Beatles? Já espreitaste a série documental?



Também do teu Interesse:


About The Author


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *