The Residence, em análise | Cluedo inspira a nova série da Netflix
A mais recente série da Netflix, “The Residence”, é um projeto bem divertido que nos obriga a ficar colados ao ecrã ao longo dos 8 episódios.
Se em “The Crown” ficamos a conhecer os recantos mais desconhecidos do Palácio de Buckingham, na nova série da Netflix, “The Residence”, temos direito a uma visita guiada aos 132 cómodos que compõe a Casa Branca, onde vive o Presidente dos Estados Unidos. Além disso, os oito episódios apresentam-nos cada uma das profissões que podemos encontrar na sede do poder executivo do segundo país da América.
Resumidamente, o ponto de partida de “The Residence” dá-se com a morte do Chefe do Pessoal da Casa Branca, A. B. Wynter (interpretado por Giancarlo Esposito) durante um Jantar de Estado com a Austrália. Após isso, a consultora da Polícia, Cordelia Cupp (interpretada por Uzo Aduba), é chamada ao local do crime para encontrar o assassino.
É esta a premissa da nova minissérie da Netflix, criada por Paul William Davies. No entanto, trata-se de um projeto bastante divertido e leve que envolve o espectador desde o primeiro episódio. Além disso, a cada momento é nos desvendado um novo suspeito, entre os 157 funcionários da Casa Branca, fazendo o público questionar sobre a entidade do verdadeiro assassino.
Estamos assim perante um jogo de Cluedo em que uma das personagens é assassinada durante um jantar e o assassino pode ser qualquer um dos presentes na sala. Contudo, o que torna a série verdadeiramente apelativa é a forma inovadora como Cordelia Cupp se propõe a resolver o caso, permitindo ao espectador questionar tudo o que observa enquanto tenta montar um puzzle com a informação que recebe.
Os movimentos da câmara são genuinamente alucinantes
Mal pressionamos ‘play’ para iniciar o primeiro episódio de “The Residence” mergulhamos instantaneamente no interior da Casa Branca. No entanto, este mergulho é feito de forma alucinante. Nesse instante, ouvem-se apenas os gritos provenientes da personagem interpretada por Jane Curtin (atriz de “Amadrinhadas“), tendo como fundo apenas o som do piano. Ao mesmo tempo, a câmara movimenta-se freneticamente pelos vários cómodos da Residência Oficial do Presidente dos Estados Unidos, deixando o espectador totalmente agarrado ao ecrã.
Mas não é só nos momentos inicias que o movimento da câmara nos prende a atenção. Já no segundo episódio, somos convidados a seguir a cena através do voo de um falcão, aumentando o ritmo com que as imagens se sucedem no ecrã. Assim, o efeito produzido no espectador é, sem dúvida, o aumento da ansiedade, o que combina perfeitamente com a temática de “The Residence”.
“The Residence” conta com um elenco escolhido à medida de cada personagem
Sem dúvida alguma, “The Residence” tem um elenco (muito bem) escolhido à medida de cada personagem. Para começar, como é óbvio, não podemos ignorar o papel desempenhado por Uzo Aduba. A atriz de “Orange is the New Black” está sublime na personagem de Cordelia Cupp. Trata-se de um papel divertido e bastante irónico que nos convence a ver cada episódio até ao final.
Além disso, a genialidade de Cupp mostra-nos a eficiência da mulher em oposição ao método masculino. Se por um lado temos um grupo de homens que assumem que A. B. Wynter se terá suicidado apenas porque encontram provas óbvias que apontam nesse sentido, por outro lado temos a serena Cordelia que não se deixa abater pela pressão. Sem fazer questões e sem considerar ninguém suspeito quando todos têm algo que os pode condenar, a personagem faz uso dos silêncios, dos detalhes e até mesmo dos piscares de olhos para encontrar todas as peças que ajudam a resolver o mistério.
Mas, não é só a personagem de Uzo Aduba que se encaixa perfeitamente nesta história. Ken Marino, por exemplo, que dá vida a Harry Hollinger, o conselheiro do Presidente dos Estados Unidos, apresenta-se como uma personagem acelerada que contrasta com a calmaria de Cordelia. Ao mesmo tempo, Randall Park, que atua como o Agente do FBI Edwin Park, mostra ser alguém que quer intervir e que quer questionar os métodos de Cupp, mas que acaba por aprender com esta. Em suma, numa série onde todos parecem suspeitos, os atores selecionados para o elenco cumprem a sua função, fazendo-nos questionar quem será o verdadeiro assassino, algo que só nos é revelado no final do último episódio.
Uma sentida homenagem a Andre Braugher
Quando os primeiros episódios de “The Residence” começaram a ser filmados, Andre Braugher dava vida a A. B. Wynter, a personagem que é encontrada morta na série da Netflix. No entanto, o ator conhecido por participar em projetos como “Brooklyn Nine-Nine” e “The Mist – Nevoeiro Misterioso” viria a falecer em dezembro de 2023, perdendo a luta contra um cancro do pulmão.
Andre Braugher chegou a gravar quatro dos episódios de “The Residence”. No entanto, a produção viu-se obrigada a substituir o ator por Giancarlo Esposito, que teve de regravar todas as cenas do ex-colega. Em várias entrevistas, Esposito, que participou em “Better Call Saul“, revelou o quão difícil foi substituir o amigo no papel de A. B. Wynter.
Além disso, no final do último episódio de “The Residence” surge uma mensagem ‘em memória de Andre Braugher’. Mas, a mais sentida homenagem surge ainda antes desse momento. Numa das cenas finais, a personagem de Uzo Aduba pega numa fotografia de A. B. Wynter e descreve o quão boa pessoa ele era, mostrando o seu lado mais humanitário. No final, o espectador percebe que as palavras eram referentes a Braugher, mostrando a verdadeira emoção na cara dos atores que perderam um amigo.
Já assististe à série “The Residence”? Gostaste do final da série? O que pensas do desempenho dos atores?
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Jéssica Rodrigues