Veneza 74 (6) | ‘Tree Bilboards…’, Um Filme Outdoor
Foi um dia em cheio com ‘Three Billboards Outside Ebbing, Missouri’, do britânico Martin McDonagh, — o realizador de ‘Em Bruges’, — que já se destacou. Trata-se de uma comédia negra, que tem um espantoso argumento, diálogos fáceis, que ajudam a brilhar todos os actores, mas especialmente Frances McDormand. Até agora é o melhor filme da competição de Veneza 74.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, de Martin McDonagh — vencedor do Óscar de Melhor Argumento Original com Em Bruges, em 2009 — é efectivamente o filme-sensação desta Veneza 74. E depois de tanta desilusão, de tantos cochilos de cansaço, na sessão da manhã, até agora não tinha aparecido um filme tão competente e tão prazeroso de se ver como Three Billboards Outside Ebbing, Missouri. E depois, que de uma forma divertida e excitante abordasse temas tão sérios como: racismo, violência contra as mulheres, crime e vingança, entre outros.
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Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é um filme brilhante na sua combinação de spaghetti western de Sergio Leone, com os diálogos dos filmes de Quentin Tarantino e com a narrativa cheia de reviravoltas dos Irmãos Coen. As referências não podiam ser melhores. Não é por acaso que esta comédia dramática passada na pequena cidade do Missouri, sobre uma mãe inconformada com a incompetência da polícia, é protagonizado por Frances McDormand: a mulher de Joel Coen e a actriz habitual da dupla de realizadores. Mas o casting é também todo em si notável.
Neste filme dirigido por Martin McDonagh, — na mesma onda também já de um outro notável 7 Psicopatas — Francis McDormand interpreta Mildred Hayes, a mulher que nunca sorri e a dona de uma loja de lembranças, que pede justiça, e que para isso aluga o espaço de três outdoors na estrada, para lá colocar mensagens dirigidas ao chefe de polícia local, Bill Willoughby (Woody Harrelson), e ao seu adjunto Dixon (um Sam Rockwell, absolutamente fabuloso), exigindo uma solução para o estupro e a morte da sua filha, ocorrido sete meses antes.
A estratégia de Mildred em vez de funcionar, acaba por desencadear reações iradas e violentas de diversos setores da comunidade da fictícia Ebbing — que na realidade é a cidade de Sylvia na Carolina do Norte —, que vão do dentista ao padre; mas especialmente de Dixon (Sam Rockwell), um polícia racista, alcoólico e imaturo, que é assistente do Xerife. Bill debilitado com um cancro no pâncreas ultrapassa por vezes os limites da lei para defender o amigo Dixon. No entanto, a determinação e o sentimento de revolta de Mildred só encontra apoio nos poucos habitantes afro-americanos e nos imigrantes mexicanos de Ebbing que, de uma forma anónima, lhe enviam dinheiro para pagar as mensalidades dos anúncios nos outdoors.
MacDonagh fez efectivamente um filme sobre racismo em que todos os personagens são ambíguos, nem bons, nem maus, e que nem sempre tomam decisões morais ou eticamente corretas, com excepção para a personagem de Peter Dinklage — o Tyron de A Guerra dos Tronos — que parece ser o único que tem sentimentos. O filme de McDonagh e as interpretações dos actores entusiasmaram a crítica aqui em Veneza 74, que o apontam já como um dos grandes candidatos ao Leão de Ouro.
José Vieira Mendes