Mais uma gaffe de Spike Lee e um pouquinho de cinema português | Festival de Cinema de Cannes 2025
A Selecção Oficial 2025 do 78º Festival de Cinema de Cannes, que começa a 13 de Maio, foi anunciada ontem, mas Thierry Frémaux, lembrou que iria ter complementos: à tarde Spike Lee antecipou-se a um futuro anúncio e vai estrear “Highest 2 Lowest”, mas fora da competição, como aliás era esperado. “Era uma vez em Gaza”, dos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, que foi selecionado para Un Certain Regard, é afinal uma co-produção portuguesa.
Já sabíamos que haveria mais filmes a anunciar, pela direção artística, que se juntariam à Selecção Oficial 2025, do 78º Festival de Cinema de Cannes, nos próximos dias. Aliás como tem sido habitual nas últimas edições. Mas o melhor estava para acontecer, já ontem à tarde, com mais uma valente ‘gaffe’ de Spike Lee. Talvez propositadamente Thierry Frémaux não o mencionou na conferência de imprensa de manhã, reservando-o provavelmente para um anúncio mais mediático, embora bastante esperado.
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A postagem de Spike Lee no seu Instagram, fazendo o anúncio antecipado de “Highest 2 Lowest”. ©Officialspikellee
Mais uma ‘Gaffe’ de Spike Lee
O realizador norte-americano Spike Lee antecipou-se anunciando nas redes sociais (Instagram) que o seu novo filme “Highest 2 Lowest”, um remake do policial “High and Low” (“O Céu e o Inferno” (1963), de Akira Kurosawa, estaria na Selecção Oficial 2025, mas fora de competição. Já não é a primeira vez, por uma certa ‘azelhice’ ou pura distração, que Spike Lee quebra as regras de protocolo dos festivais. Em 2021, quando foi presidente do júri do Festival de Cannes, descaiu-se no início da cerimónia, revelando praticamente ao mundo, aquilo que só deveria ser anunciado no final: que a Palma de Ouro seria atribuída a “Titane”, de Julia Ducournau, que vai estar novamente a concurso com “Alpha”.
Dedicatória a Émilie Dequenne
A Selecção Oficial 2025 do 78º Festival de Cinema de Cannes, que começa a 13 de Maio próximo, foi importa dizer e segundo a organização, dedicada à recém-falecida Émilie Dequenne (1981-2025), a actriz que ainda adolescente se estreou no cinema e impressionou no papel principal de “Rosetta”, dos Irmãos Dardenne, filme que ganhou a Palma de Ouro em 1999; e um filme que revelou um talento precoce, embora decerto modo descontinuado, infelizmente recentemente desaparecido.
Também é bom lembrar que dos 19 filmes que integram a Seleção Oficial a concurso, seis são assinados por cineastas-mulheres, mais dois que no ano passado, equilibrando mais a questão de género, uma preocupação constante do Festival de Cinema de Cannes, que este ano para presidente do júri convidou Juliette Binoche.
Uma História de Amor Sonora
No meio de uma conferência de imprensa que assistimos via Youtube esta manhã, e com tradução simultânea do inglês sobre o francês, não se falou de Spike Lee, mas passou-nos também a estreia na Competição do filme “The History of Sound”, um drama histórico e romântico escrito e realizado por Oliver Hermanus (“Mary & George”, 2024), que aliás estava também entre os potenciais selecionáveis. Este novo filme do sul-africano, que vai estar também a concurso à Palma de Ouro, é baseado num conto homónimo de Ben Shattuck, e conta a história da relação entre dois homens (Josh O’Connor e Paul Mescal) que se conhecem em 1916 e viajam juntos no verão de 1919 para gravar canções folclóricas dos seus conterrâneos na Nova Inglaterra rural.
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Os dois realizadores de “Era Uma vez em Gaza”, a co-produção portuguesa. ©Academia Portuguesa de Cinema
Um pedacinho do Cinema Português
Afinal, além de Spike Lee e Olivier Hermanus, também haverá, para já, um pouquinho de cinema português no Festival de Cinema de Cannes 2025, além da participação da actriz Isabél Zuaa, em “O Agente Secreto”, do brasileiro Kléber Mendonça Filho. “Era Uma Vez em Gaza”, realizado pelos palestinianos Arab e Tarzan Nasser (“Gaza Meu Amor”), foi selecionado para a secção Un Certain Regard, segundo um anúncio feito nas redes sociais pela Academia Portuguesa de Cinema. Trata-se de uma coprodução entre Portugal (Ukbar Filmes), França, Alemanha e Palestina, com apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual e da RTP.
Depois da produção do projeto anterior dos irmãos Nasser, “Gaza Man Amor” que foi o filme indicado pela Palestina aos Óscares de Melhor Filme Internacional, a Ukbar Filmes, de Pandora da Cunha Telles, acabou por assegurar uma participação portuguesa, neste seu novo filme “Era Uma Vez em Gaza”. Aliás, neste momento, os realizadores Arab e Tarzan Nasser estão em Portugal a finalizar o seu filme: efeitos digitais, montagem e mistura de som e correção de cor.
JVM