Top MHD | Os filmes de Christopher Nolan
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Consensos não moram aqui, ou este não fosse (apenas) mais um top da Magazine.HD:
Na semana de estreia de “Interstellar“, porventura o trabalho mais ousado da carreira do visionário Christopher Nolan, fizemos uma retrospetiva da obra do realizador. Revisitamos as suas oito longas-metragens (excluindo, à partida, a sua última) e impusemos-lhes ordem: do pior para o melhor.
Top MHD | Os filmes de Christopher Nolan
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Nota: Para a elaboração deste TOP foram inquiridas 7 pessoas com o objetivo de ordenar por ordem de preferência as 8 longas-metragens de Christopher Nolan (de 1=melhor a 8=pior). A regra para a elaboração do ranking final divergiu dos procedimentos seguidos para a concretização do top dos filmes de David Fincher. Como nem todos os membros votantes viram todos os filmes de Christopher Nolan, e para que alguns filmes não ficassem prejudicados com esse facto, foi feita uma média aritmética dos votos. Os resultados são apresentados pela ordem decrescente dessa média.
#8 – Insomnia / Insomnia (2002)
A seguir a “Memento”, havia quem estivesse à espera da mais intrincada e ambiciosa experiência cerebral. “Insomnia” nunca o foi, mas também nunca o prometeu ser.
O seu primeiro filme de estúdio (depois de dois com um baixo orçamento – “Memento” e “Following”), que conceptualmente parece ser o que mais se distancia do padrão artístico de Nolan, viria a ser a confirmação da competência do realizador, a prova de que “Memento” não era uma obra do acaso. Muitas vezes é tratado como o menos ousado e o mais “normal” filme de Nolan porque relata um crime misterioso que afinal não é assim tão misterioso, e onde não existe o célebre twist final que faça revirar o sentido dos acontecimentos, mas “Insomnia” é mais importante para a carreira de Nolan do que aquilo que julgamos ser. Ele cria aqui uma espécie de atmosfera-protótipo que foi aprimorando ao longo dos tempos, acrescentando-lhe nuances da sua própria maturação como cineasta-autor. Quem dera a muitos que o seu ‘pior’ filme fosse da qualidade deste.
#7 – Following / Following (1998)
A modesta estreia de Christopher Nolan atrás das câmaras aconteceu com “Following”, um neo-noir de curta duração e de baixo orçamento, quase totalmente filmado ao primeiro ou ao segundo take, com uma única câmara, usando apenas luz ambiente, com os atores disponíveis apenas aos fins de semana. Para um realizador que no futuro viria a usufruir de orçamentos de centenas de milhões de dólares pelas mãos da Warner Bros., aqui está a prova de que Nolan é também um excelente gestor de recursos, passando com destreza a barreira financeira.
“Following” é Nolan na sua mais básica essência: apresentado através de uma narrativa não linear (usada mais tarde também em “Memento”, “O Terceiro Passo” e “Batman – O Início”), abusando dos mind-games, apoiado por personagens de natureza dúbia (um deles até se chama Cobb, imagine-se!), com twist após twist até ao falecimento prematuro de milhares dos nossos neurónios. Já viram isto em qualquer lado, não já?
#6 – The Dark Knight Rises / O Cavaleiro das Trevas Renasce (2012)
Depois de duas obras manifestamente superiores ao padrão dos filmes do género, “O Cavaleiro das Trevas Renasce” teve a capacidade de criar um outro tipo de expectativa que Nolan ainda não tinha experimentado na sua carreira: a possibilidade da teoria divergir da prática. Na sua terceira incursão pelo universo negro de Batman, Nolan prometia (o hype, sempre o hype) um desfecho épico, intenso e emotivo. Prometeu e cumpriu, embora nem tudo tenha resultado tão bem como outrora.
A abordagem ao declínio e subsequente ascensão de Bruce Wayne, permitiu colocar Christian Bale sob o seu maior desafio como Batman, ao qual ele respondeu oferecendo a sua melhor interpretação. Também Anne Hathaway se exibiu em bom plano, roubando todas as cenas do filme onde surge, e Tom Hardy foi capaz de preencher com segurança o legado de Heath Ledger. No entanto, Nolan falha onde nunca o tínhamos visto a falhar: o deslumbramento leva-o a queimar alguns recursos (a batida megalómana e reciclada de Hans Zimmer é um exemplo) que são ostensivamente usados em prejuízo da narrativa, que se torna muitas vezes previsível, excessivamente negra e ambicionando ser, por diversas vezes, maior do que aquilo que realmente é. Paradoxalmente, este é o maior elogio que podemos fazer à carreira de Christopher Nolan: quando há um deslize, por mais pequeno que ele seja (“O Cavaleiro das Trevas” é, ainda assim, um filme melhor que a média habitual), a opinião pública trata dele como se fosse um terramoto. Nolan habituou-nos mal.
#5 – The Prestige / O Terceiro Passo (2006)
Christopher Nolan recria uma história de época. Dois mágicos enveredam numa luta séria e intensa pelo segredo determinante para a concretização perfeita da melhor ilusão de sempre. Os cenários vitorianos aliados a truques de magia e às competentes interpretações de Hugh Jackman (como Rupert Angier) e Christian Bale (como Alfred Borden) dotam este The Prestige de um ambiente arrematador. Também no elenco secundário as performances são sólidas. Michael Caine dota o argumento de uma dignidade cheia de experiência, Scarlett Johanssen, Rebecca Hall e Andy Serkis têm interpretações eficientes. Já David Bowie como Nikola Tesla não é fácil de assimilar, sobretudo pela disparidade física entre Bowie e Tesla, o célebre inventor e engenheiro sérvio.
