TV na Internet: Netflix vs. Amazon vs. Hulu (parte 1)
Portugal é um país que sempre viveu aquém do seu potencial e por isso mesmo sempre ficamos num estado de “atraso tecnológico” para com os grandes países industrializados. Uma exemplo disso é o atraso na chegada de alguns serviços de transmissão de conteúdo audiovisual como a Netflix, Amazon Prime Instant Video e a Hulu, especialmente tendo em conta que alguns destes já têm quase uma década de existência.
Recentemente tivemos actualizações nesta frente, com a Netflix a anunciar a sua expansão para Portugal e Espanha ainda em Outubro deste ano, e mais surpreendente, com conteúdos novos e até mesmo a possibilidade de conteúdos regionais. No entanto pouco é ainda conhecido sobre os planos dos seus principais competidores, aos quais apenas é possível aceder em regime de VPN (Virtual Private Network).
A Netflix, existe desde 1997 e começou como um competidor da Blockbuster (aluguer de DVD’s), tornando-se pioneiro em serviços de transmissão digital (streaming). A Amazon Prime nasceu em 2010 via um serviço e modelo de negócio em boa medida uma “imitação” da Netflix. Mas há algumas diferenças que iremos abordar mais tarde, especialmente no que toca à sua escolha de conteúdos. A Hulu é um caso diferente e nasceu de uma junção de grandes cadeias de televisão como a FOX e NBC Universal, que mais do que uma “substituição de televisão”, funciona como um serviço “adicional à TV” com um componente gratuito e um componente “Premium”, onde o principal objectivo é disponibilizar os conteúdos de vários canais de televisão norte-americanos depois de serem emitidos. Basicamente, a mesma funcionalidade de retroceder no tempo já disponível nos nossos operadores de cabo e IP.
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Será que a Netflix vai vingar em Portugal e no mundo? Como reagirão, a nível dos conteúdos, os provedoras de televisão por cabo e IP?
É natural pois a interrogação: “Irão os serviços de televisão via Internet substituir serviços afins de TV por cabo?”Os dados indicados (Maio, 2015) mostram a forte presença destes serviços nos Estados Unidos, com a Netflix presente em 36% das casas norte-americanas, a uma longa distância dos 13% da Amazon Instant Video e mais ainda dos 6,5% da Hulu.
Com o crescimento da tecnologia mobile/SMART TV e o declínio de subscritores de TV por cabo nos Estados Unidos, é legítimo imaginar que esse poderá ser o caso, para um futuro não muito distante. Uma das principais razões para tal evolução passa pela competição de preços, com a média das mensalidades de subscrição de pacotes TV a subir, enquanto os emergentes serviços de transmissão digital de conteúdos, especialmente séries e filmes, parecem se fixar ao nível dos 8 euros /mês. A vantagem das empresas como a Comcast, são em grande parte os seus conteúdos de desporto, que em média aumentam sempre o número de espectadores, mas mesmo isso poderá perder-se dado que a ESPN, MLB e outros, têm já um modelo independente de transmissão web dos seus conteúdos a preços muito mais “cómodos”.
Porém, em Portugal o cenário macro-económico é diferente, e como sabemos o nosso diferente nível de implantação digital, garante que empresas como a NOS, Vodafone e MEO continuem a dominar e evoluir nos seus mercados, com pacotes competitivos e ainda com espaço para passos importantes na educação da nossa população, de forma a termos uma evolução mais orgânica, incluindo digital. Por exemplo, actualmente cada uma destas empresas vende o pacote de canais TVCine & Séries a preços desde 2,5€/mês, tal como pacotes de filmes e séries no próprio Videoclube, num modelo em muitas formas idêntico aquele em que a Netflix/Amazon e Hulu trabalham. Também a nível dos direitos de transmissão de certos conteúdos originais da Netflix, poderão ocorrer discussões legais aquando da estreia do serviço de streaming em Portugal o que prova que os nossos providers não se esquecem dos seus consumidores. Há ainda que considerar a relativa baixa notoriedade da Netflix e será um longo processo, que dependerá de várias outras variáveis, até vermos estatísticas semelhantes às dos Estados Unidos, sendo admissível, no entanto, um começo interessante.
«Um dos efeitos do aparecimento de um serviço como o Netflix é que estimula os incumbentes a disponibilizar novas opções nos seus serviços de vídeo a pedido (video on demand). Em todas as geografias para onde vamos há sempre um efeito muito positivo para os consumidores, porque obriga os concorrentes a melhorar as ofertas.» –
In EXPRESSO – ENTREVISTA REED HASTINGS, CEO NETFLIX
Mas concluindo, o ponto de maior vantagem e interesse dos serviços que analisamos, e talvez o maior indicador do seu sucesso está dependente da qualidade dos seus conteúdos, especialmente exclusivos e originais. A Netflix conseguiu desenvolver alguns programas bastante aclamados como “House of Cards”, “Orange Is The New Black” e recentemente “Daredevil”, deixando a Amazon Prime com “Bosch” e a Hulu ainda há procura do seu hit natural, isto depois de perder os direitos digitais exclusivos de “Daily Show” e “Colbert Report”. Para o futuro este mercado promete levantar ondas neste metafórico oceano que é o entretenimento.
A Magazine.HD faz parte desse futuro e vai estar atenta.