A história, apesar de adaptada de um romance, é ajustada de forma perfeita às sensibilidades estéticas de Nolan. É um filme inteligente que apela à atenção constante e exige que o espectador tenha uma mente aberta. The Prestige é um filme incomum, um “passeio” original e provocador nas intricadas linhas da moral e da consciência humana. That’s why every magic trick has a third act, the hardest part, the part we call The Prestige. [texto por Sofia Santos]
#4 – Memento / Memento (2000)
Após “Following”, Nolan realizou o filme que lhe viria a conferir a massiva reputação que hoje lhe reconhecemos. O argumento era uma expansão de um conto do seu irmão, ao qual Nolan adicionou o detalhe da estrutura narrativa em reverso: um enredo contado de trás para a frente foi o ingrediente transformador de uma narrativa relativamente simples, num dos maiores brain-movies de sempre.
Christopher Nolan debruça-se sobre a fragilidade da memória humana, narrando este seu ensaio sob a perspetiva de Leonard Shelby (Guy Pearce), um personagem alienado pela sua própria existência, que está tão confuso sobre si e sobre o mundo que o rodeia como estamos nós quando vemos Nolan a espalhar as peças do puzzle, sem nunca as querer unir de forma explícita. O resultado é uma obra habilmente fragmentada, inteligente e aterrorizadora sobre a débil condição humana .
Nolan nascia para o Cinema, e o Cinema estava de braços abertos para lhe dar as boas-vindas.
#3 – Batman Begins / Batman – O Início (2005)
Na sombra da memória inabalável de Heath Ledger, permanece a origem de tudo, o real turning point da carreira de Christopher Nolan. Torna-se tão fácil recordar o seu trabalho em prol do ressurgimento de Batman através da obra mais marcante da trilogia (que será, inevitavelmente, o filme de 2008), que por vezes nos esquecemos dos primórdios. É em “Batman – O Início” que nasce o herói que não é super-herói: um herói de carne e osso, com um passado negro, dotado de uma coragem sem fim, mergulhado numa avalanche de problemas existenciais que marcariam o futuro dos filmes do género. Christian Bale mostrou-se à altura dos acontecimentos e provou a todos nós que por trás da figura impenetrável de Batman, há um Bruce Wayne à procura de um rumo. A partir de “Batman – O Início”, a Nolanização dos filmes de super-heróis foi imperativa.
A partir daqui, também, a estreia de qualquer filme de Christopher Nolan tornar-se-ia num acontecimento mediático como há muito não se via.
#2 – The Dark Knight / O Cavaleiro das Trevas (2008)
É inevitável dizê-lo: “O Cavaleiro das Trevas” pertence a Heath Ledger. Após a morte prematura do ator, o hype gerado em torno da sua prestação como Joker atingiu um nível estratosférico, mas mais tarde viria a revelar-se totalmente válido. Ledger foi lendário na sua encarnação inquietante da malvadez naquilo a que se pode apelidar de obra-prima da representação. Esta despedida, marcada por um misto de excitação desmedida e tristeza colossal, acabou por ser a melhor forma das audiências lhe darem um saudoso e triunfal último adeus.
Apesar de tudo isso, Nolan vai mais além na homenagem que faz a um enorme ator: coloca-o no seio de um blockbuster negro, complexo e inesquecível… como nunca se vira igual.
O público exigia que a Academia tivesse a coragem de o nomear para o Óscar de Melhor Filme, mas essas preces não foram concedidas. Ao invés, e como prova de reconhecimento do trabalho transcendente de Nolan, no ano seguinte foram alargadas as nomeações para o Óscar principal – de cinco, para dez nomeados, de modo a poder encaixar alguns blockbusters no corolário do que melhor se fez no ano cinematográfico. Nolan ousou desafiar a Academia, mas nunca caiu na sua graça. Coincidências? Talvez Nolan seja o real o agente do caos.
#1 – Inception / A Origem (2010)
Chegamos ao número um, aquele título para o qual faltam as palavras que lhe façam a devida justiça.
Enormes cartazes nas ruas, trailers enigmáticos, sinopses extremamente vagas… ninguém sabia exatamente aquilo que ia ver, quando decidiu sentar-se na sala de cinema, decorria o ano de 2010. Mas a confiança que o público viria a depositar no trabalho desenvolvido ao longo dos anos por Christopher Nolan, era suficiente para a expectativa ser justificadamente alta.
A maior virtude de “A Origem” é a forma como ele nos conduz para o seu interior, exigindo toda a nossa concentração e perspicácia. Nolan provou que o estado de arte do blockbuster hollywoodesco tinha a extrema necessidade de uma abordagem mais cerebral. Embora o enredo pareça sobrecarregado (houve quem precisasse de múltiplas visualizações para fundamentar uma primeira teoria), a verdade é que a “A Origem” fornece uma dose considerável de imagens deslumbrantes e, ao mesmo tempo, uma história que amarra o cérebro em nós sucessivos. Nolan reinventa o blockbuster moderno, provando que um filme ação e um argumento inteligente não são conceitos mutuamente exclusivos.
Para além de Nolan, brilham também Leonardo DiCaprio (2010 foi um grande ano para ele), Marion Cotillard (que estabelece toda a conexão emocional em contraposição com os frios jogos da mente) e Hans Zimmer (“Time” é do melhor que se fez na composição para cinema).
Falsificar a banda sonora de Hans Zimmer, para depois a reproduzir em massa, parece ser a tarefa mais apetecível na Hollywood dos dias de hoje. Mais difícil poderá ser alguém tentar simular a inteligência de Christopher Nolan. Isso talvez só em sonhos.
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Originalmente publicado em nov14